Um Grito Parado No Ar

Depois de passar o dia todo de ontem ouvindo a escalada de notícias sobre os rumores de que o governo teria a intenção de baixar as taxas de serviços do Banco do Brasil e que por isso, já estava acontecendo uma baixa radical da cotação na bolsa e se previa que ela fosse ladeira abaixo até o fim do pregão, a sensação era de déjà vu foi inevitável.

Já tinha visto o mesmo filme, inclusive com a previsão catastrófica de falência iminente da centenária instituição porque ela não aguentaria a política de baixa dos juros “imposta” assim dessa maneira “autoritária” aos bancos privados, quando até o representante do sindicato patronal foi até Brasília para “deixar claro quais eram as condições exigidas por seus representados” para estudar uma possível “margem de negociação” na definição do spread bancário, mas que considerava “inadimissível a decisão unilateral do governo de baixar os juros dos bancos estatais”.

Pela primeira vez, vimos um representante da banca sair com o rabo entre as pernas de uma reunião com o governo depois de ter feito as tais declarações arrogantes e mal acostumadas. Foi rapidamente desautorizado pelos demais generais da banca privada quando viram que o vento não estava mais a favor, alguns daqueles analistas economicos com altos cargos executivos continuaram publicando artigos e dando entrevistas prevendo que a estratégia agressiva de promover uma concorrência de verdade, inédita no setor, não por decreto, mas de maneira ousada, corajosa e (principalmente!) inteligente através da oferta de juros mais baixos pelos bancos controlados pelo governo, conseguiu mudar o que parecia impossível: criar finalmente linhas de financiamento para nosso imenso e até então adormecido mercado interno.

Pois bem, já convivemos com essas circunstâncias há algum tempo e ninguém morreu por isso ainda (quer dizer, nenhum banco, exceto aqueles que tinham outros problemas), eu sei muito bem que existe sim algumas características especiais numa instituição como o Banco do Brasil que merece certa precaução administrativa, custo operacional maior por conta da remuneração dos funcionários acima do mercado, entre outras coisas, mas a conquista de mais clientes e aumento da quantidade de produtos e serviços foi bem expressiva, mas talvez tenha sido apenas o primeiro passo, pois na sequência disso a crise da Europa se agravou e a dos Estados Unidos vive a tensão pré eleitoral. Se a crise financeira da bolha especulativa ainda parece ser só notícia internacional para a maioria dos brasileiros, a nossa TPE, junto com o “julgamento do século” e mais a guerra de audiência das tvs nos deixa em compasso de espera, enquanto o momento seria para marcar posição firme, inclusive frente aos países desenvolvidos, de uma nova postura em relação ao capital especulativo e o poder das corporações financeiras internacionais, além dessa verdadeira obra de ficção ou ilhas da fantasia que são os paraísos fiscais.

Pois essa nada breve introdução, admito, é a maneira que encontrei para embasar uma singela sugestão que gostaria de lançar aqui neste blog para virar o jogo, pois os donos do dinheiro (do nosso dinheiro!) já estão movendo seus peões e tanques de retórica publicitária camufladas de jornalismo especializado no sentido de fazer o público transformado em consumidor classe média com poder aquisitivo acreditar que o que era doce vai acabar se o governo insistir com essa coisa de baixar também as taxas em níveis razoáveis, novamente sem decreto, apenas usando da livre concorrência de mercado (e nada poderia ser mais irônico em se tratando de reclamação de bancos privados seguidamente recordistas de lucros e dividendos).

Eis a sugestão:

(acho que muitos vão achar delirante, mas jamais serei omisso, ainda mais que escrevo diretamente aqui no blog, num impulso motivado pela cartinha que recebi ontem do meu banco – um dos quatro maiores privados do país – anunciando o aumento do pacote de serviços que me cobram de 45 para 55 reais, logo depois do bombardeio das notícias da sexta sobre os tais rumores sobre a queda do preço das taxas no BB)

Imagino que a Presidente Dilma poderia anunciar um pacto entre o Banco do Brasil, seus funcionários e acionistas para uma grande transformação na instituição, buscando conquistar cada brasileiro para além de ser cliente e cidadão, comprar ações e ser também sócios de quem vai financiar nosso futuro, o que incluiu melhorar e muito o atendimento humano nas agências e as condições de trabalho dos funcionários, estabelecendo uma relação de parceria com os demais agentes economicos para garantir e promover políticas de desenvolvimento sustentável que possam inclusive ser exportadas.

Porém, o melhor deixei para o final: A grande marca da virada seria dar ao político mais popular do país o papel que só ele pode desempenhar como o condutor público desse processo, não há ninguém mais capaz de mobilizar todos os brasileiros com sua capacidade de comunicação e carisma pessoal  para vender a idéia do cidadão acionista do Banco do Brasil. Assim, com um garoto propaganda desses, mudamos o curso da guerra ideológica (mas nem tanto) e de repente colocamos na conversa do ponto de ônibus o lançamento de uma IPO (Oferta Pública de Ações do original em inglês) original invertendo a lógica do monopólio da banca privada e trazendo Lula de volta para sua vocação de líder mundial (pois isso seria uma quebra de paradigmas importante), além de facilitar a transição dessa crise política que atinge todos os partidos.


Como disse, é apenas uma sugestão singela na véspera de uma eleição estranha sob um cenário de violência institucional, mas acredito que o Nassif, a quem acompanho como leitor e ouvinte desde criança (especialmente suas memórias musicais e afetivas em crônicas inspiradas e chorinhos idem) possa traduzir essas improvisadas frases nessa manhã de sábado em algo que todos possam ler como o grito dos independentes.

Lembrando Gianfrancesco Guarnieri:

Um Grito Parado no Ar

Redação

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