Um estado contestado, por Maister F. da Silva

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Um estado contestado

por Maister F. da Silva

Os fatos mais recentes envolvendo as forças políticas no Brasil, trazem à baila como o país é controlado por uma elite cuja principal função é atuar como ave de rapina. Mesmo com suas contradições, mais evidentes ao cabo de cada pleito eleitoral, onde se dividem previamente a condução de estatais e demais aparatos; mesmo pífia e contraditória, a burguesia brasileira, influenciada primeiro pelo capital inglês, logo após alinhada e subjugada ao capital norte-americano, fundou as bases econômica, ideológica e política do estado-república, sobre uma população analfabeta e super-regionalizada, sem identidade de povo-nação.

As bases fundantes do estado brasileiro possibilitaram a burguesia o gerenciamento contínuo através das estruturas do capital e ocupação permanente de órgãos estatais como as federações empresariais, os meios de comunicação hegemônicos, Ministério Público Federal, Tribunais de Justiça Estaduais, Superior Tribunal de Justiça, o sistema jurídico configurado na Grande Família Jurídica do Brasil, controle do poder executivo e legislativo. Os partidos são controlados por castas e conjunções de interesses estranhos ao bem comum. A reforma no sistema de financiamento político-eleitoral traz mais uma armadilha dos donos do poder: o financiamento próprio, ou seja, brecha para alijar ainda mais as classes menos favorecidas do sistema político.

O controle político, econômico e jurídico do estado garante à burguesia a sustentação de leis e políticas que mantém os níveis de acumulação de riqueza, através do espólio legalizado e indiscriminado. Para citar alguns exemplos: mudança na legislação trabalhista para garantia de salários mais baixos, redução de impostos, política monetária que favorece o endividamento público e reduz a capacidade de investimento do estado, forçando a abertura de novas fontes de riqueza ao capital privado, como: a venda do nosso petróleo, concessão do uso de fontes de água, venda indireta de rios (através da venda de empresas públicas de energia elétrica), concessão de obras e serviços públicos, permissão para que nações estrangeiras patenteiem nossa biodiversidade, entre outras.

Trata-se de um aparato bem formado e aprimorado por anos, com atuação fora e dentro do meio estatal, formado pelos mesmos entes que atuam em consonância para beneficio de sua classe, a classe dominante, a burguesia. Alguns dos casos mais recentes fazem notar como atuam em benefício próprio, legislando para reduzir ou suspender leis como a CLT, estabelecendo uma nova política de agrotóxicos, forçando o estrangulamento de programas sociais, congelando o orçamento público para dar vazão à fuga de capitais aos credores/saqueadores estrangeiros, restringindo a atuação da ciência e tecnologia ao patamar de nada, priorizando a compra de tecnologia estrangeira e o avanço sobre a previdência pública para beneficiar os grandes grupos empresariais através da carteira de previdência privada.

Assim, desde sempre a burguesia vem constituindo um estado de bem-estar próprio que dá prioridade a seus interesses econômicos, de captura da política e oposição à qualquer esboço de mudança programática que enseje um mínimo de democracia e inclusão social. Sufoca as demandas de justiça e bem comum de comunidades camponesas e periféricas, sufoca o grito incontido da juventude e da classe trabalhadora para que sejam ouvidas suas súplicas justas por mais direitos que lhes permitam sobreviver.

Pode-se concluir que a gestão Temer, mesmo fragilizada e incapaz, cumpre o papel à que está destinado o estado até então, os últimos acontecimentos explicam:

1 – Greve/locaute dos caminhoneiros. Após a greve/locaute nada mudou, as medidas do governo jogam a conta para a população pagar e os grande beneficiados – os empresários – já não estão satisfeitos, rebelaram-se contra o preço mínimo de frete e o governo obediente que é recuou. Em entrevista ao Poder360, o Gerente-executivo da CNI Flávio Castelo Branco já demonstra que querem mais;

2 – Total incapacidade institucional, burocrática e orçamentária não possibilita ao governo responder nenhuma demanda social rapidamente, fato que está gerando uma insatisfação popular, elevando o golpista ao nível de presidente mais impopular da história e as campanhas publicitárias não estão conseguindo reverter o quadro;

3 – A grande quantidade de assassinatos de ativistas sociais e defensores dos direitos humanos traz a sensação de que o país voltou à 20 ou 30 anos atrás. As polícias civil, militar e federal agem com inação e cegueira diante desses, os algozes, latifundiários e pistoleiros agem com a certeza da impunidade;

4 – Criminalização da luta popular.

5 – Pacto de cavalheiros e corruptos para operar em conluio nas quatro esferas, midiática, jurídica, executiva e legislativa legislando em favor da impunidade, da venda do país e contra o povo.

Um estado completamente removido de preocupação com o bem comum, contestado historicamente e com crises recorrentes. Ou seja, a mudança de governo que se aproxima não irá resolver o problema fundamental. A solução que repousa no discurso e ação de alguns poucos – mas que é a única que trará mudança paradigmática e programática – é uma profunda transformação do estado brasileiro.

Maister F. da Silva – Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Está certo, mas no momento o

    Está certo, mas no momento o urgente é enfrentar as forças desse estado, tentando mais uma vez abrir uma brecha para timpor modificações, atuando no próprio sistema. Reformar o estado sem revolução, é mudar para ficar do mesmo jeito.

  2. Está certo, mas no momento o

    Está certo, mas no momento o urgente é enfrentar as forças desse estado, tentando mais uma vez abrir uma brecha para timpor modificações, atuando no próprio sistema. Reformar o estado sem revolução, é mudar para ficar do mesmo jeito.

  3. Os cinco pontos de forma reduzida representam a oligarquia ….

    Os cinco pontos de forma reduzida representam a oligarquia brasileira que domina o país.

    Qualquer solução popular deveria atacar estes pontos em que eu incluiria um sexto ponto o domínio da oligarquia financeira do país.

  4. Lendo as entrevistas dessa
    Lendo as entrevistas dessa turma se percebe que vivem no mundo da lua, ainda querem insistir na tal lomam, já dissecada pelo senadores, só uma nova constituinte pra por ordem na bagunça em que se transformou o país.

  5. Dada a absoluta passividade

    Dada a absoluta passividade de 99% da população, controlada e anestesiada pela mídia das oligarquias, a luz no fim do túnel pode ser acionada pela rebelião provocada pela fome e miséria que se espalha pelo país.

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