TSE e Lava Jato desviam delações que acusam Aécio Neves

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Mais um depoimento contra Aécio Neves (PSDB-MG) em esquemas de corrupção foi barrado pela Justiça. Após uma das procuradoras da República da força-tarefa da Lava Jato do Paraná cortar a delação do lobista Fernando Moura, quando estava narrando o esquema de Furnas e propinas ao senador tucano, agora foi a vez do ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), interromper depoimento da Odebrecht.
 
Trata-se da delação do ex-presidente de Infraestrutura da empreiteira, Benedito Júnior, conhecido como BJ, que nesta quinta-feira (02) respondeu a questionamentos do TSE sobre irregularidades em campanhas, no processo de cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer.
 
Em um dos trechos do depoimento, narrou que a Odebrecht doou R$ 9 milhões em caixa dois para as campanhas eleitorais do PSDB, e que o pedido partiu diretamente de Aécio Neves, em 2014, à época presidente do PSDB e concorrendo à Presidência da República.
 
Desse total, descreveu BJ aos investigadores, R$ 6 milhões dos repasses da companhia eram destinados às campanhas de Pimenta da Veiga, então candidato a governador de Minas pelo PSDB, Antonio Anastasia, então candidato ao Senado pelo partido, e a Dimas Junior, disputando como deputado federal pelo PP mineiro.
 
Os outros R$ 3 milhões, narrou Benedito Junior, foram repassados à empresa do marqueteiro da campanha presidencial de Aécio naquele ano, Paulo Vasconcellos. O pedido, no entanto, foi de mais R$ 6 milhões, mas a Odebrecht só repassou a metade do caixa dois.
 
Anastasia conseguiu se eleger ao Senado pelo PSDB, Dimas Fabiano, que é filho do ex-diretor de Engenharia de Furnas e apontado como o intermediário das propinas a Aécio, Dimas Toledo, também foi eleito na Câmara dos Deputados. O candidato tucano Pimenta da Veiga foi derrotado no governo de Minas.
 
 
Entretanto, durante a descrição do episódio, o delator Benedito Júnior foi interrompido pelo ministro Herman Benjamin, relator do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que acompanhava os depoimentos da Odebrecht.
 
A justificativa foi que o processo em questão era de investigar apenas a chapa da ex-presidente Dilma Rousseff e do então vice Michel Temer. Por outro lado, ressaltou que os fatos em questão e detalhes da doação a pedido do tucano Aécio Neves têm “relevância histórica”. Aécio foi um dos autores do pedido da ação que poderá encurtar o mandato de Temer, em possível cassação da chapa.
 
Em resposta, o atual senador tucano disse que pediu apoio de empresas para “inúmeros candidatos de Minas e do Brasil”, mas negou o uso de caixa dois: “sempre de acordo com a lei”, disse em nota a assessoria do parlamentar.
 
Desinteresse da Lava Jato
 
Não é a primeira vez que depoimentos contra Aécio Neves e o PSDB são barrados nas investigações e desdobramentos da Operação Lava Jato. Conforme divulgou o GGN, na reportagem “Lava Jato não quis saber sobre acusação de lobista contra Aécio e Furnas“, em mais de 30 minutos que o juiz Sérgio Moro dedicou a questionar o delator Fernando Moura, não perguntou sobre repasses e benefícios ao tucano.
 
Após concluir as suas dúvidas, o magistrado da Lava Jato do Paraná passou a palavra à procuradora da República presente na audiência. Curiosamente também de forma espontânea e exemplificada, foi o delator que narrou o caso da divisão de propinas na hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais, a partir da indicação por Aécio Neves (PSDB-MG) de Dimas Toledo para comandar diretoria da estatal mineira.
 
“O senhor mencionou que o senhor saiu do Brasil, quando foi para os Estados Unidos, porque podia estourar o esquema da Petrobras e o Silvio e o Dirceu estavam envolvidos. Eu queria que o senhor detalhasse a participação do senhor José Dirceu”, foi a primeira questão da investigadora.
 
“Vou explicar”, respondeu o delator e lobista Fernando Moura. E narrou uma reunião em que dirigentes do PT decidiram nomes das indicações para as estatais, além da Petrobras, Correios, Caixa Econômica Federal, Furnas e Banco do Brasil. “A princípio eu levei para o senhor José Dirceu o nome do Dimas Toledo para que continuasse na Diretoria de Furnas”, introduziu.
 
Inicialmente negada a indicação de Dimas Toledo, Moura explicou que Dirceu o chamou e disse que a diretoria de Furnas “foi o único cargo que o Aécio [Neves] pediu para o Lula”. Ao conversar diretamente com o indicado, Fernando Moura recebeu a resposta do diretor da estatal: “vocês não precisam nem aparecer aqui, vocês vão ficar um terço para São Paulo, um terço nacional e um terço para Aécio”.
 
Imediatamente após a introdução de como funcionaria o esquema de corrupção na estatal mineira, sob a indicação de Aécio Neves, a procuradora da Lava Jato interrompeu: “mas a pergunta que eu fiz para o senhor foi diferente. Eu quero saber qual é a participação do senhor José Dirceu no esquema da Petrobras”.
 
O movimento claro de interrupção das acusações que viriam do lobista contra Aécio fez com que o magistrado do Paraná, após encerradas as perguntas dos investigadores e dos advogados, retomasse o tema, no final da audiência. Mas não com o objetivo de que Moura delatasse Aécio, e sim visivelmente na tentativa de que o delator arrolasse José Dirceu e o PT também no esquema da hidrelétrica mineira.
 
