Sobre ciência e aquecimento global

(Atualizado em 10 de março, às13h30)

Por Alexandre Costa

Caro Nassif e demais

Sou Doutor em Ciências Atmosféricas, tendo completado meu doutorado há 11 anos, conto com quase 3 dezenas de publicações em periódicos com árbitro e mais de uma centena de publicações em eventos científicos, sou pesquisador do CNPq e integrante do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).

É preciso distinguir o que é estabelecido pela ciência do clima da esfera das decisões políticas, mas o que percebo é que há um forte interesse em, para atacar determinadas opções por políticas de adaptação e mitigação (política energética, por exemplo) e/ou defender determinados interesses econômicos, tenta-se lançar uma cortina de fumaça, falsificando questões cuja solidez científica é a mesma da relatividade, da evolução ou da gravitação.

OdioO dióxido de carbono é um gás de efeito estufa de poder significativo. Isso já é conhecido desde os trabalhos de Arrhenius, no séc. XIX. Sua influência em climas planetários é facilmente verificado em Vênus (cuja atmosfera é constituída em mais de 90% por esse gás), que em função da cobertura de nuvens que reflete 70% da luz solar, recebe em sua superfície 1/12 do que recebe Mercúrio (menos radiação solar do que a Terra, na verdade) e ainda assim é bem mais quente do que o planeta mais próximo do Sol. Também é verificado por meio dos registros paleoclimáticos de nosso planeta, que mostra inequivocamente que os períodos de maior temperatura apresentaram maiores concentrações de CO2 em nossa atmosfera (na qual seu efeito é amplificado pelo chamado “feedback do vapor d’água”).

Outra mistificação que precisa ser desfeita diz respeito ao IPCC (no qual o PBMC se espelha). O mesmo tem o papel de coletar a informação existente sobre clima e impactos. Tal informação é a que existe na literatura científica que passa por um processo de revisão por pares, o que pressupõe críticas, aperfeiçoamento, verificação e, por vezes, reprodução dos resultados, para que determinado resultado seja publicado. É em artigos publicados na Science, Nature, Journal of Climate, dentre outros, que o IPCC baseia seus relatórios. É nessa literatura, produzida por cientistas de fato atuantes, que se auto-corrige e se complementa constantemente, que se pode depositar confiança; não em blogs, textos lançados de qualquer maneira na internet ou entrevistas desprovidas de fundamentação. O trabalho dos negadores da mudança climática é baseado na mais pobre pseudo-ciência e muito se assemelha ao dos defensores do “design inteligente” em seus ataques à evolução e ao dos marionetes da indústria do tabaco que por muitos anos tentaram semear dúvidas juntoà população no que tange às pesquisas que estabeleciam a ligação entre tabagismo e câncer.

Pior do que isso só a acusação feita acima sobre os financiamentos em pesquisa, argumento de quem realmente não conhece como funciona a ciência. Não se recebe recursos para pesquisa para anunciar um resultado, mas para se chegar a ele. O que acontece é que toda pesquisa séria em ciência do clima tem levado inequivocamente à constatação de que o planeta está aquecendo e que isso se deve à elevação das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera associada às atividades humanas com destaque para a queima de combustíveis fósseis. A ciência, quando se trata realmente de medir, verificar, modelar, testar, etc., ela é sempre aberta a prova e contra-prova  (vide exemplos recentes como a da bactéria com Arsênio em seus ácidos nucléicos ou o anúncio controvertido da bactéria em meteorito). Geralmente, há sempre um grande numero de colegas cientistas dispostos a provar que o que um outro colega disse não é verdade. Agora, o que se faz quando determinada hipótese é testada, retestada, etc., e todos os resultados científicos convergem? Ela deixa de ser hipótese, ganha o status de teoria e passa a ser vista como “fato” e é isso que acontece com o aquecimento global, verificado por dados instrumentais, testemunhos paleoclimáticos e estudos de modelagem.

