Xadrez do pacto político, comentário de Rafael Viera

Por Rafael Viera
comentário no post Xadrez do pacto político entre PT e a centro-direita, por Luis Nassif

Belo xadrez. Vamos por partes.

Armínio Fraga. Li seu artigo publicado aqui no GGN. Na aparência, a preocupação é com o social. Na essência, com a solvência do Estado para garantir a posição relativa dos rentistas. Em outras palavras, se todos ganharem, que nós continuemos a ganhar mais. Senão, no longo prazo, todos seremos iguais, ora. Enfim, somos bonzinhos, mas não somos bestas. Dirá Armínio e sua turma.
Então, para cair na conversa do Armínio, tem que ser besta.

A conversa com Armínio e a turma da bufunfa é a seguinte:
– Vocês vão ganhar relativamente menos para não perder tudo. Certo?!
Se for assim, tem jogo. Ok? Senão, pagaremos pra ver.

Eles então perguntarão:
– Ah, mas até quando ganharemos menos?
– Isso nós vamos ver. No andar da carruagem as melancias se ajeitam.
Enfim, a gente vai conversando, desde que vocês que sempre ganharam mais, comecem ganhando relativamente menos.
Essa é a conversa com a turma da bufunfa. Eles devem aceitar porque têm muito a perder.

Segundo ponto. A crítica da autocrítica está perfeita. Quanto ao PT, está muito acertada, especialmente em relação ao tripé e o isolamento autocrático.

O Brasil pode ser grande, e tem lugar para todos. Ouviram: Forças Armadas, mercado financeiro e empresariado. Pensem grande, como o Lula.

O caminho é a social democracia. Leia-se: desenvolvimento soberano com inclusão social.

A alternativa é a raiva do “homem comum”, e um país autoritário, pobre e dependente.

Redação

4 Comentários

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  1. Bem, a sua análise do jogo político é com base nas composições partidárias, ou grupos sociais. Tá muito que bem, mas isto é apenas senso comum, não corresponde ao jogo profundo e as estruturas mais permanentes, no processo social a regra do jogo é a disputa de classes, de um lado a classe do capital e de outro a classe do trabalho(parece chavão mas não há outra análise estrutural da realidade). As vezes esta percepção fica meio turva, meio embolada, mas no processo da derrubada do governo Dilma, isto ficou claríssimo. A classe do capital superou suas divergências pontuais ou conjunturais e formou uma união cerrada, associado as corporações estatais que lhe são subordinadas conseguiram expulsar a classe trabalhadora de qualquer influência no poder central.
    E o mesmo campeonato continua sendo jogado, Bolsonaro é apenas mais um político profissional subordinado a classe do capital e está implementando todas as políticas demandadas por esta classe(Ponte para o Futuro).
    Outro erro fundamental é de que a classe do capital é “democrática-liberal”, ou a centro-direita tem contradições com o bolsonarismo. Não há evidências históricas e muito menos recentes para embasar este raciocínio, é apenas um desejo/esperança.
    A mesma classe do capital coordenou, suportou e foi beneficiada pela última ditadura militar-empresarial, o inimigo era a classe do trabalho.
    Não vemos hoje nem uma trinca na aliança do capital e seu governo autoritário obscurantista, as margens de lucro do grande capital, principalmente financeiro aumentaram. A privatização ou transferência de capital estatal para mãos privadas continua. A leis estão sendo alteradas em benefício do capital e contra a classe trabalhadora.
    Neste quadro a torpeza do Bolsonarismo é apenas a fedentina que nós da classe trabalhadora temos que aguentar, não passa nem perto dos interesses e benefícios proporcionados a 1% da população.

  2. “Vocês vão ganhar relativamente menos para não perder tudo. Certo?!
    Se for assim, tem jogo. Ok? Senão, pagaremos pra ver.”

    Não vamos esquecer: o Arminio Fraga foi quem proferiu, na campanha de 2014, do Aecio Neves, que “os salários subiram demais”…

    “A alternativa é a raiva do “homem comum”, e um país autoritário, pobre e dependente.”

