Walther Moreira Salles e o acordo atômico brasileiro

Dean Acheson, Alvaro Alberto, Walther Moreira Salles

Um dos episódio mais relevantes, na primeira embaixada de Walther Moreira Salles em Washington, foi o apoio dado ao Almirante Álvaro Alberto para montar o Programa Nuclear Brasileiro.

Em 25 de maio de 1953, Walter recebia um relatório sob a rubrica de “SECRETO”, narrando as conversas com Gordon Dean, Presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, a respeito da produção de energia nuclear para fins industriais no Brasil.

Pouco antes, acompanhado do Contra-Almirante Álvaro Alberto, fora convidado por Dean para uma visita ao museu de pedras mantido pela Comissão de Energia Atômica. Enquanto passeava pelas vitrines, uma pedra lhe chamou a atenção. Estava absorto olhando-a quando foi interrompido por Dean:

– É de Poços de Caldas.

Só aí o embaixador se deu conta de que a sala continha mostruário de pedras de todo o Brasil, devidamente mapeados.

Dean Acheson, Alvaro Alberto, Walther Moreira Salles

Os contatos do governo Vargas com Dean começaram antes, mais precisamente em novembro de 1951, quando um Secretário da Embaixada dos EUA no Rio procurou Álvaro Alberto com um documento confidencial de Dean.

Quinze meses depois, em 27 de fevereiro de 1953, Álvaro Alberto informou Dean que estava autorizado a procura-lo em Washington, “para discutir matérias de mútuo interesse dos Estados Unidos e do Brasil”. Os primeiros contatos haviam sido feitos em 1951. Como se recorda, em outubro daquele ano os russos haviam explodido sua segunda e terceira bomba atômica.

Álvaro Alberto solicitou ao chanceles João Neves da Fontoura para que os contatos fossem tocados pela embaixada brasileira em Washington e qualquer acordo deveria ser preparado pelo Itamarati.

Antes de seguir para Washington, Álvaro Alberto manteve reunião secreta com o Estado Maior das Forças Armadas.

Chegando a Washington, não pode se encontrar de pronto com Dean, que supervisionava experiências atômicas no interior dos Estados Unidos. E deu-se conta do sigilo da missão quando o governador do Rio, Amaral Peixoto, em visita a Nova York apresentou Álvaro Alberto ao almirante Lewis L. Strauss, assessor de Eisenhower para assuntos de energia atômica. Nem Strauss parecia saber do que se trava a conversa de Dean.

Assim que retornou a Washington, Dean marcou a reunião. Estavam presentes o senador John Hall e pelos geólogos William Johnson e Max White.

O interesse de Dean era pelo urânio do Brasil. Álvaro informou que não estava credenciado a entrar nessas negociações. A proposta dos norte-americanos era a criação de três grupos de trabalho para estudar questões ligadas a mineração e metalurgia.

Do lado brasileiro, Álvaro Alberto informou que a prioridade era a formação de cientistas. Ele já tinha mapeado as instituições norte-americanas para receber estudantes brasileiros.  Uma centena já havia sido enviada aos EUA, enquanto cientistas reconhecidos eram convidados a visitar o Brasil. O interesse brasileiro era dominar a tecnologia nuclear para geração de energia.

Por aqueles tempos, haviam sido desenvolvidos pequenos reatores nucleares, criando um novo horizonte para o setor. Em 27 de dezembro de 1952, o próprio Gordon Dean anunciou o desenvolvimento do reator “Power package”, a um custo de US$ 5 milhões.

A USAEC estava interessada em urânio metálico e plutônio. A proposta era de desenvolver reatores menores que pudessem abastecer centros mais afastados, reatores maiores para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Em troca, o plutônio produzido pelas usinas seria oferecido ao governo norte-americano.

Com base nesse relatório, no dia 17 de agosto de 1953, Walter preparou um memorando ao Almirante Lewis L. Strauss, presidente da United States Atomic Energy Comission para o acordo a ser assinado em breve.

No dia 17 de dezembro de 1954, o Conselho Nacional de Pesquisas aprovou moção proposta por Álvaro Alberto, de aplausos à atuação de Walter no episódio.

1955 – James Scott Kemper, emb. americano envia carta ao Itamaraty em 15.3.55 propondo reinicio das conversações entre os EUA e o Brasil para esse convenio de cooperação. Afinal e assinado um Acordo de Cooperaçao para usos civis de Energia Atomica em 3.8.55, por Raul Fernandes, Min. das Rel. Exteriores e James Clement Dunn, emb. americano no Brasil . (MONIZ BANDEIRA, Presença dos Estados Unidos no Brasil p.372)

Em 1º de dezembro de 1952,o engenheiro químico J.H. Hayner, contratado pelo Brasil, havia apresentado um alentado relatório dando o mapa para ao Brasil conseguir dominar a tecnologia atômica.

Englobava como ponto central o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de S Paulo. Depois, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o Departamento de Física da Escola de Engenharia e Faculdade de Ciências da Universidade de S Paulo, o Departamento Elétrico do Instituto Nacional de Tecnologia, do Rio de Janeiro, o Departamento de Química e Metalurgia do IPT, o Departamento de Física da  Escola de Engenharia e Escola de Ciências da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.

Incluía a Orquima, Indústrias Químicas Reunidas S/A  para a separação do tório das areias monazíticas.

O relatório mencionava as reservas minerais do país, incluindo as areias monazíticas e as “djalmaitas”, depósitos em S João Del Rey.

Mas a parceria  com os EUA não chegou a avançar, devidos às próprias restrições da legislação atômica norte-americana. O projeto brasileiro acabou sendo tocado sigilosamente com cientistas alemães.

Abaixo, a moção de aplauso do Conselho Nacional de Pesquisa ao apoio de Moreira Salles. Em anexo, inédito, o documento contratado pela embaixada brasileira, para orientar a coordenação dos institutos brasileiros para o desenvolvimento atômico.

Proposta acordo Acordo Atomico
Luis Nassif

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Na verdade o Governo lacaio e fascista de GV abriu mão do desenvolvimento da Energia Atômica, sob a expressa ordem do governo norte-americano. Tecnologia que foi desenvolvida durante os Governos Militares pós 1964, muito a contragosto e sabotagens do Governo dos EUA. Ou ninguém se lembra das Centrífugas da WW que nunca funcionaram? O Governo Militar foi buscar a tecnologia no Mercado Negro, dando Soberania e Amplitude defensiva aos nosso país com a Tecnologia Atômica. 88 anos da Indústria do Atraso, de Governos Lacaios, da Vitimização, do Analfabetismo. O Brasileiro enfim se liberta e começa a enxergar. E se livrar daquela Quartelada Ditatorial Fascista de Baixa Patente.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador