Foto: Divulgação
A violência não lembrou Carlitos, lembrou a ditadura. Agentes da policia federal invadiram o campus da UFMG e levaram o reitor. O instrumento utilizado foi o da condução coercitiva, que só pode ser acionado em casos excepcionais de recusa. Mas os agentes não estavam preocupados com a legalidade, apenas com o espetáculo. Um espetáculo semelhante ao que prendeu o reitor da UFSC há três meses, levando-o ao “suicídio” por causa da humilhação.
O título da operação também foi uma violência. Ao batizá-la de esperança equilibrista, a polícia federal sequestrou um dos símbolos da anistia e da própria luta contra a ditadura para reforçar sua estratégia de humilhação. Estratégia que tem como pano de fundo um objetivo maior: o desmonte da universidade pública no país.
Os eventos não são isolados. Juntam-se a eles os cortes de verbas das instituições, a nota oficial do Banco Mundial a favor da privatização das universidades públicas e a demissão de 1.200 professores da Estácio, concebido a partir de uma reforma trabalhista que (agora comprovadamente) destruiu direitos e de uma internacionalização do ensino superior privado que visa a construção de um oligopólio na área.
As ações violentas da polícia federal e o desmonte do ensino universitário gratuito foram promovidos por grupos políticos que se apropriaram do governo brasileiro. O mesmo governo que comanda a polícia, congela gastos sociais e favorece os oligopólios internacionais cuja preocupação com o lucro exclui investimentos na pesquisa e na extensão.
Precisamos reagir ao sequestro semântico de um símbolo político de tantos brasileiros que lutaram pela anistia e deram a vida pela democracia. Brasileiros que partiram no rabo de foguete da ditadura e voltaram com o irmão do Henfil. Brasileiros que não merecem a violência de um governo que se equilibra em um viaduto cujas pilastras já foram corroídas pelo descaso com a educação e por malas de propina que irrigam a quadrilha do Palácio do Planalto.
Se este viaduto não cair, o país está condenado ao luto de sua própria embriaguez.
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