Serra e sua realidade paralela

Extraido do Blog DIARIO DE BORDO ( http://www.cinemaemcena.com.br/pv/BlogPablo/post/2010/07/04/Serra-e-sua-realidade-paralela.aspx )

 

Serra e sua realidade paralela

by Pablo 4. julho 2010 10:42

A história é simples, mas reveladora: temendo o palanque que Osmar Dias poderia oferecer ao PT no Paraná, caso decidisse sair candidato a governador, José Serra e o PSDB tomaram uma decisão arriscada e anunciaram o irmão do sujeito, Álvaro Dias, como vice de sua chapa. Esqueceram apenas de consultar o aliado PFL-Arena (não basta mudar de nome para DEM para apagar o passado vergonhoso) que, naturalmente, não gostou nada de ficar de fora da composição principal da candidatura.
 
Instalou-se o caos na campanha: Roberto Jefferson, sempre buscando os holofotes, não só anunciou o nome de Álvaro Dias como ainda chamou o PFL-Arena de “merda” no twitter (apagando o comentário posteriormente). Caciques do partido anunciaram a intenção de romper a aliança antiga com o PSDB, tomando de Serra seus preciosos minutos na televisão durante a propaganda eleitoral. FHC, que se encontrava no exterior, voltou correndo ao Brasil para tentar apagar o incêndio. Álvaro Dias anunciou que abandonaria a candidatura caso isso fosse necessário para acalmar o PFL-Arena, mas, no dia seguinte, voltou atrás e disse que o PSDB havia ordenado que se mantivesse filme: “Não sai o DEM e nem saio eu“, afirmou então. A declaração piorou tudo, irritando os chefes do PFL-Arena que imediatamente declararam que Dias não podia falar pelo partido.
 
E aparentemente, tampouco podia falar por si mesmo, já que acabou saindo. Cansado de esperar a definição da situação, Osmar Dias anunciou que seria mesmo candidato a governador, que daria palanque a Dilma no Paraná e, com isso, o principal motivo de manter seu irmão como vice-presidente deixou de existir.
 
Hora de arrumar um candidato a vice saído do PFL-Arena e apaziguar a situação. Entra o deputado federal Índio da Costa, anunciado subitamente como novo vice de Serra. Sujeito desconhecido no cenário nacional, é apresentado pelo PSDB-PFL/Arena como relator do projeto Ficha Limpa, o que poderia trazer-lhe a visibilidade necessária.
 
Desta vez, a surpresa veio do próprio PSDB: uma vereadora do próprio partido rechaçou a escolha de Índio e lembrou que ele próprio havia se envolvido num escândalo grave envolvendo  a licitação de merendas escolares no Rio, o que resultou numa CPI cujo relatório era pouquíssimo favorável ao político do PFL/Arena (o site da vereadora traz, ainda,  um post de 2007 no qual ela expõe outros problemas do sujeito, incluindo o fato de ele ser um dos deputados mais faltosos do país (o quarto), tendo faltado a quase 30% das sessões). Como se não bastasse, um dos projetos mais “importantes” apresentados por da Costa ao longo de sua carreira foi uma lei que tornaria a esmola ilegal – sim, você leu certo: ele tentou criar uma lei que puniria qualquer um que desse esmola.
 
No entanto, o mais grave de toda esta história reside num detalhe curioso: Serra escolheu, para vice, um sujeito que mal conhecia, tendo se encontrado com Índio em apenas uma ocasião, durante 15 minutos, durante o jogo Brasil x Coréia do Norte. Com isso, Índio se tornou a Sarah Palin brasileira: um político desconhecido, inexpressivo e com currículo inexistente que, da noite para o dia, conquistou a possibilidade de ocupar um cargo que o deixa a um ataque cardíaco de se tornar presidente da nação.
 
Mas onde está a “realidade paralela” que citei no título deste post? Simples: depois de toda essa confusão que descrevi acima, José Serra teve a coragem de declarar ontem que a decisão de escolher Índio da Costa como vice foi inteiramente sua e que “não houve pressão” por parte do PFL/Arena. “Eu poderia ter escolhido [um candidato] do PSDB ou do DEM”, afirmou.
 
Inacreditável. (Mesmo.)
 
Não satisfeito, Serra ainda resolveu justificar por que escolheu Índio da Costa para se tornar o novo presidente do Brasil caso qualquer problema de saúde o acometa: “(…) tinha um rapaz do qual eu particularmente gostava”.
 
Grande argumento. Em primeiro lugar, porque o tal rapaz do qual ele “particularmente gostava” era um sujeito que ele mal conhecia. E em segundo, porque este “argumento” não seria aceito nem para justificar a contratação de um executivo de empresa; muito menos, então, para selecionar alguém para potencialmente se tornar o novo ocupante do cargo máximo do poder executivo do país.
 
Estamos mesmo cada vez mais próximos da forma norte-americana de se fazer política: já temos nossa Fox(lha) e agora ganhamos nosso McCain (Serra) e, claro, nossa própria Sarah Palin.
 

Quero até ver como os defensores de Serra justificarão os fatos narrados neste post. Será divertido.

 

Redação

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