    …E armado… Não nos esqueçamos…

    Mais uma vez: a direita (que alguns teimam em chamar de “centro”) não dá um pio sequer em relação a isso. Nem mesmo os militares, que aceitam “candidamente” a perda do monopólio do uso legítimo da força física…

    Ou seja, nao dá pra se iludir: esse pessoal não quer acordo algum com qualquer força política que pareça “de esquerda”, nem mesmo em sua forma moderada, querem é “acabar com a raça”, ou, no mínimo, dobra-la, relega-la a um papel secundário ou de figurante na “democracia” que eles têm em mente.

  3. As três críticas ao comentário são pertinentes.

    Minha observação foi embasada na premissa do Nassif de que poderia haver um pacto entre “sociais democratas” e “liberais” contra a “extrema-direita linha dura”, do tipo: Geisel X Silvio Frota. Em outras palavras, a turma da “haute finance” não correria o risco de deixar o comando do transatlântico chamado Brasil nas mãos de alguns malucos. Hoje ele está.

    Feita essa consideração geral, vamos aos três pontos.

    Começando pela luta de classes. Não foi essa a premissa do texto do Nassif, portanto, não parti desse pressuposto.
    Porém, ela existe numa perspectiva de longo prazo. Há duzentos anos que o capitalismo impera e, nesse tempo, já houve guerras mundiais, guerras de libertação nacional, experiências de regimes “estatais socialistas”, porém, em nenhum desses momentos houve um abalo no sistema de produção global capitalista. E se diz isso porque, segundo a teoria histórico-materialista, trata-se de um sistema de produção que abarca toda a humanidade. Em suma, a luta de classes representa a grande história, porém, durante essa longa história gerações passam. Por exemplo, quem nasceu no início do século passado não vivenciou a experiência de transformação do fim do capitalismo, ocorreu com o foi o fim do escravismo e do feudalismo. E, nesse caso, há outras teorias analíticas como, por exemplo, o estruturalismo que podem explicar melhor essa “micro história” de uma geração, sic.

    Quanto ao papel da mídia e igrejas evangélicas. Realmente pensei em colocar, porém, deixei de fora. Em relação à mídia, suponho que ela está relativamente mais fraca do que outros períodos históricos (Diários Associados X Getúlio; Globo X Brizola/Lula). Assim, suponho que, se o mercado financeiro e empresarial pender para um pacto, tipo geringonça portuguesa “liberal – ambiental – desenvolvimentista – inclusivo”, a mídia vem pelo beiço de seus patrocinadores.

    Quanto às igrejas evangélicas, suspeito que elas ainda não são um problema insolúvel. Seus líderes são venais. Pendem para quem vai ganhar o governo. Por exemplo, Edir Macedo ontem era Lula/Dilma, hoje Bolsonaro. Mas, o aumento da pobreza pode transformar essa massa numa seita de fanáticos de grandes proporções. Por enquanto ainda não é problema, mas não deve ser menosprezado.

    Por fim, quanto ao pacto, não consigo vê-lo, no momento. Porém, não creio que seja impossível.
    Conforme defende o historiador Yuval Noah a democracia liberal capitalista se tornou hegemônica porque, ao distribuir melhor o poder, vis à vis os regimes autoritários, tornou-se mais produtiva (eficiente). Logo, para ganhar cada vez mais num sistema menos eficiente, é preciso tirar cada vez mais de quem tem cada vez menos. E essa é a fórmula Bolsonaro/Guedes. Isso tem futuro? Até quando? Daí, talvez, a alta finança veja com bons olhos um pacto, para um ajuste de rota. Do contrário, pagarão para ver. Porém, eles tem muuuuito a perder. Arriscarão, endurecendo o regime? Pode ser. Mas, se do outro lado da mesa tiver um bom negociador, talvez venham a ceder. E essa é, suspeito, a aposta do Nassif. O credo na humanidade.
    Aliás, faz um bom tempo que inventamos a bomba atômica e até hoje não nos destruímos por completo. Ainda resta um sopro de esperança.

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