A Arte de “andar na linha”, por Jean Pierre Chauvin

Ato unificado na Faculdade de História (USP) em 29.X.2018

A Arte de “andar na linha”, por Jean Pierre Chauvin

Em terra de fratricidas, já se podem escutar os ecos de quem andava com saudade (ou curiosidade?) da (pela) dita-dura.

Após cinco anos de surdos a fazer ressalvas ao “mimimi” de quem pensa, o brasileiro dos novos tempos reproduz a palavra de seu líder. É um discurso simplista e binário, como a quase totalidade do que dizem suas correntes de whatsApp e fakenews replicadas nas redes sociais. O primeiro estágio do “novo” governo tem sido anunciar a prisão, o exílio ou o extermínio de quem pensa.

Aleluia, irmãos! Eles vociferam com a bênção da indústria das armas, do agronegócio e do comércio da fé.

O receituário, como dizia, é simplório. Caso o “irmão” persista em ser diferente “deles”, os “patrióticos”, deve disfarçá-lo. De preferência, responder o contrário do que pensa. Se aceita um conselho, ande na linha.

Para um discurso que reitera a moral, a ética, os bons custumes, a integridade, a hombridade e o patriotismo, faltaria estabelecer quais as regras que passarão a funcionar no “novo” Panamá (e sucursal dos EUA), a partir da zero hora e um minuto de 2 de janeiro de 2019. Por exemplo, seria importante que os 45 milhões de cidadãos soubéssemos de que espessura, cor e forma é a tal “linha”; em nome de que (e de quais instituições) ela funciona.

Assim, tomaríamos ciência das “regras” deste jogo tétrico, dominado pela teocracia, e subarticulado segundo o discurso canhestro de quem não parece ter condições de entender o país em que vive, nem toletar as diversidades.

Quais seriam os pilares da “nova” sociedade brasileira? Deus. A Pátria. A Família. A Lisura nos atos. O Dinheiro. Esqueceu-me algum?

Comecemos por Deus, que estaria “acima de tudo”. Terá ele zelado por nós? Começo a duvidar de que seja brasileiro.  O que explicam as benfeitorias que botaram incêndio na casa de gente inocente? O que justifica a morte de uma criança de oito anos por arma de fogo? Como entender as contradições do discurso proferido por esses adeptos?

Talvez falar da pátria seja menos polêmico. Diga lá, você também bate continência para a bandeira dos EUA e/ou de outros países? Por que não passa pela cabeça dos “patriotas” recuperar setores estratégicos de nossa economia, já tão judiada pela corrupção, como o pré-sal?

Ah, agora vem a familia. Não me diga que você também diagnosticou histeria nos grupos de whatsApp… Como serão as “festas” de final de ano? Vai ficar na sua ou vai celebar o natal e o ano-novo ao lado de um Papai Noel armado de UZI?

Decerto são “pessoas de bem”: incorruptíveis e incapazes de cometer atos reconhecidos como de “caixa dois”. Certamente não passa de remorso dos petralhas denunciar ao TSE o disparo de mensagens pela bagatela de 12 milhões de reais, custeados por uma parte do empresariado.

Pensando melhor, talvez “andar na linha” seja partilhar o resto do país com os norte-americanos.

Ou “andar na linha” será negar o papel dos livros; anular a importância dos professores, retirando-lhes a liberdade de cátedra; ou fazer de nossos irmãos fratricidas que, por não entregarem as armas, teriam atacado primeiro?

Redação

5 Comentários

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  1. Deus acima de tudo

    Para entender esse povo, há que se fazer um cursinho intensivo de “filho de crente” ou de “novo convertido”.

    De novo convertido é melhor porque v. chega humilde, levanta a mão pra jesus, e eles vão doutriná-lo até acharem que v. está pronto pro batismo.

    Como preparo psicológico é recomendável tomar um vertix, comprimidos pra enjôo e crises de labirintite.

    Dá um sono eterno. O efeito dura uma viagem até o Japão e você passa por manso e pacífico.

    Passada essa fase, ou v. vira um crente de cadeira, aquele crente morno, que fica no fim da congregação e de vez em quando solta um “Aleluia!” e sai de fininho antes do final do culto, ou vira um obreiro.

    Obreiro é .aquele crente ativo, ambicioso, falastrão, que quer mostrar serviço na igreja.

    Depois de uns meses, v, chuta o balde e diz que vai para o mundo.

    Eles vão te chamar de desviado e ficar orando por você.

    Sinceramente, qualquer opção de conchavo com esse povo dá uma gastuura!

    É mais ou menos como se apagassem um hemisfério da sua mente.

    Quando a família, os amigos, os vizinhos, os circunstantes, os comerciantes e o entorno é evangélico (o novo nome do crente) 

    você tem tempo de meditar à vontade, porque não dá pra abrir diálogo com ninguém.

  2. Preocupado…Memória apagada, prontos para repetir de novo

    Estou começando a achar que o incêndio no Museu Nacional foi criminoso. Apagar memórias da violência das oligarquias, da escravidão, da ditadura, dos privilégios de alguns poucos… 

  3. Na linha bamba

    Pelo que sei, todos os conhecidos e amigos brigaram com é familia, incluindo eu mesma, pois minhas primas tripudiaram comigo com a vitoria do bolsonaro. Charfudaram na lama do fascismo. Deixa estar. Falei para um amigo – que chorou ao se dar conta domingo que parentes muitos proximos votaram no bolsonaro  – que so o natal para reconciliar todo esse mundo. E mais, o papai Noel que se cuide, vista-se de azul porque vermelho é cor non grata!

  4. Filhos bastardos do Lacerda.

    Tenho presenciado os piores paus-mandados, puxa-sacos de toda ordem com medo do governo do Boça.

    A água bateu na bunda desses covardes. 

    Não sabia que o Carlos Lacerda tivesse mais do que três filhos…

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