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Temporão: Bolsonaro poderia ter comprado vacinas como contrapartida aos testes clínicos no Brasil

Jornal GGN – José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde (2007-2011), disse em entrevista ao jornalista Luis Nassif, na TVGGN, que o governo federal poderia ter negociado a compra de milhões de doses de vacinas contra Covid-19, junto aos laboratórios estrangeiros, como contrapartida aos testes clínicos realizados na população brasileira.

Temporão lembrou que ao menos cinco vacinas estrangeiras tiveram testes clínicos em fase 3 realizados no Brasil, e teria sido “razoável” se o Ministério da Saúde no governo de Jair Bolsonaro tivesse aproveitado a oportunidade de diálogo com as farmacêuticas para garantir vacinas para o Plano Nacional de Imunização.

Mas o governo Bolsonaro não só perdeu a oportunidade de negociação na fase de testes, como ainda rejeitou oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer no final de 2020. O presidente negacionista agora costuma dizer que declinou a oferta de vacinas que não tinham aprovação da Anvisa. O argumento, contudo, não se sustenta, pois o Ministério da Saúde anunciou a compra de vacinas de Oxford/Astrazeneca, em parceria com a Fiocruz, ainda quando o imunizante não dispunha do registro.

“Cinco dessas vacinas que estão no mercado – Pfizer, Moderna e várias outras – foram testadas na população brasileira. Butantan, Astrazeneca, a Johnson e Johnson foi testada aqui… Foram testadas porque tinha muita doença aqui, mas também porque o Brasil tem boa infraestrutura de hospitais universitários. A Anvisa é uma excelente agência reguladora, muito respeitada. Temos tecnologia para fazer ensaio clínico em fase 3, que é muito complexos. Ora, te pergunto: não seria razoável imaginar que se a Pfizer te procura dizendo que quer fazer testes no Brasil, você [pode] dizer ‘ok, pode vir, mas por outro lado, quero ter acesso a x doses de vacinas, a um preço x, como contrapartida’. Pergunta se alguém negociou isso! É óbvio, é o beabá do beabá do beabá. [O governo Bolsonaro] Não só não negociou, como quando ofereceram para [o Brasil] comprar, recusou. Espero que a CPI revele isso de maneira bem sistemática e objetiva”, disse Temporão.

O ex-ministro da Saúde ainda disse que o Brasil só aplicou cerca de 25 milhões de doses de vacinas contra coronavírus, até agora, porque a Fiocruz e Butantan se mobilizaram e usaram sua expertise em imunizantes para atrair parceiros.

Segundo Temporão, se tivesse investimentos adequados, um plano de Estado, o Brasil teria condições de se tornar independente na produção de vacinas.

“O Brasil tem duas das mais importantes fábricas no mundo, Butantan e Bio-Manguinhos/Fiocruz. Essas duas fábricas produzem, por anos, 300 milhões de doses de todas as vacinas que tomamos o ano todo, para todas as doenças, são mais de 18 vacinas. Isso movimenta mais de 4 bilhões de reais. Fiocruz e Butantan produzem vacinas com tecnologia tradicional e vacinas baseadas em biotecnologia, através de acordos de transferência de tecnologia com multinacionais farmacêuticas. O que ocorre é que, por uma série de fatores, não conseguimos ainda verticalizar isso, ou seja, fazer com que esse processo de transferência seja feito de maneira completa.”

“Nós ainda continuamos importando os princípios ativos e fazendo as etapas finais de formulação aqui. Existem barreiras tecnológicas ou de conhecimento intransponíveis para esse impedimento? Eu diria não. Se nós tivessemos um projeto de Estado – como a Índia, China e Rússia têm – para esse objetivo, garantir a nossa autossuficiência, nós teriamos todas as condições. Mas de 2016 para cá, entramos em movimento contrário. Redução dos recursos para ciência e desenvolvimento tecnológico, e o Brasil, então, ficou de joelhos” no começo da pandemia, comentou.

RESPONSABILIZAÇÃO

Questionado sobre a CPI da pandemia, que deve iniciar seus trabalhos, no Senado, a partir de 27 de abril, Temporão disse que sua expectativa é de que a comissão possa sistematizar os atos do governo federal que levaram ao descontrole da crise sanitária, de maneira didática, para que o povo possa compreender o que ocorreu.

Para o ex-ministro da Saúde, não apenas Bolsonaro, mas todos aqueles que ajudaram, direta ou indiretamente, a espalhar informações falsas, propagar tratamentos fajutos e danosos e afrontar as medidas de mitigação da pandemia, devem ser responsabilizados.

“O único país do mundo em que o presidente da República, ao invés de liderar o esforço nacional de enfrentamento, liderou os esforços de sabotagem das medidas prescritas pela ciência e saúde pública, foi aqui no Brasil.”

Assista a entrevista completa aqui:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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