Weintraub, o senhor dos anéis que perdeu os dedos, por Luis Nassif

E o pobre Weintraub despediu-se da vida pública tentando desesperadamente abraçar Bolsonaro que manteve-se frio, calado e inerte que nem uma bóia furada, com receio de afundar com o náufrago

A imagem mais significativa nesses tempos de balbúrdia foi a foto do Ministro da Educação Abraham Weintraub agarrado a Jair Bolsonaro, como quem segura uma bóia em alto mar. E Bolsonaro inexpressivo e calado como uma bóia.

Os olhos súplices de Weintraub pareciam dizer: não me abandone, não me abandone. O pedido não era em relação a Bolsonaro, mas à fé cega de que poderia cometer todas as impropriedades impunemente e que agora se esboroa, a ponto de ter que fugir do país com receio de ser preso.

É o mesmo sentimento avassalador que coloca em pânico  Youtubers bolsonaristas, arruaceiros, brigões de rua, especializados em se reunir em bando e agredir os mais fracos, mas temerosos da ação da polícia.

De repente, foram alçados a uma posição em que o chefe do chefe da polícia se tornou o chefe do bando, liberando geral para promover badernas impensáveis sem serem incomodados. E eles, os valentões de rua, passaram a replicar o estilo baderneiro na política nacional, sem receio de serem incomodados pela polícia.

Xingando, arregimentaram seguidores; xingando, alguns se tornaram parlamentares. Eleitos, continuaram moleques de rua, sempre confiando no guarda-chuva protetor do chefe do chefe da policia.

Weintraub fez caminho inverso. Trabalhou por décadas no Banco Votorantim. Lá, tentava se destacar dos colegas exibindo uma mini-erudição que, em todo caso, era superior a dos colegas, que só se importavam com números. O banco quebrou, sim, por erros enormes cometidos no financiamento de veículos. Foi salvo por uma sociedade providencial com quem? Com um banco público, o Banco do Brasil. Com a crise do banco, a auto-estima de Weintraub foi para o ralo. E, para levantá-la, recorreu ao mago dos egos, Olavo de Carvalho, cuja pregação tem o condão miraculoso de convencer qualquer imbecil que sua imbecilidade, no fundo, é uma genialidade incompreendida.

Entrando no Ministério da Educação, Weintraub seguiu uma estratégia comum aos que sofrem de baixa auto-estima. Aplicou o estilo  que Joaquim Barbosa – muito mais erudito e sério que ele, saliente-se –  praticava no meio jurídico: quando estiver com os amigos de praia, mostre sua erudição; quando estiver com os eruditos, exponha seu estilo de garoto de praia. Um juiz formal, ou um especialista em qualquer tema sério, dificilmente terá equilíbrio para discutir no campo destinado aos garotos de praia.

Foi assim que Weintraub decidiu aplicar a retórica de rua no MEC. Lá, poderia enfim ter sua revanche da vida. Não precisaria mais puxar o saco de chefes, se submeter às regras de convivência com colegas, perder o sono com sua falta de competência, com sua incapacidade de entregar resultados. Bastaria cultivar uma pessoa – Jair Bolsonaro – e atender ao seu baixíssimo grau de exigência:  entregar bazófias, ataques ao marxismo cultural, extravagâncias e ataques à mídia, e nada mais lhe seria cobrado.

A reunião ministerial do dia 22 de abril foi a grande celebração nacional do puxa-saquismo. Houve uma disputa surda entre os inacreditáveis Onyx Lorenzoni, Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, e Weintraub, para ver quem melhor agradaria o chefe, quem levaria o troféu puxa saco de ouro.

Guimarães usou um discurso imbatível.

