WWF e BH: Um Premio Desastroso

Belo Horizonte, 27 de março de 2014.

Prezados Senhores da WWF Brasil,

Gostaria de poder estar orgulhoso em ver minha querida cidade de Belo Horizonte ser premiada com o título de “Capital Brasileira da Hora do Planeta” e reconhecida como uma referência de sustentabilidade.

Entretanto, vejo com preocupação essa premiação, pois além de Belo Horizonte estar se encaminhando exatamente para a negação de tudo que o conceito de sustentabilidade preconiza, essa premiação está servindo de instrumento de promoção político-eleitoral e objeto de marketing pessoal.

E o pior, agora com esse prêmio, o governo municipal terá um argumento forte para responder as críticas dos ambientalistas e ativistas da área ambiental do estado e município que lutam contra a crescente verticalização e especulação imobiliária, a redução das áreas de lazer da cidade, a taxação com o IPTU mais elevado para residências que usam coletor solar para aquecimento, a falta de priorização do transporte público, a poda deformante de árvores, entre outros casos.

Nesse caso, o Prêmio será um instrumento colaborará para a paralisação de outros projetos e idéias ambientalmente corretas que a sociedade quer implantar na cidade, pois agora tal prêmio esvaziará as críticas e será usado como um discurso oficial do governo.

Falo essas coisas com tristeza, mas também com autoridade de que foi o gestor e coordenador responsável pela implantação da Usina Fotovoltaica do Mineirão, da Cemig, obra que ajudou Belo Horizonte a receber esse prêmio. Elaborei há cerca de 3 anos atrás um artigo, que envio anexo, onde relato a extrema deterioração ambiental que foi relegada Belo Horizonte. Tal artigo foi publicado em jornal local.

Me apresentando, sou professor universitário, engenheiro eletricista e especialista em fontes renováveis de energia (Mestrado), com 30 anos de experiência nessa área, ou seja, antes da palavra “sustentabilidade” virar moda. Além de minha coordenação e idealização da Usina Fotovoltaica do Mineirão, da Cemig., também fui coordenador e/ou participante ativo de implantação da primeira usina eólica do Brasil (Morro do Camelinho), da usina termelétrica solar experimental e do mapa de potencial eólico de Minas Gerais, entre outros trabalhos.

No campo político fui um dos fundadores do Partido Verde em Belo Horizonte, há cerca de 30 anos atrás, de onde me retirei ao ver a apropriação eleitoral da causa ambiental. Sempre tive muito respeito pelo WWF, mas infelizmente essa respeitada instituição prejudicou o movimento ambientalista com essa premiação e tirou o incentivo do poder público em querer melhorar sua imagem.

 

Atenciosamente,

Alexandre Heringer Lisboa

 

A impermebilização de Belo Horizonte

A circulação do ar e a passagem da radiação solar nas edificações cumprem papeis fundamentais para o conforto ambiental e para a economia de energia. Ao permitir a entrada de radiação solar, o interior das residências, salas e lojas podem acumular, o calor que à noite falta nos meses de inverno, como se fosse um micro efeito estufa. A iluminação natural, proporcionada pelo Sol, colabora em muito para a economia de energia elétrica. Nos meses quentes, a circulação do ar além de arejar o ambiente, ajuda a dissipar as ilhas de calor que se forma em aglomerações de edificações, aumentando o conforto térmico e reduzindo o consumo de ar condicionado.

A energia contida nos raios solares que incidem sobre os telhados pode ser aproveitada para aquecimento solar de água e do ambiente, reduzindo o consumo de eletricidade de domicílios. O ar em movimento e a radiação solar são, dessa forma, agentes naturais que possuem incalculável valor para o bem estar da população e para a economia de energia. São também vetores responsáveis pela eliminação de fungos e mofos que proliferam em lugares úmidos e sem ventilação.

Outro efeito indesejável da falta de atenção com a saúde ambiental da cidade se refere a continua impermeabilização do nosso solo. A água da chuva precisa de um meio para se infiltrar, sob riscos de alagamentos e erosão. Há que se prever sempre que chuvas torrenciais e atípicas podem ocorrer. Já disse um renomado geólogo mineiro que “o problema não é a água, mas a falta de solo para ela”.

Mas a precipitação de chuvas, a radiação solar e a circulação de ar não tem merecido o devido respeito da grande parte de planos diretores de metrópoles. Em muitos países, esses agentes físicos naturais são direitos dos moradores como, por exemplo,o direito ao sol. Ou seja, para alguém retirar a radiação solar do vizinho, ou de um local público existe restrições legais bastante severas e não há lobby de construtoras que o derrube.

Nossa pobre cidade, que conta com pouquíssimos espaços verdes e áreas públicas de convivência social (comparem outros centros metropolitanos espalhados no mundo) assiste impotente a contínuas agressões. Espaços públicos na nossa cidade estão sendo trocados por shopping centers, áreas de lazer por condomínios e espigões e as poucas praças amplas, com restrição de circulação e de uso coletivo, sob o hilário argumento de preservação do patrimônio (veja Praça da Estação). Como no refrão: “A praça é do povo como céu é do condor (ou do avião)”. A privatização de espaços públicos, piora a qualidade do clima e empobrece a vida social da população, ao reduzir as áreas de lazer gratuito.

Porque quebrar a relação de amor da população com sua cidade? Como voltar a fazer caminhadas e corridas, sem correr o risco de sermos atropelados, praticar exercícios físicos, como curtir um passeio com a família, respirar ar puro, desestressar do barulho freqüentando um lugar mais quieto, onde encontrar amigos para uma conversa, fora de casa e além dos nossos excelentes butecos? 

Ultimamente tenho alertado sobre o fim do bairro Buritis, onde a ganância imobiliária e o mau planejamento urbano estão levando uma densidade incivilizada de imóveis, à destruição de outra área verde (ver foto anexa).  Me vejo angustiado e impotente, pois já denunciei o fato há quase um ano à Associação de Amigos do Buritis”, à AMDA e à Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura. O pior é que esse tipo de agressão está espalhada por toda a cidade. Só nos resta lamentar e chorar?

Penso que ainda não. A comunidade eletrônica e as redes sociais podem ajudar a mudar essa relação de poder e instaurar nova forma de se fazer política, já que o modelo de ONGs tradicionais e poder público decrépito já não atendem mais às exigências civilizatórias da nossa sociedade. Prefeitos e vereadores precisam sentir que a população também quer qualidade de vida nas cidades. Precisam saber que o código de zoneamento urbano é importante demais para ser deixado somente para Prefeitura e Câmara Municipal decidirem sozinhas.

Julho de 2011

PS: As coordenadas dessa nova devastação (para o Google Earth) é:

Lat: 19º58’37,7 S e Long: 43º57’36,27” ou o endereço (Google Earth – clicar 2 x) é

Alexandre Heringer Lisboa

Engenheiro 

Consultoria e Gestão de Empreendimentos em Energia Renovavel

[email protected]

 

 

Redação

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