The Guardian: Bolsonaro se ilude achando que vai esconder desmatamento da Amazônia da comunidade internacional

Em entrevista ao Guardian, Ricardo Galvão diz que se o líder da extrema direita não mudar de rumo, a Amazônia será arruinada

Por Tom Phillips

No The Guardian

Bolsonaro abençoou ataque ‘brutal’ na Amazônia, adverte cientista demitido

Madeireiros ilegais estão fazendo um ataque “brutal e rápido” à Amazônia brasileira com a bênção do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, diz o chefe demitido da agência governamental encarregada de monitorar o desmatamento [Inpe].

Falando ao Guardian cinco dias depois de sua demissão, Ricardo Galvão disse que estava “rezando aos céus”, para que o presidente de extrema-direita mude de rumo antes que a Amazônia – e a reputação internacional do Brasil como líder ambiental – seja arruinada.

“O que está acontecendo é que este governo enviou uma mensagem clara de que não haverá mais castigo [por crimes ambientais] como antes… Este governo está enviando uma mensagem muito clara de que o controle do desmatamento não será como foi no passado… E quando os madeireiros ouvem essa mensagem de que não serão mais supervisionados como eram no passado, eles penetram na floresta tropical”, disse Galvão, alegando que danos “enormes” já haviam sido causados ​​desde que Bolsonaro assumiu o poder em janeiro.

“É uma questão de exploração econômica brutal e rápida.”

Galvão, um cientista respeitado internacionalmente, foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até a semana passada, quando um confronto público com Bolsonaro lhe custou o emprego.

Dias antes, durante uma reunião com jornalistas estrangeiros, Bolsonaro questionou publicamente os dados de Inpe, sugerindo um aumento alarmante na destruição da Amazônia e acusou Galvão de vender “mentiras”.

Esse ataque levou o físico treinado pelo MIT a atacar seu presidente “pusilânimo”.

“Senti uma grande indignação e muita tristeza”, recordou o cientista de 71 anos sobre o que chamou de “infantil ataque” de Bolsonaro ao Inpe e sua equipe.

Em uma entrevista ao Guardian, Galvão acusou Bolsonaro e dois membros do gabinete – o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o chefe de segurança institucional, general Augusto Heleno – de travar uma batalha de meses contra sua agência, que usa tecnologia de satélite e radares para observar e ajudar a prevenir o desmatamento.

Galvão alegou que a campanha foi criada para desacreditar as descobertas do Inpe e, assim, abrir caminho para uma maior exploração da Amazônia.

“Não há dúvidas sobre isso. Eles têm relações muito mais próximas com os madeireiros [do que os governos anteriores]. O presidente disse explicitamente que quer fazer acordos com empresas americanas para explorar minerais em reservas indígenas”, disse Galvão.

“É um plano negativo com a intenção de reduzir o controle sobre a Amazônia porque eles acreditam que, explorando a Amazônia, conseguirão um desenvolvimento econômico muito mais rápido da região. Isso é completamente errado”, acrescentou o cientista.

Nos primeiros sete meses de seu mandato de quatro anos, Bolsonaro havia ajudado a causar “um enorme aumento” no desmatamento, sinalizando clemência para com aqueles que destruíam a floresta tropical, afirmou Galvão.

Ambientalistas e cientistas de todo o mundo condenaram o saque de Galvão, (…) para encobrir verdades inconvenientes sobre a destruição de vastas extensões de floresta sob Bolsonaro.

O cientista da Nasa Douglas Morton, que colabora com o Inpe há quase duas décadas, disse que os cientistas altamente treinados merecem ser “elogiados” por sua pesquisa “pioneira, rigorosa e robusta” que trouxe grandes benefícios para o Brasil e seu meio ambiente. Ele chamou o movimento de Bolsonaro de “relativo”.

Romulo Batista, defensor do Greenpeace no Brasil, disse que a demissão de Galvão reflete a hostilidade de Bolsonaro à ciência e ao meio ambiente. “Este não é um governo baseado em fatos, é um governo cujo modus operandi é a mentira”, disse Batista.

Mas Batista disse que Bolsonaro não conseguiria suprimir a verdade sobre o ataque acelerado à Amazônia.

“Se ele acha que, ao demitir um cientista de renome internacional e trazer alguém que vai esconder ou distorcer ou introduzir dados que não são verdadeiros, ele conseguirá transmitir a falsa impressão de que o desmatamento na Amazônia está sob controle, ele está muito enganado. Existem inúmeros outros sistemas de monitoramento que mostram a verdade.”

Depois de quase cinco décadas servindo seu país, Galvão disse que sentia tristeza pelas circunstâncias que envolviam sua demissão e a situação do meio ambiente no Brasil. “O país está vendo um cenário político que causará grandes danos no futuro”.

