A distância entre nossa percepção do governo Bolsonaro e a percepção média da população brasileira, por Álvaro Rodrigues dos Santos

Seus eleitores, que são dezenas de milhões de brasileiros, sempre preferirão acreditar que as críticas que se fazem ao governo devam-se à tramas do PT

A distância entre nossa percepção do governo Bolsonaro e a percepção média da população brasileira

por Álvaro Rodrigues dos Santos

Podemos resumir a percepção que pessoas do arco humanista / civilizatório / democrático / progressista / esquerda / centro-esquerda tem do governo Bolsonaro e seus integrantes nas seguintes sensações: perplexidade, repulsa, revolta, inaceitação, repugnância.
Essas sensações extremas e plenamente justificáveis tem evolução crescente na medida que o governo vai de fato implantando e fazendo acontecer sua ideologia carregada de entreguismo, preconceitos, violência e obscurantismo.

Porém, e esse porém é importantíssimo de ser considerado, entre esse tipo de percepção e o tipo de percepção que a grande parte da população brasileira faz do governo Bolsonaro há um enorme abismo perceptivo.

O fato é que o voto no Bolsonaro deu muito prazer ao eleitor que o adotou. Sentiu-se esse eleitor em condições de vingar todas suas frustrações, imaginando-se como ativo co-autor de uma ação de justiçamento, na base da violência e da porrada, de todos aqueles que lhe foram apresentados como seus algozes e inimigos: petistas, esquerda, corruptos, intelectuais, homossexuais, ambientalistas, “invasores” do MST e do MTST, etc., etc. Claro, para grande parte desses eleitores também aconteceu aquela velha sensação de aversão aos pobres, negros, índios, etc.

Enfim, não será fácil fazer desmoronar essa coleção de prazeres emocionais associados ao voto no Bolsonaro. Seus eleitores, que são dezenas de milhões de brasileiros, sempre preferirão acreditar que as críticas que se fazem ao governo devam-se à tramas do PT, à inveja, à frustração pela derrota, à intriga e ao desejo político de vê-lo se afundar em crises.

E aí se coloca o desafio essencial para aquele arco progressista nomeado no início desse texto: como conseguirmos ser ouvidos pelo eleitor médio do Bolsonaro, quais argumentos e ponderações devemos utilizar nessa interlocução, qual seria nossa melhor atitude e os melhores canais para conduzir essa conversa?

Se não conseguirmos encontrar respostas para essas questões temo que continuaremos apenas a trocar nossas perplexidades em circuito interno. Mesmo que com amor, carinho e solidariedade.

 

Redação

14 Comentários

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  1. Boa observação. Apenas um pitaco: não é preciso – e nunca será possível – convencer toda a população, ou mesmo todo o contingente de eleitores do Bolso, apenas 50% + 1. Não se trata apenas de eleições, e não é tanta gente assim. Abraço

  2. Discordo do articulista, inclusive de vários outros comentaristas aqui desse jornal. Leio constantemente comentários que contém essa preocupação (tentar dialogar com os bolsomínions e outros fascistas que votaram nele), porém, por conhecer bastante pessoas simples, simplórias e conviver com elas, acho que essa obsessão por esse diálogo neste momento, não será frutífero pelo simples fato que o efeito do veneno que tomaram e continuam tomando (ódio nas redes sociais), é muito poderoso, e só tem um antídoto, o choque de REALIDADE. Deixem o tempo passar, ou vocês acham que maldade todo dia que será administrada não terá consequências? Ou alguém aí imagina que passar dificuldades anos a fio não irá mudar a mentalidade desse povão? Aguardem…

  3. Na verdade, as sucessivas humilhações a que o mandatário tem feito o país sofrer no âmbito internacional já estão diminuindo o prazer de seus eleitores.
    É fato que os eleitores lavaram a alma dando seu voto ao coiso.
    Toscos e primitivos, os eleitores do presidente, entretanto, já vêm sendo cobrados até mesmo pelos meio de comunicação mais conservadores.
    Programos de futebol, programas femininos matinais e vespertinos, entre outros redutos, já estão questionando fortemente as atitudes do mandatário, trazendo especialistas para esclarecer ou indagar sobre a legitimidade de seus atos.
    A gente já escuta o peão conversar com o outro sobre o que fazer com o presidente quando for confirmada a história dos laranjais e da Marielle.
    Apoio mesmo, só dos crentes que o elegeram e suas respectivas emissoras.

  4. Eu não falo nada com esses eleitores. Vou esperar eles se afundarem na miséria vindoura. A Argentina está aí para provar que a pobreza bate à porta para ficar.

  5. E também a vergonha que o patético nos fez passar com seu comportamento de vira-lata idiota com o Trump?
    Acho que para chegar aos corações e mentes da grande massa, tem ser com as mesmas armas que eles têm usado nas redes sociais: memes, textos curtos, musicas e sem mentiras nem ataques baixos.