Por Richard Jakubaszko

Caro Alexandre,

lamento informar, mas só vc e a velhinha de Taubaté é que acreditam nesta isenção científica, isolada de verbas para financiamento de pesquisas. Se vc tem 11 anos de doutorado, eu tenho mais de 40 anos de convívio, como jornalista, junto às comunidades acadêmicas e e de pesquisadores, em especial na área agrícola. Não é só no Brasil que os pesquisadores se queixam da falta de verbas, lá fora também, em todas as áreas, e mais ainda nessa questão ambiental. De outro lado, lembra dos hackers que entraram nos computadores da East Anglia, na Inglaterra, que é um braço direto do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática], e que eles baixaram mais de mil e-mails.? Alguns deles são comprometedores. Manipularam uma série para que, ao invés de mostrar um resfriamento, mostrassem um aquecimento. Converse com Luis Carlos Molion, climatologista da Univ. Federal de Alagoas (mais de 40 anos de experiência,  e é doutor  como vc e professor), representante da OMM no Brasil, pois ele não acredita que exista aquecimento, ainda diz que vai esfriar, e afirma que há manipulação dos dados, e que é impossível esse “aquecimento médio”.

Os pares? Ora, os pares, estão calados pela pressão dos ímpares imperialistas que mentem sobre o aquecimento para vender nucleares. Tomara que aqueça mesmo, que derreta o gelo no Norte, talvez surjam terras agricultáveis debaixo do gelo, pois a humanidade vai precisar comer…

Dois acréscimos ao meu comentário acima:

1º – o agrônomo Odo Primavesi, que assina comigo o artigo CO2: a unanimidade da mídia é burra, foi um dos 2.500 cientistas do mundo inteiro (e 1 entre os 17 brasileiros) convocados pelo IPCC para “provar a tese” do aquecimento, fato que ele atesta no artigo a “forçada de barra” que foi para culpar os GEE.

2º – quem convive com pesquisadores, como eu convivo, sabe das dificuldades que eles têm para obter verbas para a realização de pesquisas científicas. Pois entre 1998 e 2010 só os pesquisadores com projetos de pesquisas que “provariam” a tese do aquecimento tiveram verbas de diversas instituições internacionais. Podem perguntar a qualquer um deles, e se  algum pesquisador tinha  alguma tese para provar o contrário nada recebia de verba… Democrático, né não?

Por Alexandre Costa

Uma outra questão que é importante esclarecer, é que o episódio chamado de “Climategate” não passou de um factóide.

Primeiro, Fox News e todo o aparato da imprensa reacionária mundial reverberaram frases fora de contexto e palavras usadas num contexto informal, para semear confusão junto à opinião pública. Uma das mais grosseiras falsificações foi divulgar que os cientistas teriam usado um “truque” (“trick”) ou uma manipulação de dados. Quanta má fé! Na academia, o uso da palavra “trick” geralmente se refere ao uso de um método inteligente para atacar uma “tricky question” (questão capciosa).

Nenhuma série de dados foi manipulada e aqui é importante esclarecer do que se trata. Reconstruções paleoclimáticas são uma das ferramentas mais importantes para se investigar as mudanças climáticas, afinal, antes de meados do século XIX não havia nenhuma rede de observações mundiais, mesmo rudimentar, que possibilitasse o acompanhamento da evolução do clima. Como descobrir qual a temperatura (ou qual a precipitação) que ocorreu num período em que não havia termômetro (ou pluviômetro) para medi-la? Há várias (incluindo sedimentos marinhos, composição isotópica do gelo da Groenlândia e Antártica, etc.), sendo uma delas o crescimento de árvores. Em latitudes médias há uma correlação muito forte entre temperatura e espessura dos anéis de crescimento e esse fato foi usado para recuperar a temperatura do passado (taliás, trabalho recente, não disponível quando do quarto relatório do IPCC, mostra que o aquecimento atual não tem precedente nos ultimos 2500 anos). Essa correlação temperatura-crescimento de árvores (isto é, uma série acompanhando a outra) se preserva até poucas décadas atrás, quando as duas passaram a divergir, o que se acredita ser por influências outras do homem no crescimento das árvores (poluição, aerossóis, chuva ácida, etc.). Mas daí, vem a questão: qual a finalidade dos dados dendroclimatológicos (de árvores)? Não seria COMPLETAR a série de temperatura para o passado, quando não tínhamos termômetros? Tendo sido isto feito usando o período em que termômetros e árvores concordam, o objetivo não já fora cumprido? É manipulação de dados usar o “proxy” (isto é, a inferência indireta) até o momento em que os termômetros surgiram e a partir daí mesclar a série para deixar, no presente, somente os dados de termômetros e satélite? Eu chamaria isso de bom senso. Ou você vai acusar os supermercados de manipularem o peso dos alimentos ao usarem balanças eletrônicas e abandonarem os dinamômetros e as balanças de prato?

