Solar avança, mas futuro de suprimentos é incerto

Desenvolvimento humano em relação às energias dependerá de tecnologia e colaboração

Em três anos a energia elétrica produzida a partir do sol em usinas de distribuição será ofertada a preços competitivos, garante o presidente da DuPont América Latina, Eduardo W. Wanick.

O anúncio foi feito no encontro “A Global Collaboratory on Energy” promovido pela companhia e a BBC World News, na última terça-feira (20), em São Paulo, com o objetivo de apontar possíveis saídas para melhorar a qualidade e segurança das matrizes no mundo.

Em duas décadas a população mundial será 12% maior, enquanto o consumo de combustíveis e energia elétrica 40% superior. O período seria insuficiente para a humanidade diminuir sua dependência por petróleo, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), que estima que, em 2030, os combustíveis fósseis continuarão respondendo por 85% da matriz.

“A magnitude do crescimento populacional e dos países em desenvolvimento resultará em mais pressão sobre os recursos naturais, sem precedentes na história da humanidade”, lembrou Wanick. Ainda assim, apesar do cenário, aponta com otimismo que a saída já está sendo feita com a ajuda da ciência, tanto para produzir novos compostos e formas de obter energia, quanto para melhorar a eficiência na produção e consumo energético.

No encontro foi destacada a necessidade de colaboração entre os países. O presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA), Marcos Sawaya Jank, lembrou que apenas 20 países no mundo concentram a produção de petróleo; em contrapartida, mais de 100 países no mundo tem condições de produzir biocombustíveis.

O professor da USP José Goldemberg sitou um levantamento do Banco Mundial concluindo que o continente africano possui mais de 600 milhões de hectares de terras agricultáveis. Para se ter ideia, o Brasil consegue abastecer metade da sua frota de veículos com etanol produzido em apenas 4 milhões de hectares.

Portanto, sendo bem administrada, essa proporção é mais do que o suficiente para a produção de alimentos e de matrizes energéticas, sem um competir com o outro. A região, em especial, tem características climáticas semelhantes ao Brasil, e poderá ser uma grande distribuidora do etanol da cana-de-açúcar. “A revolução verde só precisa chegar à África”, declarou Goldemberg.

O principal empecilho para crescimento das fontes renováveis no mundo, na visão de Jank, é o subsídio dos países europeus aos combustíveis de fontes fósseis, que chega a ser cinco vezes maior do que o subsídio oferecido às energias renováveis. O professor Goldemberg, por sua vez, declarou que nos próximos anos o preço médio do barril se estabilizará a US$ 200, forçando ainda mais o aumento de investimentos em novas alternativas.

O professor não aposta na energia nuclear como uma boa proposta para atender as demandas mundiais, apesar de ser físico nuclear. “Quando eu estudava na universidade já existiam, no mundo, 400 reatores em funcionamento, com base nisso eu e alguns colegas fizemos um cálculo pelo qual estimávamos que um acidente ocorreria a cada 200 anos. Na verdade ocorreram grandes acidentes a cada 20 anos: Kyshtym, Chernobyl, e Fukushima”. Dessa forma, enxerga que a tendência é que a opção por essa matriz seja cada vez menor, em especial nos países ocidentais.

Todos os convidados concordaram que o maior indutor da mudança de matrizes não será exatamente a tecnologia, mas o mercado. A crise econômica e os conflitos na região do Oriente Médio serão, como sempre, os impulsionadores de investimentos em novas formas de se fazer energia.

No Brasil

Desde a criação do Proálcool, na década de 1970, a produtividade de etanol por hectare de cana plantado saltou de 3 mil para 7,5 mil, graças ao aumento da tecnologia e de processos inovadores. Jank explicou que o número deverá dobrar em menos de uma década, quando o setor industrial já tiver dominado a produção do etanol de segunda geração.

Hoje o etanol é feito a partir do caldo da cana, chamado, então, de primeira geração. A segunda está sendo desenvolvida a partir da palha e do bagaço, que representam dois terços da cana. Atualmente esse material é queimado em caldeiras para a produção de eletricidade. Apenas 30% das usinas têm fornos de alta pressão, capazes de produzir energia própria e venderem o excedente para as redes de transmissão elétrica.

O domínio da tecnologia de segunda geração não acabará, necessariamente, com a produção de eletricidade. O setor acredita que com a crescente mecanização das lavouras irá sobrar mais palha aproveitável tanto para fazer etanol quanto para energia elétrica. Segundo, da celulose que compõe esses dois elementos da cana é possível separar a lignina, subproduto passível de ser queimado nas caldeiras. Desse processo continuará sobrando o material fonte da segunda geração.

Jank destaca que, se 100% das usinas de etanol queimassem suas palhas e bagaços em fornos de alta pressão, seria possível uma quantidade de energia elétrica equivalente a três Belo Montes. “Hoje o setor exporta 1 mil megawatts médios para a rede elétrica, podendo exportar 14 ou 15 mil”, continuou.

A UNICA avalia que isso ainda não foi possível porque investir na troca ou implantação de caldeiras de alta pressão nas propriedades é muito caro, na ordem de R$ 100 a 200 milhões. Dessa forma o setor só irá investir se a demanda por energia elétrica valer a pena. Jank lembra que a segunda geração de etanol está concorrendo com a chama terceira geração, que é a transformação da celulose da cana em diversos produtos que vão desde cosméticos até lubrificantes.

Também destaca que a utilização da celulose para a produção de energia elétrica é totalmente adequada às condições territoriais do país. “Nos próximos anos teremos no Brasil as usinas hidrelétricas de fio d’água na Amazônia [sem reservatórios, como nos projetos antigos, a exemplo de Itaipu], energia eólica nas regiões Norte e Sul e a biomassa [da cana-de-açúcar] no Sudeste”, uma combinação perfeita, pois uma das principais vantagens da biomassa é sua oferta no meio do ano – de abril até novembro. “Exatamente no período em que os rios estão em baixa e existe o risco de apagão das hidrelétricas”, conclui.

Redação

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