O sociólogo de feicebuqui

Segundo extensos estudos recentes feitos a partir da timeline deste autor, a especialidade que mais cresce neste início de século é a sociologia de Facebook. Hoje, quase 10 em cada 10 internautas, com margem de erro de dois pontos para menos ou para mais, pode acrescentar a atividade ao curriculum vitae. São expertos em analisar a organização da sociedade humana, seu funcionamento, sua relações, instituições, política, o seu próprio meio.

 

Possuem vasta literatura, até de expoentes como Jô Soares, Arnaldo Jabor, Paulo Coelho, Compadre Washington, ou obras apócrifas de renomados como Veríssimo e Cecília Meireles, em frases photoshopadas com rostos circunspectos.  A atividade acadêmica também é profícua, publicando diversas obras na timeline que chegam a ter até três linhas, gerando sofismas em ritmo de produção fordiana.

 

O traquejo para o debate crítico também é peculiar à categoria. São capazes de descontruir o interlocutor, levantando em poucos caracteres questionamentos sobre o intelecto, a honra, o passado e a mãe do adversário, reduzindo-o a rótulos incontestáveis. Tal se dá sem o desgaste de ter de adentrar a tecnicidades do argumento do opositor.  São autodeclarados vencedores de qualquer discussão, antes mesmo de começa-la. Tem no teclado a mesma segurança de condutores de veículos automotores para confecção de impropérios durante o trânsito intenso.

 

Quanto mais peremptórios e agressivos em suas produções intelectuais, mais prestigiados se tornam em seu próprio meio, tendo as obras compartilhadas pelos pares. À medida que se proliferam, o convívio virtual se torna mais anódino. Aos bárbaros sem o conforto de certezas absolutas, desprovidos de tal poder de síntese, que despendem tempo em leituras extenuantes, resta o ostracismo ou degradação pública na praça virtual.

 

P.S.: O autor é Mestrando em Sociologia de Facebook. Para obtenção do título, está pendente apenas a sintetização de trabalho em duas linhas. Aberto a colaborações.

Redação

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