Alguém poderia questionar: mas se as séries divergiram agora, não teriam divergido no passado e portanto não poderia haver problemas com as séries reconstruídas? Apesar de no passado termos bem menor influência do homem sobre o ambiente, o que torna essa hipótese no mínimo improvável, admitamos que sim! A questão é que todas as outras reconstruções (de menor resolução temporal, mas menos sujeitas a outros forçantes ambientais, como  gelo, borehole, corais, etc.) acompanham a reconstrução por árvores! Não é à toa que todo estudo sério mostra claramente que: 1. Nem no chamado “período medieval quente” (mais um fenômeno regional do que global), as temperaturas globais foram altas como agora; 2. Não há aquecimento precedente em cerca de 2500 anos; 3. É preciso talvez voltar ao Holoceno médio (6000 anos atrás) para se encontrar uma temperatura parecida, num momento em que o eixo da Terra estava mais inclinado e o verão do hemisfério norte (com mais continentes) não coincidia com o periélio, como hoje e que, portanto, havia mais radiação solar disponível para aquecer as grandes placas continentais do planeta.

Um último detalhe é que mesmo que tivesse havido problemas com a série (medida, não reconstruída) da CRU-UEA, ela é apenas uma das usadas mundialmente para analisar a temperatura global (pequenas diferenças de metodologia produzem estimativas que diferem ano a ano na casa dos centésimos de grau entre HadCRU e NASA GISS, por exemplo). Detalhe: a série da CRU é a que apresenta MENOR aquecimento. Estranho, não? Teriam sido elas manipuladas para fazer com que o aquecimento global fosse aparentemente menor? Ou a questão é que os cientistas americanos (esses tolos que não percebem que poderiam estar bem melhores de vida se seguissem o obscurantismo dos republicanos e se curvassem aos desejos da Exxon, Texaco e cia.) entendem mais ainda de manipular dados que os ingleses? É muita fantasia…

Por Richard Jakubaszko

Alexandre,

vc não leu, ou fez que não entendeu algumas das minhas observações. E nem leu os artigos que apontei em meu blog, no post de ontem, reproduzido parcialmente aí em cima. Preferiu atacar e desqualificar, escondido em seu doutorado.  Pois há muitos doutores, mais longevos do que vc que desacreditam no aquecimento.  Com alguns deles interajo, de outros repito o que dizem, e alguns deles reptem o que eu tenho dito. Somos assim, nós, os pares brasileiros… Entretanto, não desmereça os blogs como não sérios, o fato de muitos comentaristas aqui no blog do Nassif às vezes saírem do foco não desmerece o que se escreve em blogs.

Posso ser jornalista, isso não me desmerece, nem me desqualifica, sou especializado em agropecuária, mais especificamente em comunicação, e tenho 3 livros publicados,  pela Univ Federal de Viçosa, com mais de 40 anos de experiência, sou apaixonado pelo tema das mudanças climáticas, que tenho estudado diuturnamente desde 2007, mas desacredito do aquecimento, por entender que tem como causa de interesses econômicos fortíssimos, conforme já citei, da indústria nuclear. Responda, então as seguintes questões:

Vejamos:

1 – O CO2 representa 0,035% da nossa atmosfera, aumentou 30% nos últimos 200 anos. É um gás pesado, quando chove, tanto o CO2 como os particulados desabam sobre os solos e o mar; se não houvesse a atmosfera morreríamos calcinados durante o dia, e congelaríamos à noite. Não venha me dizer que 0,035% de alguma coisinha assim muda o todo, muito menos algo que seja 280 ppm. A dose faz o veneno, mas não exageremos…

2 – Quem e o que emite CO2? Conforme dados científicos  são emitidos 200 bilhões de toneladas/ano de CO2 equivalente, com um viés de 20% para mais ou para menos, dada a imprecisão das medições, pois são projeções por estimativas. Tomando-se por base os 200 bilhões/t/ano , sem considerar o viés, apenas 3%, têm causa antropogênica, emitidos por automóveis, indústrias, churrascos, aquecimento caseiro no norte, queimadas no mundo inteiro etc. E 97% têm como fonte de emissão os mares (algas), florestas, vulcões, matéria orgânica em putrefação, queimadas naturais etc. Se vc concordar com esses dados vamos em frente, caso contrário paremos por aqui, pois as premissas minhas e suas irão gerar diversos conflitos nos argumentos posteriores.