    1. Tenho certeza, cara Maria Luisa, que há mais gente que se sentiria honrada em apertar a mão d'”O Presidente dos Estados Unidos da América”, seja ele quem for, do que a gente imagina, do que a “grande massa”. A máquina de propaganda dos donos do estado estadunidense é bem feita, poderosa, e reconheço que não é fácil para quem cresceu na classe média brasileira livrar-se dos condicionamentos, doutrinações e convicções produzidos em corações e mentes. Gente até estudada… lembra da tal “Janaína Paschoal”? É difícil, notadamente para quem é urbano, enxergar os EUA como um país inimigo do nosso. Não encontro, entretanto, outro adjetivo para um país que vem objetivamente sabotando e atacando o nosso há tanto tempo, tanto fisica – Alcântara, P-36, Chevron no pré-sal etc. – quanto economicamente – sanções, descumprimento unilateral de acordos etc. – falando. Isso sem falar no aliciamento e corrupção de nossos funcionários públicos, como Dallagnol, e políticos, como Sérgio Moro por exemplo, que aí a responsabilidade é do aliciado, do que se deixou corromper em sua cidadania pátria. A “grande massa”, como já disse alguém aqui nos comentários, vai sentir no bolso. Esses outros, porém, se não forem afastados do estado brasileiro continuarão sua saga destrutiva na primeira oportunidade.

  6. Cara, acima de 3/4 dos eleitores que alçaram esta trupe ao poder não tem ideia porque o fizeram. Apenas foram conduzidos como manada por aquele 1/4 que sabe.

    1. Perfeito Carlos! O problema é que enquanto a chamada direita tem a mídia, igrejas evangélicas, “sebraes”, “senais”, lojinhas da maçonaria e afins, para divulgar sua ideologia, a esquerda não faz NADA para esclarecer a população! A esquerda brasileira é elitista! O que custaria para os diretórios municipais criarem cursos e palestras semanais e grupos de trabalho para divulgação de suas pautas? Seria fácil divulgar estas palestras e cursos no youtube para que seus eleitores possam defender suas ideias com mais consistência. Mas…. NADA!! “ELES” fazem isto o tempo todo usando os meios que mencionei acima! E logo tomarão conta das faculdades publicas e não vai demorar muito! Aqui tem gente qualificada para isto, mas ninguém sai do conforto de casa para isto! Com certeza “ELES” trabalham bem mais por sua causa.

  7. Existe também a vergonha do voto, essa os mantem alienados aos fatos, corrupção familiar com peculatos é um tremendo agestado de otário, mas se eu fingir que não tem, tudo bem. Envolvimento com milícias criminosas no Rio, será? Em dúvida melhor negar e olhar para outro lado. Um ministerio para lá de esquisito,.E por aí vai, mas no fundo fundo mesmo, debaixo do chuveiro, vergonha do voto.

  8. O excelente texto de Samuel Guimarães, aqui neste espaço, dá excelentes subsídios para o debate e o esclarecimento sobre o que representa o governo de extrema direita. O diálogo deve ser travado com as bases das classes trabalhadoras, organizadas ou desorganizadas, que talvez com o aprofundamento do choque de selvageria, representado por exemplo pela proposta para a Previdência, estejam começando a desconfiar do erro que cometeram, caso tenham aderido ao bolsonarismo no processo eleitoral. O apoio de massas ao “coiso” não pode, em hipótese alguma, ser menosprezado, mas entendido, estudado. A esquerda precisa, urgentemente, se agrupar em torno de um projeto que se contraponha ao que está sendo colocado em curso. Este foi um dos poucos avanços em 2018: o avanço de entendimentos entre os partidos progressistas. O caminho passa por uma Frente Ampla, constituída já em 2020, sem disputas por hegemonia e com o máximo sentido de unidade.

  9. não precisa dizer nada, o eleitor do Bozo que não é minion, vai acordar para a realidade, mesmo que com dificuldades sérias de reflexão. Já estão vendo a merda que fizeram

  10. Perfeito Carlos! O problema é que enquanto a chamada direita tem a mídia, igrejas evangélicas, “sebraes”, “senais”, lojinhas da maçonaria e afins, para divulgar sua ideologia, a esquerda não faz NADA para esclarecer a população! A esquerda brasileira é elitista! O que custaria para os diretórios municipais criarem cursos e palestras semanais e grupos de trabalho para divulgação de suas pautas? Seria fácil divulgar estas palestras e cursos no youtube para que seus eleitores possam defender suas ideias com mais consistência. Mas…. NADA!! “ELES” fazem isto o tempo todo usando os meios que mencionei acima! E logo tomarão conta das faculdades publicas e não vai demorar muito! Aqui tem gente qualificada para isto, mas ninguém sai do conforto de casa para isto! Com certeza “ELES” trabalham bem mais por sua causa.

    1. Desculpe, caro Alex, mas tem um monte de cursos, palestras, encontros promovidos por pessoal que não apenas se opõe à bandidagem que tomou de assalto o estado democrático de direito brasileiro mas que oferece além de alternativas, oportunidade para reflexão, questionamento e crítica, acontecendo nesse exato instante. Tem partidos políticos, sindicatos, escolas em todos os níveis, agremiações, e o melhor: elitismo zero, garanto, só não são bem-vindos os que querem entrar para tentar sabotar… Quem se interessa, basta procurar que certamente vai encontrar. E se em algum lugar não houver, a pessoa que tomar a iniciativa de criar reuniões assim democráticas, sem pretensão de se tornar dona, com certeza terá sucesso.

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