
O programa TVGGN da última sexta-feira (14) contou com a participação do cientista político Christian Lynch, autor do livro Fundações do Pensamento Político Brasileiro, para compartilhar suas conclusões sobre quais ideologias contribuíram para a constituição do Estado brasileiro.
Lynch observa que a primeira consolidação do Estado brasileiro vai até 1860. Depois, há reformulações do Estado enquanto República, passando pelo federalismo, presidencialismo, presidencialismo e Estado Novo.
“Existe uma ideia que eu tenho que superar, um preconceito, um clichê, segundo o qual o Brasil não tem pensamento político, ou o pensamento político é rebaixado, ou que as ideias estão fora do lugar. Enfim, esse é um dos meus principais inimigos que eu tenho que enfrentar no livro”, pontua o cientista político.
Este conceito de que o Brasil não teria um pensamento político parte da ideia de que o país é atrasado e periférico, propagada pelas elites para legitimar uma realidade ou oprimir o pensamento político.
Uma das falácias combatidas pelo pesquisador é a de que o pensamento político brasileiro tem origem em Portugal.
“A minha hipótese, na verdade, é que como a gente sempre se sente num lugar periférico e atrasado do mundo, a gente fica achando que tudo que nos cerca, a nossa cultura, tudo é rebaixado, tudo é inferior, e aí o pensamento político entra no balaio. Como a gente se representa de uma maneira meio vira-lata, a gente acha que o que a gente faz também não vale muita coisa”, continua Lynch.
No entanto, o cientista político ressalta que os pensamentos políticos viajam e se adaptam às sociedades de toda parte. Assim como há o pensamento político alemão, francês, entre outros, também há o brasileiro.
O segundo ponto abordado na obra é a questão de que fazemos parte do extremo ocidente, visto como a periférico. Neste contexto, vemos que o nosso pensamento político foi inspirado em modelos da Inglaterra, França e Estados Unidos, que deveriam ser seguidos e adaptados à realidade nacional.
“A minha hipótese, que eu desenvolvo no livro, é a seguinte: a construção de todo Estado implica um processo de centralização do poder na pessoa do governante. Não importa se é a monarquia ou se é a república, em primeiro lugar, não interessa se é a monarquia ou se é a república. Então, por exemplo, a gente vê os países africanos que saíram da descolonização na década de 1960, 1970, muitos deles são ditadura, em parte não é porque eles gostam de ditadura não conseguem criar democracia, eles têm que criar o Estado primeiro. Então esse processo de centralização existe. A França foi com o Luís XIV.
A Inglaterra foi com os Tudor, Henrique VIII, Elizabeth I”, explica o entrevistado.
O Brasil, no entanto, foge à doutrina do absolutismo. “No Brasil, o que acontece? No Brasil, você tem uma particularidade, que é a construção do Estado do Brasil começa de baixo, não depois da Independência, ela começa antes, ela começa com o D. João VI, quando ele chega aqui, em 1808. E é debaixo de uma monarquia e é debaixo de uma monarquia absoluta. Isso é uma coisa que nenhum outro país da América passou.”
O país também teve, segundo Christian Lynch, uma ideia muito poderosa de império, em que o objetivo era se tornar um país grande, poderoso, de primeiro mundo. O império do Ocidente. “Naquele tempo, só tinha os dois impérios, que era a China, grande, China e Rússia. Só que o que acontece? Depois da Revolução Liberal, em 1821, a gente tem que ter Constituição, tem que ter separação de poderes, a gente tem Independência. Como é que você vai construir um Estado? Aí você cria um problema.”
Confira o debate conduzido pelo jornalista Luís Nassif na íntegra em:
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