UM DESAFIO ÉTICO PARA O JORNALISMO

Por Ana Claudia

Qualquer veículo de informação pode ser tomado como uma arma. Isso é fácil de ser explicado. No Brasil, por exemplo, famílias medianas que se aventuraram a criar e manter uma mídia, uma TV ou um jornal, e lutaram arduamente contra qualquer tipo de concorrência, enfronhando-se em alianças escusas com governos, ainda que ditatoriais, hoje figuram em ranques mundiais de milionários.

Na Europa, por sua vez, magnatas que têm alianças escusas entre si, têm investido na compra desses veículos poderosos. Em posse da informação, essas corporações alcançam negociações com instâncias governamentais e legislativas que valem ouro.

Na França, ao contrário, o presidente Nicolas Sarkozy foi quem quis se aproveitar da degradação financeira a que chegou o Le Monde para assumir o seu controle junto a um grupo de endinheirados, pois é claro que em posse de um jornal desse porte o governo poderia alcançar mais facilmente a simpatia dos eleitores franceses. Mas os jornalistas franceses reagiram acionando outros magnatas para reverter a questão do controle.

Desde então, a imprensa francesa encontra-se praticamente toda nas mãos de milionários que parecem gostar do controle sobre a informação. O Le Fígaro, por exemplo, desde 2004 está sob a autoridade do conservador Serge Dassault, um industrial do setor de armamentos, político influente no senado que, aos seus 88 anos de idade, conta com uma fortuna calculada em 12,8 bilhões de euros, ocupando a 56º posição na lista Forbes dos mais ricos do mundo.

Não surpreende o fato de que, com tamanha fortuna, Dassault esteja sendo investigado pela justiça francesa por corrupção em caso de compra e venda de votos. Em outubro deste ano, Gérard Limat, seu homem de confiança e também seu contador na Suíça, declarou ter entregado diversas vezes ao patrão, bolsas plásticas com fartas quantias em dinheiro. O contador afirmou que, em quatro anos, fez 33 entregas dessas bolsas recheadas nas mãos do ex-senador, além das transferências que fazia a eleitores, e até a delinquentes de Corbeil-Essonnes. Na maioria das vezes recorria à Cofinor, uma sociedade financeira suíça que facilita transações como essas, já que pode entregar dinheiro por toda a Europa.

O braço direito de Serge Dassault revelou que o político, enquanto prefeito de Corbeil-Essannes entre 1995 e 2009, movimentou cerca de 53 milhões de euros em dinheiro, vindos da Suíça, paraíso fiscal bastante recorrido também por endinheirados brasileiros.

A declaração de Limat foi feita no início de outubro e, nesta terça-feira, 18 de novembro, o caso ganhou as manchetes da imprensa francesa, com exceção do Le Fígaro, é claro, pois pertence ao réu.

Esse é um dos inúmeros casos que levam para o ringue a profissão do jornalista contra a ética profissional. Em abril passado, quando Serge Dassault foi indiciado para julgamento, a manchete do jornal apontava para um “desafio” a ser enfrentado por seu proprietário, o termo “desafio” traz consigo a conotação herói, alguém que não esmorece. Mas o desafio, agora, transferiu-se para o próprio jornal, como continuar maquiando uma situação tão grave cuja culpabilidade vem à tona e não pode ser negada?

Redação

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eu sou a Ana Claudia Dantas
    Eu sou a Ana Claudia Dantas Ferreira – nem ista nem inha (golpista, petista, governista, coxinha, oposicinha) e gostaria mesmo de saber onde aí tem pegadinha e “impropriedades históricas e de narrativas que não têm base na realidade.”

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador