Um ano de Weintraub, o abominável, e os prejuizos ao país, por Renata Cafardo

Difícil achar quem aponte algo positivo que tenha feito para educação do País; é inacreditável que quem esteja balançando no cargo seja o ministro da Saúde e não o da Educação

Por Renata Cafardo, no Estadão

É até irônico que na semana em que os cidadãos razoáveis lamentaram uma eventual demissão de Luiz Henrique Mandetta, seu colega do ministério da Educação tenha comemorado um ano no cargo. Abraham Weintraub, assim como o ministro da saúde, é quase uma unanimidade. Mas do lado oposto.

Difícil achar educador que elogie uma só atitude dele, difícil achar quem não abomine seus twittes preconceituosos, ou mais ainda, difícil achar quem aponte algo positivo que tenha feito para educação do País. E o presidente Jair Bolsonaro o mantém no cargo, 12 meses depois.

Fomos apresentados a esse ex-professor universitário sem expressão quando ele resolveu acusar instituições de promoverem balbúrdias. Se era um plano de marketing, deu certo. Todo mundo passou a conhecer Abraham Weintraub. Mas logo em seguida, a propaganda se tornou uma realidade triste: pesquisadores do Brasil todo tiveram bolsas de mestrado e doutorado cortadas.

Em tempos de isolamento, a gente quase esquece. Mas milhares saíram às ruas em manifestações pela educação e contra as medidas de Weintraub em outubro de 2019. Professores, alunos e pais participaram dos atos. “Minha balbúrdia é fazer um analfabeto ler”, dizia um dos cartazes. O presidente não se comoveu e o ministro que gosta de fazer lives engraçadinhas ficou no cargo.

Ainda na linha do marketing, no meio do ano passado Weintraub lançou com pompa o Future-se, apresentado como algo que revolucionaria as universidades públicas brasileiras. A ideia, mal organizada e nada combinada com os reitores das instituições, permitiria a entrada de recursos privados e a contratação de professores por CLT. Ninguém confiou no programa, o próprio secretário do MEC que bolou o Future-se acabou demitido e até hoje nada saiu do plano das ideias.

Seu único projeto em curso é o que transforma escolas públicas em militarizadas. O problema é que, mesmo que ele fosse a solução para a educação brasileira (obviamente não é), atinge só 0,15% das escolas. Política pública se faz para a maioria.

Chegou o fim de 2019 e, quando todos torciam para que Weintraub não virasse o ano, veio o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de Bolsonaro. Sem sustos nas questões da prova, apesar do temor. Weintraub alardeou que era o melhor Enem da história. Não foi. As provas foram corrigidas pelo MEC com gabarito errado e as notas saíram atrapalhadas. Confusão total, o tempo passou, e veio em fevereiro a ameaça de pandemia de coronavírus que nos fez esquecer do Enem.

Em um ano, Weintraub afastou o MEC dos secretários de educação, que efetivamente são responsáveis pelas escolas públicas do País. E manteve o mesmo comportamento agora que o País é assolado pelo covid-19 e as aulas tiveram de ser suspensas. Enquanto os Estados defendem que se dê dinheiro às famílias pobres que dependem da merenda escolar para alimentar seus filhos, Weintraub quer todo mundo na escola se aglomerando e pegando a quentinha.

Para fechar os 12 meses sem uma só política educacional e milhares de polêmicas de mau gosto, o ministro da Educação resolveu provocar os chineses afirmando que eles teriam interesse em espalhar o vírus pelo mundo. A embaixada da China classificou as declarações como completamente absurdas, desprezíveis e irresponsáveis, além do cunho fortemente racista. Sobrou para Mandetta uma conversa com o embaixador chinês para amenizar os ânimos e tentar garantir os insumos comprados para o combate do coronavírus. É inacreditável que quem esteja balançando no cargo seja o ministro da Saúde e não o da Educação.

*É repórter especial do Estado e fundadora da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca)

Luis Nassif

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