Primeiro, atacou com a ira dos justos os PMs cariocas que estavam prendendo pessoas que desrespeitavam o isolamento, um dos temas preferenciais de seu chefe. Depois, trouxe um fato patético, o amigo cuja filha foi transportada no camburão, o lado familia contra o Estado, outro tema preferencial do chefe. Finalmente, chegou ao cerne do discurso que sensibiliza as bestas-feras do supremacismo branco: mexeu com minha família, leva tiro. Alguém mexeu com sua família? Ninguém. Mas poderiam ter mexido. E se poderiam ter mexido, eu poderia pegar uma de minhas 19 armas e poderia sair à rua atirando, sem me importar com minha vida. A chamada bazófia sem risco, típica do Barão de Munchausen.

Pode declaração maior de amor a Bolsonaro? Família, anti-isolamento, armamento contra as instituições.

Inferiorizado pelo versão tupiniquim de “os brutos também amam”, Weintraub precisava de uma saída de maior rompante. E aí o diabo lhe soprou no ouvido e ele saiu com a frase célebre dizendo ser necessário prender “aqueles vagabundos” do Supremo. Falou, blasfemou e olhou indagativo para Bolsonaro, perguntando com os olhos: “me saí melhor que o Pedro?”.

Aí, descobre que o chefe do chefe da Polícia estava blefando, que não tinha o poder que alardeava, por isso não poderia oferecer a proteção que prometia.

E o pobre Weintraub despediu-se da vida pública tentando desesperadamente abraçar Bolsonaro que manteve-se frio, calado e inerte que nem uma bóia furada, com receio de afundar com o náufrago, e imaginando que os próximos presos poderão ser seus filhos.

Luis Nassif

20 Comentários

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  1. Conhecendo somente a breve passagem desse sujeito pelo desgoverno atual é de se espantar que o banco Votorantim não tenha quebrado antes,talvez porque sua posição na entidade não era compatível com tal feito.

    1. Caro Vladimir

      É INACREDITÁVEL que este sujeito, que possui um espaço vazio entre as orelhas, seja PROFESSOR de uma UNIVERSIDADE PÚBLICA! Deve ter havido fraude, não é possível. Precisamos rever os processos de seleção de professores (pelo que sei, ele é mestre (!!!!!). Universidades públicas só admitem doutores, pelo que sei – basta ver os editais de contratação)

        1. Meu caro, me desculpe, mas ele NÃO É professor da FEA-USP. Ele é professor da UNIFESP, universidade que é pública, mas é uma universidade federal, enquanto a USP é estadual. Weintraub estudou na USP, mas isso quer dizer o que? Absolutamente nada… Veja que o problema dele não é ser neoliberal. O problema dele é ser imbecil, num nível muito além daquilo que um neoliberal normalmente é. E Luís Armidoro, Universidades Públicas podem sim admitir mestres, desde que o edital do concurso preveja que a titulação mínima seja o mestrado. Não é comum hoje em dia, mas que é possível, é. Em muitas áreas – não é o caso de Economia, é difícil encontrar pessoas com doutorado. Caso exemplar é o da Medicina, onde com um consultório mequetrefe o camarada ganha muito mais do que como professor TITULAR, que é o último nível da carreira de um professor de uma universidade pública. É de fato assombroso que um indivíduo como Weintraub seja professor de uma universidade pública… mas acontece. Eu não sei como foi o concurso dele, mas basta acontecer uma merda destas: digamos que ele prestou o concurso e ficou em terceiro lugar. O primeiro colocado assumiu a vaga, mas por alguma razão pediu exoneração e foi embora para outro emprego ou universidade. Convoca-se o segundo colocado, mas este não pode ou não quer, pois já está empregado em outra universidade após ter prestado outro concurso. Digamos que o edital do concurso tem validade para dois anos (às vezes renováveis por mais dois)… e o que vai acontecer?? Bingo! chegamos no Weintraub, que em condições normais não seria o selecionado, mas tem o direito de ser chamado. E aí fudeu… ele entra.

          1. No caso do Weintraub ele foi o único candidato que prestou o concurso. Às vezes, com medo de perder o direito da vaga, se faz o cálculo que é melhor ter um professor ruim do que nenhum e, na época, Weintraub pode não ter demonstrado toda sua ‘irudissão’.

