Zema e Guedes, o engodo de confundir gestão pública com gestão privada, por Luis Nassif

As implicações políticas, legais, o fatos a envolver direitos e mexer com expectativas, cria um emaranhado que exige o domínio da arte da política.

Não há maior engodo do que acreditar que experiência no setor privado é condição suficiente para dar certo no setor público, especialmente em cargos de comando.

Novas ferramentas de gestão, uso de indicadores, definição de centros de custeio, definição de metas, são ferramentas de uso da iniciativa privada, imprescindíveis para a gestão pública. As esquerdas não podem se comportar como o inacreditável Cristovam Buarque que, quando governador do Distrito Federal, proibiu o mero uso da palavra “qualidade”, por ser um vocábulo neoliberal.

Mas condução e implementação de planos de governo são outros quinhentos.

As implicações políticas, legais, o fatos a envolver direitos e mexer com expectativas, cria um emaranhado que exige o domínio da arte da política.

Vamos a dois casos exemplares.

O primeiro, do governador Romeu Zema, de Minas Gerais, que até hoje não entendeu nada do exercício do cargo.

Pressionado pela PM, concedeu 45% de aumento para os policiais mineiros. Imediatamente deflagrou três movimentos de reação.

Internamente, greves de professores e outros funcionários públicos, sabendo que Minas atravessa uma crise brava e aumentos dessa natureza, para uma corporação específica, significará tirar qualquer possibilidade de reajuste para as demais.

Externamente, a pressão de outras PMs sobre seus respectivos governadores. Somado ao impulso que recebem da família presidencial, há uma crise em andamento se alastrando por todo o país.

Finalmente, a ameaça sobre todo programa de ajuste fiscal empreendido por estados e União.

O segundo caso é do Ministro da Economia Paulo Guedes.

A função dos Ministros da Economia é a de viabilizar planos de governo. Bolsonaro não tem planos. E Guedes tem a visão ideológica dos fanáticos. Quer destruir o Estado esperando que do caos nasça uma nova ordem, fundada apenas no setor privado.

Em outros tempos, seria internado. Na era Bolsonaro + irracionalismo do mercado + cegueira da mídia recebeu gás até o limite da inviabilidade política e econômica de suas teses.

A economia está sem nenhuma das alavancas para recuperação – consumo das famílias, investimento privado, choque de crédito -, só poderia contar com o investimento público como elemento de recuperação.

Mas esse ideologismo terraplanista do mercado definiu que a recuperação dependia apenas do equilíbrio fiscal.

Como o objetivo de Guedes é a destruição final do Estado, vai cortando, cortando, derrubando os gastos, impedindo a recuperação da economia, obrigando a novos cortes, até cair de maduro.

Para implementar seu programa, há todo um manual de manipulação da opinião pública: campanhas maciças prometendo um futuro que nunca acontecerá. Se vier a reforma trabalhista, haverá empregos para todos; se vier a reforma da Previdência, haverá um futuro de abundância; e aí por diante.

Há um porém nessa estratégia: se o governo não entregar um mínimo de crescimento em horizonte visível, não haverá campanha que continue mantendo iludida a opinião pública, especialmente quando o mal-estar afeta a maioria da população.

O esforço ingente de transformar qualquer indicador positivo mínimo em prova de recuperação, não resistiu à dura realidade. Vem daí a informação de que Bolsonaro intimou Guedes a entregar ao menos 2% de crescimento – uma mixaria, depois das quedas dos últimos anos.

 

 

Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Tem horas em que eu não tenho a impressão de que o Brasil está parado, nessas horas a minha impressão é que o Brasil tá de marcha ré.

    As ruas estão cheias de mendigos, os sinais, de malabaristas, os transportes coletivos de vendedores de balinhas e otras cositas más.

    Nunca foi fácil, mas tá bem pior. Exceto para quem tem esquemas de rachadinhas e prá quem sabe fazer dinheiro, como é o caso do Queiroz

  2. Como 2% de “crescimento” se o país não tem planos nem projetos, a não ser os destruidores como no caso da venda de ativos, do meio-ambiente da cultura, reduz a capacidade de demanda tirando dinheiro do pobre a gora e no futuro com as “reformas”, as “instituições” desmoralizadas pelo criminoso golpe, a segurança pública abaixo de zero, as obras todas paradas, desgoverno total, etc etc?
    De onde veio este 2%.
    Interessante que no governo Dilma com tudo positivo, récordes de produção, pré-sal dando sopa, planos, projetos, 960 BILHÕES de obras, demanda, instituições funcionando, etc, o PIB “também” ficava próximo de 2%.
    A tal “ciência econômica” e seus analistas são estranhos, para não dizer criminosos. Ajudaram muito o golpe, origem da desgraça total atual.

  3. Negativo, mais gastos do governo agora inviabilizariam a retomada de crescimento, inúmeros estudos apontam que o governo gastar mais em dinâmica de elevação de dívida já alta faz empresas adiarem ou cortarem novos investimentos.. a economia é muito mais complexa do que se supõe #fica a dica #likes por favor

    1. “Estudos apontam”; “Especialistas dizem”; “Consultados afirmam”…
      Só não dizem quais são os estudos, quem são, qual o seu perfil.
      Talvez aquele transeunte de sempre, transformado na “voz do povo”.
      Num mundo onde economistas “Nobel” têm visões e posições frontalmente contrárias, há quem escolha os estudos de sua predileção. De “fé”! E, sem argumentar lhufas, os usam como “argumento”.
      Como aqueles do “bispo”, em nome de um zangado “Espírito Santo”.
      Típico!
      Né Maria?

      Sem esquecer os “essenciais”: #fica dica e # likes, por favor!

  4. Ao tempo em que reiteradas vezes vemos e fazemos denúncias sobre as ações absurdas desse governo ao, este, atacar as bases estruturais que sustentam a sociedade brasileira e sua economia, rifando o futuro de uma nação inteira, cresce o sentimento de desânimo.
    Os que nos escutam parecem poucos. Fica-nos a impressão de estarmos pregando aos já convertidos. A cada dia tenho mais nítida essa percepção que falamos para nossa própria bolha. Nela encontramos o limite do alcance das nossas ideias e argumentos e parecem estreitarem-se nossa própria compreensão dos fatos e nossa percepção da realidade.
    Nasce-nos dúvidas sobre a propriedade de nossas análises e sobre a validade do que somos e do que temos como bagagem de conhecimento. Somos impactados na nossa autoestima o que retroalimenta a insegurança sobre nossa capacidade intelectual enquanto, par-a-passo infla nossa impotência frente à conjuntura nacional deixando, a quase certeza que entramos em um caminho sem volta, inexorável, em direção ao desastre comum.
    Sobre o tema em específico, […]”o engodo de confundir gestão pública com gestão privada”, mais uma da muitas falácias que nos apresentam como “solução pros seus probrema”, volta-se a falar sobre o que já foi tratado antes diversas vezes, inclusive por mim, aqui no GGN, em 2017. Até agora sem efeito visível algum.

    https://jornalggn.com.br/gestao/seriam-os-gestores-privados-governantes-por-boeotorum-brasiliensis/

  5. Na minha opinião todo candidato a Governador, Presidente e Prefeito, deveria ter sido no mínimo Deputado Estadual ou Federal com pelo menos 2 mandatos. Veja o Governador de Minas, pulou de paraquedas no Governo, sem nenhum tranquejo político para lidar com a classe. O que esta acontecendo aqui é um verdadeiro sarapatel, onde um partido nanico não consegue fazer articulações na Assembleia Legislativa, e apesar disso ainda discorda do Governador em alguns pontos, entre eles podemos ver agora esse aumento aos servidores da segurança no Estado… criando um precedente perigoso a pipocar nos outros Estados….Esse é o Novo Jeito de governar…Sem planejamento, sem diálogo, sem articulação política e sem respeito as populações (Exemplo: O HPS João de XXIII), vá lá para ver o estado deplorável que se encontra o Hospital Referência em traumatologia do Estado…Tenho certeza que as lojas Zema estão melhor servidas….

  6. Guedes é um ministro prime…é preciso entender um país, como ele funciona de vários cortes, primeiro sempre de baixo para cima e depois fazer um corte horizontal. Guedes apenas entende o país com corte vertical de cima para baixo, parando em quem ganha 50 mil por mês….o resto, maioria no bananão que se vire…se sobrar alguma coisa em cima, que a mundiça embaixo brigue pelas migalhas, assim é a visão neoliberal desse maluco.

  7. Esses puias da sociedade não sabem nada de Estado…Cheios de preconceitos e com uma visão distorcida do serviço público. Repetem e têm como fundamento “conversa de buteco” de novos ricos sem noção nenhuma de administração pública. Mais um engodo. Se continuarem nessa toada vão quebrar o país e causar um retrocesso sem precedentes. O neoliberalismo já venceu há mais de 20 anos.

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