Simplício ouve as provas de que julgamento do mensalão foi farsa

Simplício tinha apostado com Angeline que a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal acabaria por dar aos condenados no processo do chamado mensalão uma nova oportunidade de julgamento, desta vez sem a descarada pressão da mídia pela condenação. O professor Daniel pensava do mesmo jeito. Como historiador, sabia que ninguém pode enganar todo mundo durante todo o tempo, e isso incluía ministros do STF.

                — Você acha que o relator Joaquim Barbosa, principal artífice da condenação, enganou a opinião pública?, perguntou Angeline.

                — Claro, aquela peça acusatória foi uma farsa.

                — Como assim?

                — Primeiro, não houve dinheiro público envolvido.

                — Ah, não é verdade, disse Simplício. E os quase 200 milhões da Visanet?

                — A Visanet, explicou Daniel, é uma empresa privada. O dinheiro que movimentou foi para fazer publicidade, conforme vasta documentação de serviços que está no processo.

                — Então houve corrupção ativa.

                — Corrupção para quê? Quem comprava o quê de quem?

                — Comprava votos em decisões de interesse do Governo ou do PT na Câmara.

                — Onde está provado isso? Fizeram uma correlação imbecil entre alguns pagamentos de restos de campanha e votações, mas totalmente inconsistentes. Aliás, disseram que a direção do PT comprou votos de deputados do PT: alguém pode acreditar nessa idiotice?

                — Então, professor Daniel, o senhor está dizendo que não houve nem corrupção ativa nem corrupção passiva. Em outras palavras, não pode ter havido formação de quadrilha.

                — Claro que não. Tudo foi uma farsa. E ainda, para condenar Dirceu, foram buscar na Alemanha a figura jurídica do domínio funcional do fato, isto é, que Dirceu, por ser ministro, mandava no PT, e como mandante do PT fez os crimes atribuídos ao PT.

                — Mas ele mandava mesmo, provocou Angeline.

                — Está bem que tivesse uma influência grande nas decisões do PT. Acontece que crime é pessoal, e não funcional. O grande jornalista Jânio de Freitas e os dois Nassif, Maria Inês e Luís, resgataram uma entrevista na Folha com o jurista alemão que  inventou o tal domínio do fato e ele se disse estarrecido com a forma como esse princípio estava sendo aplicado no mensalão, já que a aplicação do princípio não dispensava a prova pessoal do crime.

                — Então, argumentou Simplício, por que a maioria da opinião pública tomou tanta raiva dos chamados mensaleiros se eles, no fundo, eram inocentes?

                — A meu juízo, por três razões: primeiro, pela obstinação da mídia de direita de fulminar o PT; segundo, por incompetência dos seus advogados; terceiro, por um motivo mais óbvio: ninguém, por mais inocente que seja, será visto como honesto pela opinião pública se diariamente,  durante quatro meses, nas telas da TV do Supremo e com direito a replicação em todas as TVs abertas, um ministro de suposta credibilidade martelar aos quatro cantos que cidadãos que estiveram nos mais altos escalões do governo e do partido são quadrilheiros, bandidos, ladrões, e que estamos diante do maior escândalo na história da República.

                — Isso só pode falar quem não leu os livros sobre escândalos financeiros do jornalista Assis, comentou Daniel. Aliás, a farsa nesse caso começou no nome: não há nenhuma prova de pagamentos mensais, portanto, não é o caso de se chamar mensalão. Era, sim, acerto pelo caixa dois de despesas de campanha. Algo irregular, sim. Mas não é crime pela legislação.

                Simplício abriu a agenda vermelha e escreveu: “A voz do povo é a voz de Deus quando não tem a mídia de direita por perto.”

Redação

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