Sergio Moro é confrontado por advogado do hacker da Lava Jato: “O senhor interferiu na PF?”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

"Eu quero saber se a intenção dele [Sergio Moro] era influenciar a investigação [da PF]. Se ele influenciou ou tentou influenciar, isso é um crime", diz advogado

Jornal GGN – “Eu quero saber se a intenção dele [Sergio Moro] era influenciar a investigação. Se ele influenciou ou tentou influenciar, isso é um crime.”

Foi assim que o advogado Ariovaldo Moreira – que defende três “hackers” da acusação de invadir o aparelho celular de autoridades federais e possivelmente de vazar as conversas de Telegram de membros da Lava Jato ao Intercept Brasil – defendeu o teor das perguntas que precisou fazer ao ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, na quarta-feira, 8 de junho.

Em sessão virtual na 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, Moreira tentou entender por que Moro, que teve o celular pessoal, e não o funcional, hackeado, acionou a Polícia Federal para investigar o caso, em vez de ter movido uma queixa particular.

Mais: por que Moro vinha trocando figurinhas com a PF a respeito das investigações contra os hackers, sendo ele vítima e, portanto, interessado no processo?

O advogado quis saber ainda se Moro conversava com o delegado do Luiz Flávio Zampronha, que conduzia o caso. Se o ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, homem de confiança de Moro, era o intermediário entre o então ministro e a equipe de Zampronha. Quem mais abasteceu Moro com informações do inquérito? Qual o objetivo de Moro em deixar vazar sua opinião de que as mensagens deveriam ser destruídas?

Mais diretamente, Moreira perguntou se Moro “fez uso da função ou do peso do cargo que ocupava” para garantir que a investigação fosse conduzida pela PF e influenciar os trabalhos – inclusive ao ficar opinando sobre o caso publicamente.

“Eu já respondi. Eu jamais influenciei a investigação. A PF investigou de maneia independente. Não tem nenhuma pertinência essa pergunta e acho que formular acusações à vítima não é a [postura] mais correta”, rebateu Moro.

As perguntas de Moreira arrancaram queixas do representante do Ministério Público Federal: “A única coisa que a defesa está fazendo é procurar um fato político que nada tem a ver com o processo.”

O assistente de acusação, Marcelo Knopfelmacher, que entrou no processo como advogado da procuradora Thamea Danelon, da Lava Jato em São Paulo, fez coro à reclamação do MP. E, ao final da audiência, fez questão de reverenciar Moro e os procuradores de Curitiba pelo trabalho na Lava Jato.

O juiz da audiência, Ricardo Leite, chegou a pedir que Moreira não fizesse mais perguntas de teor “político” a Moro algumas vezes.

O advogado precisou se explicar de novo: “Na minha opinião, trata-se de uma prisão política [a dos hackers] e no meu entender, não caberia à PF investigar” o caso.

AS RESPOSTAS DE SERGIO MORO

Ao longo de seu depoimento, Moro agarrou-se à “questão de segurança nacional” para justificar seus atos. Disse que não é “trivial” que um ministro da Justiça, e depois o próprio presidente Jair Bolsonaro, entre outras autoridades, sejam interceptados.

Quem fez isso, segundo ele, poderia ter vazado “assuntos de Estado” à imprensa, pois Moro e Bolsonaro usaram o telefone “pessoal” para questões privadas e também para “comunicações oficiais”. No caso de Moro, o celular invadido é o mesmo que ele usava na Lava Jato. Mas a perícia teria confirmado que o hacker não conseguiu recuperar mensagens de Telegram. O que saiu sobre Moro na imprensa possivelmente foi interceptado no aparelho de Deltan Dallagnol.

Moro argumentou ainda que “ser informado das investigações era um passo natural. Mas eu nunca dirigi essas investigações, tanto que eu não sabia dos detalhes específicos e jamais daria determinações ao delegado para agir de uma forma ou de outra.”

Quando o advogado do hacker Delgatti perguntou se Moro ainda não reconhece a autenticidade das mensagens de Telegram que foram parar nas mãos do Intercept, Moro respondeu: “Bem, veja, nunca reconheci a autenticidade dessas mensagens até porque não tenho mais essas mensagens em meu aparelho. Então sequer pude fazer essa confrontação. De todo modo, acho que sobre essas mensagens obtidas ilicitamente, é impróprio que eu tenha que responder perguntas sobre elas.”

São acusados nesse processo Walter Delgatti Neto, o ‘Vermelho’, Gustavo Henrique Elias dos Santos, Thiago Eliezer Martins, Danilo Marques, Suelen Priscila de Oliveira e Luiz Henrique Molição. O advogado que confrontou Sergio Moro defende Delgatti, Gustavo e Suelen.

Confira a audiência abaixo:

 

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Diz Moro: “Então sequer pude fazer essa confrontação.” – Pois então ele não nega eventual- ainda que eventualmente-, a existência das mensagens e o teor delas. E se é crime interceptar o telefone de uma “autoridade”, como ele próprio afirma, por que não foi crime a gravação ilegal que o próprio Moro fez da Presidenta Dilma? Por que não respondeu ou não responde ainda por esse ato delituoso? De concreto mesmo, é que o cara nunca se explica de modo convincente!!! E tudo vai ficando no ar!! Esse sujeito tem um caráter no mínimo, duvidoso!!! E ainda quer ser presidente da república!!! Se é que não será eleito, principalmente por esse classe média de caráter igualmente duvidoso.

    1. “por que não foi crime a gravação ilegal que o próprio Moro fez da Presidenta Dilma? Por que não respondeu ou não responde ainda por esse ato delituoso?”.
      Mas Sergio Moro já respondeu sobre isso na época. Ele disse que a gravação da conversa da então presidente Dilma com o ex-presidente Lula não foi ilegal, porque o telefone grampeado foi o do ex-presidente. Teria sido ilegal se o grampo fosse no telefone da então presidente Dilma.

    1. Ao ler a resposta do Moro me veio a mesma coisa. Se ninguém reconhece as conversas, como afirmar que invadiu? Um advogado, pelamordedeus.

      1. Ele não reconhece a autenticidade, ou seja, não reconhece se as conversas divulgadas são 100% verdadeiras. A invasão ocorreu, porque toda a história da obtenção das conversas até a divulgação delas pelo Intercept evidenciam que houve invasão, além do que a perícia comprovou que houve invasão. Uma coisa é a invasão, outra coisa é autenticidade das conversas divulgadas. As conversas originais podem ter sido adulteradas e divulgadas ao público. É essa a questão da autenticidade.

  2. Não é “trivial” que um ministro da Justiça, e depois o próprio presidente Jair Bolsonaro, entre outras autoridades, sejam interceptados?

    Então porque esse rato interceptou a Dilma Rousseff?

  3. Porque a grande mídia que fez espetáculo
    Quando ésse verme grampeou a ex presidenta Dilma. Não deu espaço a esses fatos na mesma proporção agindo
    Como comparsa desse pilantra !!!

  4. Os comentários refletem muita desinformação. O então juiz Sergio Moro não agiu ilegalmente quando divulgou a conversa do Lula com a Dilma, porque o telefone grampeado foi o do Lula e não o da então presidente Dilma.
    Não reconhecer a autenticidade das conversas entre Moro e Deltan, divulgadas pelo Intercept, não invalida o reconhecimento da invasão. Houve invasão, porque a própria história do caso comprova a invasão e a perícia comprovou que houve invasão. A autenticidade das conversas entre Moro e Deltan é a comparação do que foi divulgado com o que está armazenado nos aparelhos celular. Reconhecer autenticidade e invasão são coisas bem diferentes.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador