Me dei conta quando recebi os advogados da Odebrecht, diz Cardozo sobre cooperação ilegal da Lava Jato com estrangeiros

Pela primeira vez na TVGGN, ex-ministro da Justiça relata pressão da PGR sob Rodrigo Janot para que a cooperação internacional fosse feita à revelia da lei

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Jornal GGN – Ao longo da operação Lava Jato, inúmeros advogados, incluindo os que compõem a defesa do ex-presidente Lula, apontaram à imprensa indícios de que a força-tarefa do Ministério Público Federal, com anuência de Rodrigo Janot, então procurador-geral da República, trocava informações diretamente com as autoridades estrangeiras para construir os casos apresentados contra agentes da Petrobras e empreiteiras nacionais, sempre escondendo as comunicações da autoridade central brasileira (o DRCI, Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional).

Cooperar ou pedir ajudar dos Estados Unidos e Suíça em matéria penal marginalizando o governo brasileiro é uma afronta aos tratados que o próprio Brasil assinou no passado e internalizou na forma da lei. Ou seja, a Lava Jato estaria atuando de maneira irregular.

O GGN publicou uma série documental exclusiva a respeito da influência dos EUA na Lava Jato aqui no Youtube e, na oportunidade, o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi convidado a prestar um depoimento para o projeto. A ideia era compreender como essa cooperação selvagem se deu durante o governo Dilma sem que o então ministro tivesse tomado conhecimento.

Agora Cardozo fala pela primeira vez ao GGN sobre os bastidores da cooperação ilegal na Lava Jato, que foi confirmada por meio de mensagens de Telegram expostas pelo Intercept e veículos associados na chamada Vaza Jato.

Segundo o ex-ministro, havia, de fato, “uma insistência institucional imensa do Ministério Público para que o Ministério da Justiça cedesse seu posto à PGR para cooperação internacional. Nós nunca concordamos com isso. O DRCI era quem tinha poder em nome da União para fazer a cooperação internacional. A PGR queria deslocar essa função para o Ministério Público.”

“O MP, ao meu juízo, ilegalmente, sem a ciência do Ministério da Justiça, estabeleceu relações diretas de coletas de provas sem passar pelos tratados internacionais. Eu me dei conta disso no caso da Odebrecht. Quando os advogados da Odebrecht marcaram audiência comigo e eu fui acusado de receber advogados – como ministro, era meu dever legal receber advogados – eles disseram que [os procuradores da Lava Jato] estavam fazendo isso. Eu disse: ‘que provas vocês têm?’ Eles disseram que sabiam que estava acontecendo isso. Eu fui ao diretor do DRCI e ele falou que, sim, aconteceu isso. Eu disse: ‘como você sabe?’ Ele disse ‘porque o procurador da Suíça nos mandou uma informação que já tinha entregue os documentos. Está mandando agora oficialmente, mas já sido tinha entregue’.”

“Esse tipo de situação é absolutamente inaceitável”, pontuou.

Em 2015, quando Cardozo recebeu os advogados da Odebrecht, a grande mídia escandalizou o encontro. Alguns veículos até insinuaram que os advogados estariam pressionando o governo Dilma para encerrar a Lava Jato.

“A gente ficou sabendo agora, mas muita coisa a gente já imagina que estava acontecendo. Muita coisa foi feita diretamente à revelia das regras de cooperação internacional, que gera a nulidade da prova.”

Cardozo também falou ao jornalista Luis Nassif sobre como a Petrobras foi parar no banco dos réus nos EUA, do seu ponto de vista.

“Eu já não estava mais no governo quando isso acontece. Acho que ali houve uma participação do governo brasileiro muito nociva. Nós entregamos de bandeja a Petrobras. Na época, governo Temer, eu publicamente disse que aquilo era inaceitável. Eu disse: vamos entregar um patrimônio brasileiro para que a gente tenha que indenizar acionistas nos EUA? Depois eu vi que a Lava Jato tinha feito aquele acordo [com os EUA] que geraria aquele fundo [com parte da multa paga pela Petrobras em outro processos nos EUA], né? Coisas inaceitáveis, que não deveriam ter sido feitas. Mas o governo Temer nos sucedeu e concedeu esse tipo de coisa.”

RECOMENDADO:

1 – Assista ao vídeo exclusivo do GGN explicando a cooperação BR-EUA aqui: https://youtu.be/AjitiOPUztQ

2 – O vídeo que explica os processos que a Petrobras enfrentou nos EUA: https://youtu.be/OuJRHzCWUAQ

3 – O documentário inédito sobre o passado do ex-juiz Sergio Moro aqui: https://youtu.be/tBc6AnRZfjo

Redação

9 Comentários

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  1. Um ministro muito republicano que não desconfiava de nada. Sua atuação prejudicou o país e deu fim ao governo Dilma. Qual a razão de o Estado Brasileiro mover uma ação contra os americanos em Brasília pedindo o ressarcimento dos prejuízos da operação vaza a jato?

  2. Na enorme e camuflada rede braZileira à serviço, pergunta-se “suspeitosamente” se o ministro big ass é um Joseph Edward, como Joseph Saw, Helloísio Noonys, Fernand Henry e tantos outros a saber.
    Enquanto o braZil estiver infiltrado, contaminado e parasitado com estes capatazes e corretores do país e seu povo, jamais será uma nação.

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