  2. Nassif: depois dessa —

    “E o pobre Weintraub despediu-se da vida pública tentando desesperadamente abraçar Bolsonaro que manteve-se frio, calado e inerte que nem uma bóia furada, com receio de afundar com o náufrago”

    — eu não digo mais nada.

    PS: só espero não abandonem o “companheiro” à beira do caminho, como fizeram os Tucanídios com o PauloMoreninho…

  3. há de se fazer um parelelo: Joaquim Barbosa inaugurou o termo chicana no plenário do stf. e o alexandre de moraes, feito um youtuber, incluíu filho da puta.

  4. NASSIF ..isso é pra você me ajudar a refletir

    ACHO um perigo, uma negligência pra dizer dum mínimo, qdo vejo como muitos “ditos progressistas” (que tb padecem da ARROGÂNCIA e excesso de confiança em suas “assertivas”) tratam do fenômeno OLAVO DE CARVALHO.(OC)
    No texto vejo que vc foi bem até qdo disse que Weintraub apelou ao GURU qdo se viu com a autoestima no pé ..e é isso mesmo ..é dessa Matéria Prima que OC vive, da baixa autoestima que, devidamente forjada, é canalizada a um alvo com ÓDIO desmedido.
    Sempre suspeite INTUITIVAMENTE que OC dispõe de técnica e método (não sei se desenvolvido por ele ou com ajuda de agentes externos), e que ele se vale da neurolinguística pra formar seu séquito ..e eis que numa entrevista dada por sua filha ao DCM ela confirmou essa minha suspeita, acrescentando que o tal guru se dedicou também ao tema “hipnose” que, todos sabemos, até parece uma fraude pra quem esta vendo, mas que é uma realidade inconteste pra que a esta vivendo.

    RESUMINDO caro NASSIF, acho que passou da hora de ficarmos numa análise superficial do O.C. e começarmos a consultar outros especialistas pra nos clarearem de que tipo de técnicas ele se vale pra fazer com que os crentes e desesperados (pessoas já propensas a receber de algum milagre) adiram com fervor a tanta INSANIDADE ..afinal, de contas a pratica nos mostrou que não falamos de poucas dezenas, mas de MILHARES de almas.

  5. Ontem li em algum lugar que os colegas de banco consideravam Weintraub um sujeito cordial, gentil e culto.

    Djisus. Estou aqui fazendo um terrivel esforço para imaginar o naipe da turma.

    Difícil.

  6. Quando digo que a oposição é incompetente, preguiçosa e a maioria conivente com as patifarias do coiso contra o trabalhador acham que é exagero……até agora não consegui entender a falta de uma cpi para passar o pente fino no tal auxilio emergencial, cheio de estorinhas mal contadas e outras esquisitices como loterias que se acumulam indefinidamente……garanto que, como dizem os “malacos ‘ da quebrada”, ficaria pequeno para o coiso……

  7. A correspondência justa e pessoal para quem comete erros tão grotescos ao escrever. Esse sujeito é iletrado, ignorante, mal caráter e sabujo. Ou a estética e a ética caminham juntos como disse Foucault. Resta uma pergunta: como ignorantes como esse chegam tão alto na carreira? Se a elite brasileira for ignorante assim a desgraça desse país vai longe!

