Uma das coisas mais interessantes sobre a internet é a contradição entre a natureza democrática do meio e o autoritarismo de muitos que o utilizam. Há algum tempo publiquei aqui mesmo o resultado de minhas observações acerca do anonimato e dos militantes de extrema direita na internet
Para falar a verdade há anos venho utilizando os trolls de direita como ratos no meu laboratório de análise do comportamento virtual. Em homenagem a eles já produzi alguns estudos pseudocientíficos bastante interessantes:
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2012/01/502372.shtml
http://correiodobrasil.com.br/noticias/brasil/trolagem-no-cmi-uma-abordagem-lacaniana/352996/
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2012/02/504291.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2012/03/505450.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2012/04/506061.shtml
Hoje é dia 13 de janeiro. 13 é o número do PT. Em razão disto resolvi fazer uma pequena experiência ontem á noite para relatar e avaliar o resultado aqui.
Visitei o Facebook do ex-senador Suplicy (um petista histórico) e postei lá uma crítica plausível a um comentário dele:
O resultado foi uma enxurrada de ofensas:
oi vc é mongol assim msm ou fez SENAI
Pai, perdoai os incoerentes, radicais e desajustados pois, na maioria das vezes lhes falta equilibrio para se expressar.
É fácil identificar um coxinha, quando o bicho pega eles generalizam e posam de arautos da moralidade.
Na verdade, o cidadão queria arrumar um pretexto para criticar o Suplicy. E acabou fazendo a postagem mais surrealista dos últimos tempos.
Falta do que fazer é fogo, falar bosta não dá e logo doEduardo Suplicy??? Acorda cara, falou bosta demais, o brasileiro ganhou e vc queria que ele recusasse??? É muita imbecilidade, se vc ainda falasse dos famosos, ainda vai lá!!!
Afff que cara mala
Por isso a esquerda virou uma piada, cria bitolados imbecis como este infeliz,que além de tudo é hipócrita.
Uma sugestão, senhor Fábio. Procure um manicômio e se interne.
Fabio De Oliveira Ribeiro Corrupto e entreguista é quem ficou no lugar dele.
Cala a tua boca. Você ta bêbado. Seu louco
Ao longo da conversa amistosa, tentei argumentar de maneira racional não sem distribuir algumas alfinetadas nos meus interlocutores:
Os servos do Suplicy não admitem nada além de aplausos para seu suserano. É assim que um político se torna condescendente e, no momento seguinte, corrupto e desligado dos interesses da população que diz representar. Vocês são todos maquiavélicos, mas não conseguiram entender bem o que Maquiavel falou sobre o perigo que a adulação representa para o Príncipe. Aduladores da pior espécie aplaudem qualquer coisa que Suplicy diga ou faça. Tome cuidado com sua platéia ex-senador. São eles o levam à perdição, não eu. Ha, ha, ha…
Ha, ha, ha… não sei se tenho mais pena do servo adulador ou do suserano adulado. Um não vê nada além da sujeição. O outro corre o risco de ficar cego por causa da adulação.
Todo adulador é um canalha, pois pretende conseguir com elogios o que não conseguiria por mérito. O adulado também se transforma num canalha quando se deixa seduzir pela adulação e passa a distribuir favores sem levar em consideração a justiça (que exige distanciamento e discernimento para reconhecer defeitos nos aduladores e virtudes nos críticos).
De todos os comentaristas apenas um foi respeitoso:
Boa reflexão Fabio!
O perfil dele no Facebook, contudo, revela tratar-se de um militante de extrema direita. Ele se refere a Dilma como ex-presidente e afirma que ela não é capaz de fazer uma frase com sentido:
No final dei fiz uma provocação pessoal utilizando uma modalidade de discurso típica dos militantes de extrema direita:
Beto Nepomuceno é um típico coxinha da esquerda retrô. Autoritário como um militar, mas sem colhões para invadir um Quartel à bala. Ha, ha, ha…
Uma das coisas mais evidentes neste episódio é a semelhança entre os ataques pessoais feitos pelos defensores de Suplicy e aqueles que eu recebi no passado dos militantes de extrema direita. Os trolls de esquerda e de direita são agressivos e procuram desqualificar o interlocutor chamando-o de bêbado, mongol, imbecil e doente mental. Como seus duplos de direita, os trolls de esquerda também fazem uma imagem caricata dos oponentes reduzindo-o a um personagem repugnante (os vocábulos “petralha” e “comunista” utilizados pelos trolls de direita equivalem ao termo “coxinha” empregado pelos trolls de esquerda).
Nos dois grupos é perceptível a incapacidade de avaliar racionalmente uma crítica ou de respeitar o direito à manifestação do oponente. Trolls de direita e de esquerda são incapazes de ver tons de cinza entre o branco e o preto. O procedimento é sempre o mesmo: o adversário é rapidamente identificado e reduzido a um tipo fixo a ser destruído mediante ataques pessoais. O mimetismo entre direita e esquerda no Facebookistão é evidente.
Os trolls de esquerda e de direita utilizam táticas semelhantes e compartilham os mesmos propósitos:
– desestimular o debate racional;
– rebaixar a auto-estima pessoal daquele que pretende induzir o debate racional;
– intimidar os defensores de qualquer tipo de posição que não seja aquela que os comentaristas presumem ser a única passível de ser aceita;
Como em outras oportunidades, meus interlocutores nem mesmo suspeitaram que estavam sendo utilizados como ratos de laboratório. A emoção despertada pela vinculação partidária aliada à possibilidade de resposta imediata (proporcionada pela internet) faz com que o troll faça comentários irrefletidos sem se questionar porque foi provocado. As adesões são igualmente irrefletidas, como demonstra o comentário do militante de direita que presumiu que sou de direita pelo simples fato de estar sendo atacado por apoiadores do líder petista.
Durante todo episódio Suplicy (ou quem gerencia o perfil dele no Facebook) não postou nenhum comentário. A conduta do ex-senador (ou do seu assessor) foi exemplar. A imagem pública do político foi preservada. Ele não interferiu na discussão, nem bloqueou os participantes.