Simplício e Angeline propõem movimento nacional do jurômetro

             Simplício e Angeline aproveitaram que estavam no Rio para ver algumas manifestações de rua. Era o que restava das grandes mobilizações de junho. Elas não eram mais contra o Governo federal, mas contra o governador Cabral, os vereadores e a CPI fajuta dos ônibus. Os dois combinaram que iriam procurar as redes sociais e as centrais sindicais para iniciarem um movimento de criação do jurômetro a fim de se contrapor ao impostômetro da Fiesp e da Federação do Comércio.

                — Por quê jurômetro? — havia perguntado inocentemente Angeline no vôo.
 

                — É a medida do juro que o Governo paga por segundo, minuto, hora, dia, mês e ano aos capitalistas financeiros, isto é, aos especuladores com títulos públicos, que nada fazem além de ganhar dinheiro público sem produzir um alfinete.

                — E o que nós temos com isso?

                Orgulhoso por já estar em condições de dar aula de economia política, Simplício explicou que os juros e amortizações da dívida, neste ano, representam mais de 61% do orçamento público federal, ou um trilhão 190 bilhões de reais, sugando recursos que poderiam ir para a saúde (pouco mais de 3,5% do orçamento) e educação (2,7%), por exemplo.

                — E daí? — insistiu Angeline.

                — Daí que, sem a mínima reclamação com os juros, Fiesp e Federação do Comércio de São Paulo criaram o impostômetro, para medir o que se paga no Brasil de imposto por dia. Se fosse para valorizar a vigilância da cidadania sobre os impostos, tudo bem. Mas a intenção oculta é dizer que temos os piores serviços públicos no mundo, pelo que os impostos deveriam ser reduzidos para se nivelarem com eles. É uma embromação. Ninguém está falando em melhorar os serviços com mais impostos, o que seria mais lógico.

                — Ainda assim não vejo o que jurômetro tem a ver com isso — insistiu Angeline.

                — Se o impostômetro é para revoltar a sociedade com a carga de impostos— disse Simplício já perdendo a paciência — que se revoltem com a carga de juros paga pelo Estado e medida pelo jurômetro. É dinheiro da sociedade também, literalmente fraudado.

                Angeline deu-se por satisfeita. Saiu do hotel e foi dar uma volta por Copacabana, num roteiro comum de turista nordestino, enquanto Simplício foi para a Cinelândia. Por extrema coincidência, ela encontrou no calçadão seu velho amigo Nivaldo, que não tinha o menor interesse em economia política. Conversaram durante horas sobre trivialidades. À noite, Nivaldo a levou para o hotel. Por volta de 11 da noite Simplício bateu na porta:

                — A Câmara Municipal está ocupada, Angeline.

                — Eu também — ela respondeu.

                Depois de dar uma volta de mais de duas horas pelas ruas da Lapa, Simplício voltou para o hotel, cansado, decidido a dormir. Na agenda vermelha, escreveu: “A dona é mobile. Mas é preciso sugerir à CUT, à Nova Central e à Força Sindical que se unam para construir o jurômetro, pois isso vai enfurecer o povo contra os reais vampiros da economia brasileira”.

Redação

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