    1. Vera, isso se explica porque nossa elite miserável ligou o botão foda-se pro país. Não que essa elite miserável tenha sido grande coisa. No seu melhor momento, era de segunda divisão. Hoje é de quinta com risco de rebaixamento. Bolsonoro e sua versão com ensino superior Weintraub são terríveis, mas passarão. O problema é gente de sobrenome Salles, Amador Aguiar, Setubal, Frias, Marinho, Mesquita, Lehmann. É essa gente que permite que um desqualificado ( que eles sabiam muito bem que o é ) chegue a presidência unicamente porque este imbecil deixou claro, com a indicação de outro desqualificado que é o Guedes, que eles estão livres de toda quota de sacrifício para melhorar o país, que continuarão a não pagar nada pelos lucros de sua empresa enquanto um trabalhador que tem a sorte de ganhar dois mínimos na carteira assinada já paga imposto de renda. Essa elite hoje não quer saber de criar um projeto de país. Isso dá trabalho. É melhor viver do que os papais e avós deixaram de herança e mesmo quando tudo dar errado, como os Civvitas, ainda sobre uma grana boa pra viver por gerações enquanto funcionários da Abril ficam com uma mão na frente e outra atrás, sem receber os devidos direitos. E não me iludo = mesmo que o próximo presidente seja um Flavio Dino, que consiga dar jeito na catástrofe Bolsonaro e faça o país ter orgulho de si, passado um tempo ele será traído e cassado e caçado como foi Lula.

  8. Torço que Weintreub consiga o posto do Banco Mundial. Lá, sem seu público de loucos e ignorantes, verá o tamanho de sua mediocridade, será colocado em seu devido lugar. Comparo esse personagem que nem o genial Dias Gomes teria criado ( um ministro da educação analfabeto) a um Ed Wood do Mal. Ed Wood é considerado o pior diretor de todos os tempos, que acreditava de verdade que cada plano que dirigia era uma obra prima, assim como Weintreub tem a certeza de que se trata de um gênio incompreendido. Porém, ao contrário de Weintreub, Ed Wood mostrou-se generoso ao dar acolhida a um decadente e viciado Bela Lugosi, que se imortalizou no papel de Drácula.

  9. Se entrou c/ passaporte diplomático de ministro, teria de atualizar o status imigratório assim q fosse exonerado. Necessitaria sair dos EUA novamente p/ pegar o visto p/ trabalhar no Banco Mundial qdo tiver aprovação e ingressar novamente nos EUA. Se não o fizer, estará irregular

  10. Explicitando, fizeram com a Dilma e acharam que podiam fazer com o STF.

    A última coisa certa que ouvi o Ciro falar foi que a Dilma agia corrretamente como a rainha da Inglaterra contra o Cunha.

    Bastou o Toffoli e d+ colegas sujarem 1 pouco as mãos e acabaram com os detratores.

  11. É comum, aqui, confundirem os gentílicos que se empregam para se referir às pessoas ou instituições do estado do Rio de Janeiro (o todo) e àquelas da cidade do Rio de Janeiro (a parte). De novo: àqueles do estado, deve-se empregar o termo “fluminense”, como se emprega “paulista” aos do estado de São Paulo; e àqueles da cidade do Rio de Janeiro, pode-se empregar o termo “carioca”, como se emprega “paulistano” exclusivamente aos da cidade de São Paulo. Portanto, policiais militares, promotores, juízes, deputados estaduais, no estado do Rio de Janeiro, devem, no exercício de suas funções, ser referidos como “fluminenses”, e não como “cariocas”. Portanto, a frase “atacou com a ira dos justos os PMs cariocas” é o tipo de erro primário que me custa a crer que ainda seja cometido por aqui.

  12. Acho que houve um engano terrível nesse artigo: o título referencia “O Senhor dos Anéis”, mas a imagem é de “Harry Potter”.

  13. Nassif, tenho uma visão diferente da sua…O constrangimento de Bolsonaro nesta foto é porque está demitindo um dos luminares da ala ideológica radical totalmente contra a sua vontade, tanto que “empurrou” Weintraub para um posto com salário quase 4 vezes maior…Não sei se este agrado do presidente ao STF terá algum resultado para livrar a sua cara e de seus filhos, mas foi por isto que a demissão ocorreu. Tenho certeza de que entre 4 paredes Bolsonaro só faltou chorar diante do Weintraub por ser obrigado a demiti-lo. Quem ficou menor com essa demissão, como se isso fosse possível, foi o presidente e não o ex-ministro da (des)Educação!

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