Videla e a violência da ditadura argentina

Por Ivonildo Dourado

Do Opera Mundi

Para ex-ditador, sociedade argentina foi a principal protagonista da violência do período militar

por Luciana Taddeo, no Operamundi

“A sociedade argentina foi a principal protagonista dos fatos ocorridos”. Esta declaração definiu o tom do discurso do ex-ditador argentino, Jorge Rafael Videla, nesta terça-feira (21/12), penúltimo dia de audiências do julgamento oral e público que o levou ao banco dos réus pela segunda vez desde 1985.

Durante cerca de cinquenta minutos, o repressor leu um documento que chamou de “manifestação aos juízes”, no qual reafirma usuais declarações de que a violência aplicada pelos militares durante a ditadura cívico militar (1976-1983), que deixou um saldo estimado de 30 mil desaparecidos, se deveu a uma “guerra interna iniciada pela agressão terrorista”.

Lame”Lamento sim, as sequelas de todas as guerras”, disse Videla.

As declarações foram dirigidas principalmente à “juventude manipulada pela desinformação e pela propaganda arteira”. O ex-ditador justificou o terrorismo de estado com a “violência agonizante” que o país sofria na década de 1970. Segundo ele, a versão hoje contada oculta partes desta guerra, que “materializou a legítima defesa da nação agredida”, tergiversa o que realmente teria acontecido e que apelar às forças armadas foi o “último recurso pra derrotar as forças terroristas”.

No decorrer do discurso, o ditador se perguntou: “Quando realmente terminou esta guerra?”. Segundo ele, “é falso querer simplificar os fatos ao extremo de afirmar que esta foi resultante de um confronto armado entre grupos antagônicos, neste caso, pobres idealistas versus militares que os reprimiam por pensar distinto. Tudo isso, frente a uma sociedade alheia e expectadora.”

Videla também afirmou que está sendo utilizado como bode expiatório pela sociedade para lavar sua culpa coletiva: “caiu na tentação de acudir à figura do bode expiatório, assumindo uma visão hemiplégica dos fatos, o que resultou na morte de milhares de argentinos”.

Com voz firme e aparente tranquilidade, Videla afirmou ter sofrido seis atentados contra sua vida e se definiu como um preso político que sofre com o “terrorismo judicial”. O ditador, no entanto, assumiu novamente, como já tinha feito ao longo da sentença, a integral responsabilidade pelos fatos ocorridos, repetindo a afirmação de que seus acusados teriam somente cumprido suas ordens.

Críticas ao governo

Videla aproveitou para criticar o atual governo da presidente Cristina Kirchner, eleita democraticamente em 2007. “Sem dúvidas que inimigos de ontem cumpriram com o seu propósito, hoje governam o país e pretendem se erguer em paradigmas da defensa dos direitos humanos. Já não precisam de violência para chegar ao poder, porque estão no poder. E nele tentam a instalação de um regime marxista, tomando as instituições como reféns”, acusou.

Esta é a quarta vez que o repressor faz o uso da palavra durante este julgamento, que teve início em julho deste ano. Videla é acusado, ao lado de 30 militares e policiais, por assassinatos e torturas cometidos em 1976, em uma prisão de Córdoba, pela causa conhecida como UP1 (Unidade Penitenciária 1).

“Não vim me defender, mas frente a esta realidade que não está em minhas mãos sua mudança, assumirei, sob protesto, a injusta condenação que me possam impor”, declarou ao fim do discurso. Ao terminar sua declaração, Videla foi aplaudido pelos acusados e familiares dos mesmos.

Ao lado do ex-ditador, mostrando bastante apatia, o ex-comandante do Terceiro Corpo do Exército, Luciano Benjamín Menéndez, que comandava as atividades militares de dez províncias do noroeste argentino, deve fazer seu último pronunciamento na abertura da audiência desta quarta-feira (22/12), dia em que será ditado o veredicto. 

Luis Nassif

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