3 – porque o IPCC emitiu dados de emissão com padrões “default” para cada coisa? Por exemplo, o boi americano e o europeu emitiriam 2% de metano nas suas flatulências, e, por consequência, o brasileiro teria de ser assim, segundo eles. Com o nosso rebanho do tamanho que é (200 milhões de cabeças) emitindo a 4%, e considerando que o metano deve ser multiplicado por 23 para se chegar ao CO2 equivalente,  as contas nacionais explodem, como explodiram. Não adianta a Embrapa e o Instituto de Nova Odessa medirem e informarem que o boi brasileiro criado no capim, emite 0,5% de metano, enquanto o americano é 2%, e o IPCC projeta isso para o mundo. Dane-se o Brasil, né? O boi americano é boi confinado, come ração, emite mais metano.

4 – o arroz irrigado é o tipo de lavoura mais plantado no planeta, só na Ásia temos mais de 230 milhões de hectares. Depois de drenado, para se fazer a colheita, os restos putrificados em ambiente anaeróbico, assim como nas latas de lixo, emitem metano. Mas o IPCC não considera esses dados como naturais e sim como antropogênicos. Se não fizer assim mais de 2,5 bilhões de pessoas na Ásia morrem de fome, pois o arroz é a base da alimentação.

5 – CO2 é o alimento das plantas, sem ele não haveria agricultura, pois a fotossíntese é o ciclo do carbono, certo?  Como está, mesmo que aumente a quantidade de CO2, a agricultura ajuda de forma muito pequena o sequestro do CO2. Quem mais emite (mares, florestas) é quem mais sequestra carbono, com pequeno apoio da agricultura. Esta apenas se beneficia de mais fartura de seu alimento na atmosfera.

6 – O IPCC não fala mais em aquecimento desde final de 2009, início de 2010. Reconheceu as imprecisões e a impossibilidade de prever isso com base em medições regionais. Agora fala em mudanças climáticas. Estranho, não é? Se vc perceber melhor, nenhum cientista anda falando, como vc fala, em aquecimento, falam em mudanças climáticas…

Então, por que reduzir a emissão de CO2? Por que reduzir o que não precisa ser reduzido? Pra beneficiar a indústria nuclear? Pra beneficiar o agronegócio americano? Eles perdem mercado para nós de forma vergonhosa, pois somos mais eficientes na produção de alimentos por hectare. Pois os dois lados, o agronegócio americano, mais a indústria nuclear, fazem essa propaganda toda, toda essa megalomaníaca mentira do aquecimento, para frear o agronegócio brasileiro, de um lado, e de outro tiram proveito vendendo usinas e ainda ganham um troco no mercado de carbono. Mas eles próprios não assumem nenhum compromisso de reduzir emissões. Lindo né? Lá fora ninguém dá bola pras ONGs, só no Brasil que sim, alguns cientistas, os jornais e o governo…

Não te parece curioso isso?

Teria muito mais coisas para apontar, mas estou cansado,  já passa da meia noite, pena que só descobri esse post agora, tarde da noite, esse blog teria queimado bem quente hoje, com enorme emissão de CO2… Apareça no meu blog:http://richardjakubaszko.blogspot.com

Por Morales

Alexandre Costa,

Como você deve ter percebido, a questão tem altas implicações políticas e econômicas e, me parece, os negacionistas têm tido mais habilidade – ou espaço midiático – para fazer a disputa pela consciência dos leigos. Uma deficiência da maioria dos cientistas da área de exatas e naturais, já apontada por Carl Sagan, é a timidez em discutir ciência com os leigos, de chamar a atenção ou de entrar em controvérsias, preferindo o tom desapaixonado das comunicações técnicas, o que permite aos praticantes de toda a sorte de misticismos, irracionalidades e pseudociência um amplo espaço para desinformar os leigos.