Essa nova interferência e posicionamento da Lava Jato e de Sérgio Moro podem ser acompanhados no vídeo, a partir dos 16:00:
 
https://www.youtube.com/watch?v=rFQjWlEkqIM&feature=youtu.be width:700 height:394
 
“Tenho uns esclarecimentos pontuais aqui. O senhor mencionou dessa indicação de Furnas, mas por que o Partido dos Trabalhadores ou o José Dirceu iria acolher uma indicação de um adversário político?”, perguntou Moro.
 
“No caso de governo, não existe muito isso. Eu conheci o Dimas Toledo em São Paulo, na casa de um empresário, e existia uma reivindicação da permanência dele, porque ele já estava em Furnas. Eu levei essa reivindicação ao José Dirceu. E o José Dirceu na oportunidade me informou: ‘Fernando, esse cara não pode continuar em Furnas, ele já está há 34 anos, se colocar ele de porteiro, vai mandar em Furnas’. Final de janeiro ele me chamou outra vez e falou: qual a sua relação com Dimas. Eu falei que tive três jantares com ele. Ele falou: ‘porque foi o único cargo que o Aécio pediu pro Lula'”, repetiu as mesmas palavras o delator. 
 
E seguiu: “Eu fui conversar junto com o Silvio Pereira, fui conversar com o Dimas em Furnas. O Dimas colocou muito claro para a gente que não precisava nem se locomover ao Rio de Janeiro e que ele já tinha um trâmite normal, que ele já fazia isso há muito tempo lá”.
 
Imediatamente depois de mencionar que o esquema de corrupção na hidrelétrica de Furnas datava de antes do governo do ex-presidente Lula, Moro voltou a mudar de foco, claramente contra Dirceu: “Mas o senhor conversou diretamente com o senhor José Dirceu sobre os seus acertos de propina?”.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. pinel judiciário

    Menino moro respirando por aparelhos, qualquer sentença condenatória te codenará.

    O pig já te abandonou, os ixpertos do stf já não te considenam, os beatos de bíblia de sovaco da republica do estado agricola do sul espertos de power point esgotaram os power point.

    Vá para miami se der tempo bobalhão!!!

  2. Mas como é que compadre vai acusar compadre?

    “por que o Partido dos Trabalhadores ou o José Dirceu iria acolher uma indicação de um adversário político?”, perguntou Moro.””

    Não entende nada de politica, arrasa com as empresas brasileiras e diz querer moralizar alguma coisa, condenando tão somente o PT. Tolinho soberbo.

  3. O banditismo político

    O banditismo político tucano/temerista não seria tão pernicioso sem encontrar um complemento no banditismo da imprensa e no banditismo do Judiciário. Afundamos. “Nossas instituições estão funcionando…” disse a presidenta do STF. Ela poderia ter complementado a frase  “… exatamente como num típico Estado fracassado africano.”

  4. Multidelatado.

    Das duas, uma:

    a. Mouro* fala para um público semelhante a ele, aquele pessoal de camiseta da CBF.

    b. Mouro* não manja de política (o Boneco Michelzão manja, pode ter certeza).

    c. Mouro* é uma espécie de dancing-flor da Grobo.

    d. A Safa a Jato só serve pra pegar os vremeio.

    e. Todas acima.

  5. No aguardo de ouvir panelas

    No aguardo de ouvir panelas batendo nas cozinhas gourmet de apartamentos chic,  aquelas onde foram feitas as batatas fritas, o frango e outras “iguarias”  servidos na Av. Paulista, onde esteve também um agora sumido pato plagiado. Sabemos que os financiadores do  tio sam evaporaram porque agora já estão no comando do Brasil. Até a França tá levando uma lasquinha  do pré sal. Assistam esse vídeo de um  premiado Jornalista -(com J maiúsculo)- lá do estrangeiro

    https://www.youtube.com/watch?v=PifSN8mVMp

     

  6. Creio que depois que

    Creio que depois que deixou-se fotografar com o mineirinho com risinhos ao pé do ouvido tal qual dois adolescentes a tramar traquinagens, o herói mandou o pudor às favas. 

    Mas o que temos visto é que sua blindagem também inclui o MT. Está cada vez mais claro então que é um anti-petista raivoso, daqueles que rasgavam a bandeira vermelha do PT com os dentes, babando ódio.

    Caramba, acho que o próprio, vejam:

     

      

     

     

  7. A Justiça brasileira está
    A Justiça brasileira está cada dia mais desmoralizada. Pintou denúncia contra Aécio “Mineirinho da Odebrecht” Neves, os juízes acionam a tecla “off” do controle remoto judicial. Caixa 2 de Aécio não é crime, segundo o TSE de Gilmar Mendes, é “relevância histórica”. Se bobear criam até um Museu das Maracutaias do Aécio, claro, em terreno do seu tio  na cidade de Claudio, ao lado de um certo e esquecido aeroporto.

  8. Aécio não é corrupto, só tem uma visão patrimonialista do poder

    O problema do Aécio não é a sua corrupção, mas sua visão patrimonialista do poder e sua impaciência imperial:

    “A pista de Cláudio incomoda, mas deriva de uma visão patrimonialista do poder. A impaciência imperial é bem outra coisa. Reflete a um só tempo a ideia de que, seja o que for o que se discute, daqui a um mês o assunto estará esquecido, ou ainda que manda quem pode e obedece quem tem juízo, inclusive parando de perguntar o que não deve. Trata-se de um erro crasso de conduta política, até mesmo de marquetagem.” Elio Gaspari

    http://oglobo.globo.com/opiniao/a-impaciencia-imperial-de-aecio-13424050#ixzz4aMoKOhIv

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