Simplício acordou certa manhã decidido a tirar a limpo a questão do imposto de renda da pessoa física. Por que trabalhador no Brasil paga proporcionalmente mais imposto que capitalista? Para Angeline, com seu peculiar sarcasmo, a explicação é simples: porque quem faz as regras do imposto de renda da pessoa física trabalha a favor do capitalista, ora bolas. “É uma questão de poder”, disse a Simplício. “Quem pode pode, quem não pode se sacode.”
– Mas a maioria da sociedade são trabalhadores, Angeline. Não é possível que num sistema democrático esse tipo de privilégio dos ricos ainda prospere contra o interesse majoritário dos trabalhadores e da classe média.
– Temos na democracia muitos restos da ditadura, ponderou Angeline. Este é um deles. Para se pagar pouco imposto de renda no Brasil só há uma saída: virar rico. E olhe, tudo é feito dentro do figurino. É uma espécie de roubo institucionalizado em relação a quem tem seu imposto descontado na fonte, sem escapatória.
– Esse não tem sequer como sonegar, observou Simplício.
– Ah, se tivesse, a conta da sonegação seria altíssima. Afinal, qual seria o princípio moral que levaraia um trabalhador a pagar integralmente seu imposto de renda quando o patrão está dispensado da maior parte dele? Desgraçadamente para o trabalhador, o desconto na fonte é implacável.
– Não há jeito de mudar isso?
– Claro que há, afirmou Angeline. Se aquela multidão de junho que se juntou nas capitais, principalmente no Rio, tivesse como objetivo mudar as regras do imposto de renda, o Governo não teria alternativa a não ser ceder. Entretanto, um movimento desse tipo seria inteligente demais para ganhar a rua, que na época se tornou o espaço dos inconformados sem foco.
– Ou dos black blocs.
– Estes têm foco: são anarquistas. Querem quebrar tudo e destruir a ordem social. Mas parece que essa estupidez se esgotou por falta de maior adesão social.
– Voltemos ao imposto de renda. A saída são novas manifestações?
– Acredito que sim. Pela via parlamentar é impossível: a Fazenda bloqueia, pois a única desoneração tributária que aceita é a desoneração dos ricos, como tem feito. Só o movimento popular é capaz de levar o imposto dos ricos ao nível dos impostos das classes médias.
Simplício escreveu na agenda vermelha: Se é que é para dar a César o que é de César, que não haja discriminação tributária a favor dos ricos.
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A classe pobre é…
As classes pobres (B, C, D, E…), são massa de manobra dos ricos no Brasil e no Mundo.
Única solução é comer pelas beiradas, o governo está fazendo isto, mas deve ter paciência.