Peço de você o esforço e a paciência de responder, do ponto de vista dos defensores da hipótese do aquecimento global antropogênico, os pontos levantados, acima, por Richard Jakubaszko, bem como – não sei se em um comentário ou em um post separado – analisar os argumentos de Luiz Carlos Molion, que parece ser, no Brasil, a maior vedete do negacionismo.

Feita essa solicitação ao Alexandre Costa, com o propósito de trazer elementos para o debate, que me parece desequilibrado, no blog, com um grande número de defensores do conspiracionismo negacionista – provavelmente porque muitos são da esquerda que eu chamo de oportunista, que já renunciou à pauta da transformação radical da sociedade em favor do desenvolvimentismo nacionalista pró-capitalista assentado sobre as mesmas bases da produção para a valorização infinita do capital com as nefastas consequências que, seguramente, tem sobre a sustentabilidade do planeta, uma vez que a valorização do valor de troca capitalista, abstrato, não tem um teto e, se possível, consumiria todos os recursos do planeta -, gostaria de fazer observações em relação a pontos tocados “en passant” em outros comentários.

Primeiramente, um dos argumentos dos negacionistas insinua que o consenso da maioria dos cientistas que se debruçaram sobre o tema do aquecimento global seria uma grande conspiração de gente financiada por grandes interesses econômicos – frequentemente aventados de maneira nebulosa, sem especificações, como convém a argumentação que dificulte a contestação, mas que provoque grande impacto. Quando, raramente, especificam estes interesses, aventam a indústria nuclear. 

Pois bem, é fácil de ver que, se é aceitável a absurda hipótese de que um grande número de cientistas pudessem ser “comprados” sem nenhuma dissidência ou evidência – por exemplo, alguém que fosse abordado e que se recusasse a entrar na cabala e que ainda a denunciasse publicamente -, é mais facilmente crível que os bem maiores interesses econômicos relacionados à exploração continuada dos combustíveis fósseis altamente poluidores – petróleo e carvão -, que têm gerado guerras e invasões a nível mundial estejam “comprando” e financiando os bem menos numerosos negacionistas e as mídias que lhes dão espaço. Aliás, pela virulenta campanha que fazem, nos mesmos moldes da que a grande mídia corporativa faz contra governos progressistas ou em favor de guerras imperialistas – ou as campanhas de desinformação patrocinadas pela indústria tabagista contra as sólidas evidências do caráter cancerígeno do cigarro; ou ainda o questionamento do vinculação do HIV com a AIDS para justificar a covardia do governo da África do Sul em desafiar os grandes laboratórios e quebrar as patentes dos medicamentos antivirais -, é de se reforçar as desconfianças em relação aos propósitos dos negacionistas, não dos defensores da hipótese do aquecimento. 

Em segundo lugar, o argumento da financeirização dos créditos de carbono como evidência dos interesses econômicos pró-aquecimento é balela. O recurso aos créditos de carbono é uma tentativa de mudar o menos possível o sistema atual, defendendo os tubarões da economia do carbono, dando-lhes uma margem para continuarem lançando CO2 na atmosfera. O mercado de créditos de carbono, de fato, não tem tido impacto positivo nos níveis de emissão e tem servido como um mecanismo para bloquear medidas mais radicais e que, essas sim, por necessidade tocariam nos grandes interesses e na própria lógica do sistema, como James Hansen denunciou:

http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1401568-5603,00-FRACASSO+EM+COPENHAGUE+SERIA+MELHOR+DIZ+CIENTISTA+DA+NASA.html

http://www.timesonline.co.uk/tol/news/environment/article5257602.ece

Por último, alguém falou, em um comentário, que o conspiracionismo negacionista seria obra de “radicais marxistas”. Todo o contrário. O marxismo mais consistente tem se baseado nas evidências das mudanças climáticas para apontar os limites do capitalismo em relação à questão ambiental. Vejam, por exemplo, os camaradas ligados à revista Monthly Review:

http://monthlyreview.org/080728farley.php

http://monthlyreview.org/100901farley.php

Ou o World Socialist Web Site:

http://www.wsws.org/articles/2007/feb2007/warm-f10.shtml

http://www.wsws.org/articles/2009/dec2009/etnb-d22.shtml

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador