Vidas paralelas: Sinon e Temer

No final do ano, Michel Temer disse que está cansado de apanhar injustamente https://jornalggn.com.br/noticia/temer-esta-%E2%80%9Ccansado-de-apanhar-injustamente%E2%80%9D-diz-jornal. Nem a grande imprensa, nem os blogueiros que fazem oposição ao usurpador foram capazes de avaliar com profundidade esta declaração.

Temer se diz injustiçado. Portanto, ele considera perfeitamente justo suas ações para minar a democracia brasileira. Todavia, ele foi totalmente  injusto ao agir como agente da Embaixada dos EUA e conspirar para derrubar Dilma Rousseff.

O usurpador também parece acreditar que seu programa de reformas é justo. Todavia, Temer reduziu os direitos sociais dos brasileiros em situação econômica mais frágil e pretende impor aos pobres 20 anos de congelamento de investimentos em saúde e educação. Se fosse capaz de se colocar na pele de suas vítimas, ele certamente perceberia que está sendo injusto.

É, evidente, portanto, que Temer considera justas todas as injustiças que ele praticou e pratica. Isto explica como e porque o usurpador julga injustos todas as críticas que, com justiça, ele tem recebido. Todavia, há algo ainda mais importante a dizer sobre este assunto.

Ao se dizer “cansado de apanhar” sire Michel Temer revela duas características de sua personalidade. A primeira é a incapacidade dele de aceitar todas as coisas boas e ruins associadas ao cargo que ele usurpou. Se quer ser apenas aplaudido, Michel Temer deveria ter se limitado a frequentar seu clubinho de maçons. Numa sociedade complexa e heterogenea como a brasileira, a única coisa que um presidente pode esperar são vaias. Dilma Rousseff foi vaiada várias vezes, mas estava à altura do cargo para o qual foi eleita.

A segunda é autoritarismo de Michel Temer. Mesmo que estivesse sendo injustamente atacado, ele tem o dever intelectual, cívico e constitucional de ser tolerante. Afinal, como jurista ele sabe muito bem que a CF/88 garante a todos os cidadãos (inclusive aos adversários dele) o direito à liberdade de consciência e de manifestação. A justiça ou injustiça dos ataques que ele recebe são, portanto, irrelevantes. Afinal, ele não pode nem censurar nem perseguir seus desafetos porque eles utilizam as garantias constitucionais que são asseguradas a todos os cidadãos.

Ao se dizer cansado de apanhar injustamente Michel Temer só resta fazer três coisas. Renunciar, revidar ou sair da vida para entrar na história.

Vivemos num Estado republicano dotado de uma constituição. Ela permite a Temer renunciar. Ao fazer isto ele não precisa explicar nada a ninguém, tampouco precisa pedir autorização para quem quer que seja. No que se refere à renúncia, único juiz de sua consciência e ação é ele mesmo.

“Se cada um tem, por natureza, o direito de se preservar, tem necessariamente o direito aos meios necessários para a sua autopreservação. Neste ponto, a questão que se coloca é saber quem deve julgar quais são os meios necessários para a autopreservação do indivíduo ou, em outras palavras, quais são os meios devidos ou justos.” (Direito Natural e História, Leo Strauss, editora WMF Martins Fontes, São Paulo, 2014, p. 224).

Revidar é algo que Michel Temer pode fazer. Na qualidade de comandante em chefe das Forças Armadas, ele tem à sua disposição os instrumentos estatais de violência. Todavia, a conduta dele neste caso não seria nem legal, nem justa. As Forças Armadas existem para defender o Estado, instituição pública com o qual um governante temporário deve se identificar. Além disto, aqueles que atacam o usurpador tem direito à liberdade de consciência e de expressão e não podem ser tratados como inimigos internos do Estado.

O suicídio é uma saída honrosa a disposição de homens que se colocam a serviço de um país, de uma ideologia ou do bem estar da parcela da população que acostumou a representar. Michel Temer é um homem vil que tudo fez para satisfazer seu desejo egocentrico de ser presidente. Ele está disposto a sacrificar 205 milhões de brasileiros para fazer feliz 1 milhão de ricos que nasceram no Brasil e amam mais os EUA e a Europa do que o nosso país.

A ausência de grandeza de Michel Temer, aliás, explica seu cansaço e sua disposição de revidar os ataques que, com justiça ou não, ele tem recebido. Ele não pode ser comparado nem a Getúlio Vargas (que se suicidou para destruir seus adversários), nem à própria Dilma Rousseff (que resistiu ao golpe de Estado para expor a injustiça que foi praticada pelos golpistas). Mas não podemos dizer que Michel Temer não tem um paradigma histórico.

Um grande historiador europeu disse que o pensamento histórico tem:

“… a dupla incumbência de realizar, em primeiro lugar, um estudo comparativo dos diferentes ciclos vitais e, em segundo, demonstrar o sentido que possam revelar as relações acidentais e irregulares entre as culturas. A segunda tarefa pressupõe a execução da primeira. As relações são variadíssimas, já pelas distâncias de espaço e de tempo.” (A Decadência do Ocidente, Oswald Spengler, editora Forense Universitária, Rio de Janeiro, 4a. edição, 2014, p. 238)

Aqui mesmo no GGN já comparei Michel Temer a Calígula https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/vidas-paralelas-caligula-e-michel-temer e a Castelo Branco https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/castelo-branco-e-michel-temer-vidas-paralelas-por-fabio-de-oliveira-ribeiro. Há uma outra comparação que pode ser feita.

Sob o novo governo o Brasil afundou no desemprego e na depressão econômica. Tanto que alguns veículos de comunicação que apoiaram o golpe já começaram cogitar a necessidade da queda de Michel Temer. Ele foi capaz de enganar o PT e Dilma Rousseff para se tornar vice, escondendo ardilosamente seu projeto pessoal de se apropriar das propostas econômicas do PSDB para depor a presidenta a fim de garantir a impunidade da quadrilha a que ele pertence. Mas não foi capaz de levar o país a uma situação melhor do que aquela em que o pegou.

Em 50 anos ele será lembrado como uma nota de rodapé, sendo culpado por um período de desemprego, desespero, fracasso econômico e turbulência política. Em 100 anos o usurpador será apenas mencionado como um vice-presidente que, para atender aos interesses norte-americanos, traiu a confiança do povo que elegeu Dilma Rousseff. Daqui a 200 anos Michel Temer será lembrado apenas como mais um traidor ardiloso que entrou na História sem ter se tornado o personagem central do breve período em que governou o Brasil. 

Nesse sentido, podemos comparar Michel Temer a Sinon. O usurpador é uma versão piorada e decadente do mentiroso contumaz que convenceu os troianos de que os gregos haviam levando o cerco à Tróia e voltado para a Grécia. Como Sinon, Temer está fadado a desaparecer da História sem deixar qualquer rastro importante.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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