Galvão ecoou temores sobre pesquisas sugerindo que o desmatamento estava empurrando a maior floresta tropical do mundo em direção a um ponto de inflexão catastrófico do qual não se recuperaria. “Esse é um perigo muito grande – sem mencionar que a Amazônia é essencial para controlar os ciclos de chuva na América do Sul.”

Galvão também acusou Bolsonaro de desmantelar a reputação suada do Brasil como líder ambiental – uma reputação que sua agência ajudou a consolidar ao produzir alertas de desmatamento que ajudaram as autoridades a reduzir a destruição da Amazônia entre 2004 e 2012.

“O Brasil foi visto de forma muito positiva como líder mundial em preservação ambiental. Isso está sendo rapidamente destruído pelo governo de Bolsonaro ”, disse ele.

Galvão disse que espera que a comunidade internacional apoie agora “aqueles brasileiros que estão lutando contra este estado de coisas, e forçar o governo a entender que o crescente desmatamento na Amazônia só causará danos ao Brasil – e ao próprio governo”.

“Espero, e rezo aos céus, que o presidente mude sua postura e retorne à política correta adotada pelo Brasil no passado”, acrescentou.

Isso parece improvável. Esta semana, quando novos dados do Inpe surgiram sugerindo uma “explosão” do desmatamento na Amazônia em julho, Bolsonaro zombou de sua interpretação como “Capitão Motosserra” do Brasil e ridicularizou Emmanuel Macron e Angela Merkel por desafiá-lo na questão do meio ambiente.

Ao público, Bolsonaro declarou: “Eles ainda não perceberam o Brasil está sob nova administração”.

Redação

6 Comentários

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  1. O único jeito de barrar o Bolsonaro, os madeireiros e os latifundiários é a comunidade internacional boicotar produtos saídos da Amazônia. Se pararem de comprar produtos vindos de lá, não haverá razão para a exploração da selva, que restará, então, preservada. Para simplório o raciocínio, mas os efeitos do boicote total será avassalador sobre os ladrões da Amazônia.

  2. Elite do Funcionalismo Público Brasileiro se contrapondo aos Interesses Nacionais com o AntiCapitalismo Esquerdopata. Quanta Novidade !!! Alguma palavra sobre os 35 milhões de Brasileiros que vivem na Região Amazônica e sua condição de vida? NÃO !!! Que Surpresa !!! Quanta Coincidência !!! Afinal estamos na Pátria das Coincidências !!! Pregando a interferência direta internacional sobre a Soberania e Território Nacional ? E isto é acusação sobre Nosso Governo e outra visão de como desenvolver tal região? Alguma palavra sobre o Povo Brasileiro de forma direta e consciente, conhecendo a realidade do interior do seu país, opinar diretamente sobre as Políticas do Estado Brasileiro? LIBERDADE? REPRESENTATIVIDADE? DEMOCRACIA? Tá louco !! E ter outro Plebiscito do Desarmamento?!!! Ao invés de dialogar, conscientizar e interagir com os Amazônidas, correm fazer isto com os Europeus (que parte da Amazônia fica na Europa?) 9 décadas de Estado Absolutista Caudilhista Esquerdopata Ditatorial Fascista. O tal Cientista não deveria estar falando para os Brasileiros sobre a Nossa Nação? Entendemos.

    1. Os 35 milhões de brasileiros
      que vivem na Amazônia merecem projetos que estimulem o desenvolvimento sócio econômico da região, mas de forma compatível com o meio ambiente e não de maneira predadora como vem ocorrendo. E isto é perfeitamente possível do ponto de vista tecnico e econômico a curto e médio prazo, basta regular a atividade agropecuaria, explorar a floresta num manejo adequado, fortalecer a pesquisa agroflorestal e a industrialização em áreas e atividades que apresentem vantagens locacionais. Sobretudo apoiando pequenos e médios produtores.

  3. Alguém avise aos três patetas do Palácio do Planalto que o Brasil nao e o unico pais a fazer monitoramento floresta amazônica. Se o dois neurônios fechar o impe mesmo assim os países do primeiro saberão como está o desmatamento na Amazônia. Eles sabem o que é satélite ambiental, e melhor do que os do Brasil.

  4. Tudo muito certo, tudo muito bom. Só precisa tomar cuidado com esse negócio de estrangeiro defender a Amazônia… para os EUA decidirem que vão cercar aquilo tudo, colocar tropas para vigiar e ainda por cima com os Bolsonaro e golpistas se curvando na frente deles, não precisa muito, hein?

    – “Presidente, o sr. acha que seu filho diria não ao Trump”?
    – “Ah, minha filha… pior era o PT dizendo sim a comunista.”
    – “Tendi… não conseguiria, da mesma forma que o PT não conseguia, é isso?”

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