Todo o simbolismo inapercebido de 31 de março

Risco, esperança e luta, fim e começo enfim. O dia 31 de março 2016 é carregado de um simbolismo que o caleidoscópio de acontecimentos políticos do momento ainda não nos deixa distinguir na sua intensidade.

Praça da Sé

Nesse dia findava o Golpe de 64.

O povo estava nas ruas defendendo um governo de esquerda e os militares estavam nos quarteis cumprindo sua missão constitucional.

“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Art.142 da Constituição Cidadã de 1988.

Em 64 também houve povo na rua defendendo um governo de esquerda, mas houve militares na mesmas ruas, logo em seguida, e na mão contrária. Em 2016, a livre manifestação do povo não ameaçou os poderes constitucionais. Não que esses poderes não estejam em risco, mas não é o povo sua ameaça. Ao contrário, o povo estava nas ruas defendendo-os.

Outro simbolismo foi o protagonismo de Lula nas manifestações em defesa da democracia no 31 de março. Sim, Lula não foi o protagonista. Esse foi os artistas, Chico Buarque, Wagner Moura e Letícia Sabatella, entre eles, na minha memória.

Não poderia ter sido melhor.

O protagonista foi advogados, juristas, professores, escritores, intelectuais e seus manifestos. Faltaram os médicos. Uma parte deles ficou nos seus consultórios selecionando a clientela pela cor de seus títulos de eleitor. Mas a praça, em uma quinta-feira de expediente normal de trabalho, tinha muita, muita gente comum e especial por isso. Especialmente e particularmente especial por isso. O protagonista foi a defesa do Estado democrático de direito. 

A praça estava tingida de vermelho, mas não necessariamente no vermelho petista e sim do “Não vai ter golpe”.

A defesa da democracia tornou-se suprapartidária, tornou-se uma ideia força. E nada mais forte que uma ideia que encontrou seu momento.

Infelizmente o golpe de 1954-1955 ainda está em marcha. Mas também simbolicamente desmoralizado.

E a desmoralização veio com a encenação do desembarque do PMDB do governo federal. A foto do que há de mais escroto na política nacional comemorando. Os ratos abandonado o navio com suas barrigas cheias, os abutres que farejaram uma presa agonizante.

desembarque

E a frase síntese e involuntária do Ministro Barroso: Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder?”.

Nada mais simbólico.

Não é à toa a mudança de posição de alguns dos nossos mais poderosos jornais. Quem quer ter o nome associado a isso? Quem carregará a faixa “Somos milhões de Cunha”?

Sintomaticamente as varandas gourmet andam silenciosas.

E esse é o nosso risco atual, quem ainda apoia o golpe, ama a traição, ainda que publicamente despreze o traidor. Agirá nas sombras.

Essa é a nossa esperança e nossa luta, quem apoia o “Não vai ter golpe” luta pelo fim do ciclo golpista na história política do Brasil e enfim o começo de um governo democrático e republicano respeitado por ser exatamente isso.

Quem apoia o “Não vai ter golpe” podemos estar nas ruas sem estar com os narizes tapados.

Mais um simbolismo inapercebido de 31 de março.

 

 

PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia apoia o Movimento Golpe Nunca Mais.

golpe nunca mais1

Redação

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