A greve geral e a correlação de forças, por Jeferson Miola

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A greve geral e a correlação de forças

por Jeferson Miola

Governo não tem alternativa a não ser prosseguir com sua agenda“, editorial da FSP de 29/4/2017.

Nenhuma boquinha terminou no Brasil sem certa dose de esperneio e gás lacrimogêneo. A sexta-feira que passou foi dedicada a isso. Vida que segue“. Gustavo Franco, desastroso presidente do BC de FHC, hoje banqueiro, no artigo “Reforma trabalhista: só o começo”, em O Globo de 30/4/2017.

O 28 de abril de 2017 entra para a história como o dia da mais contundente demonstração de resistência do conjunto do povo brasileiro ao pacto antinacional e escravocrata que as classes hegemônicas tentam impor com o golpe de Estado.

Mais de quarenta milhões de trabalhadores fizeram a maior greve geral da história do país e, possivelmente, do mundo moderno, pois o Brasil é o quinto país mais populoso do planeta. Praticamente toda a produção industrial foi interrompida, quase todo o comércio, transportes e serviços ficaram paralisados, e as igrejas estimularam o engajamento dos seguidores à greve.

A greve foi geral, nacional e unitária. Preparada unificadamente pelas centrais sindicais, afetou todos os setores e categorias econômicas, se espalhou por todo o território nacional e ampliou a consciência do povo a respeito dos retrocessos e sofrimentos impostos pela oligarquia golpista. Foi notável, também, a adesão das mesmas classes médias que estiveram associadas ao golpe e que hoje, envergonhadas, se opõem à cleptocracia golpista.

Em que pese a magnitude, a greve só foi noticiada como greve geral na imprensa estrangeira. A mídia nacional produziu uma narrativa manipulada e criminalizadora. A Globo proibiu seus veículos de mencionarem greve geral no noticiário: adotou o sofisma “protesto das centrais sindicais”, enfoque que diminui a potência e o significado deste extraordinário acontecimento.

A greve representa uma inflexão na conjuntura política do país; muda a correlação de forças e instala o impasse político. O bloco dos subalternos se uniu, recuperou forças, radicalizou-se e sinaliza que não vai recuar do estágio [defensivo] em que se encontra.

O bloco golpista, por outro lado, cada vez mais debilitado por escândalos e pelo desemprego de quase 15 milhões, enfrentará crescentes dificuldades para a continuidade da sua estratégia [ofensiva] de dominação destrutiva e de restauração ultra-neoliberal.

A greve não alterou a natureza do período – é um período de derrota, que segue sendo defensivo e de resistência ao mais brutal ataque antipopular e antinacional que se conhece; mas a greve alterou a qualidade da luta e da resistência democrática das classes subalternas – radicalizada, unitária e intransigente, que poderá se expandir e derrotar o golpe.

Este parece ser o sentido do impasse instalado pela greve geral; conseguiu criar um momento de imobilidade transitória no tabuleiro da luta de classes, ainda que a supremacia política, é necessário sublinhar, siga sendo do bloco golpista, que conta com o suporte da ditadura jurídico-midiática Globo-Lava Jato e com o apoio da maioria corrupta do Congresso e do grande capital nacional e internacional.

É uma incógnita a influência da greve no posicionamento dos parlamentares da cleptocracia golpista na votação das reformas trabalhista e previdenciária. É muito provável que a base do governo sofra forte pressão das parcelas significativas dos seus eleitores que aderiram à greve.

Em março de 2016, no auge dos “protestos dominicais” da Globo, da FIESP e das entidades da direita fascista [MBL, Vem pra rua] que pediam o impeachment fraudulento da Presidente Dilma, não mais que dois milhões de pessoas das classes médias e ricas saíram às ruas, e isso – chamado ironicamente como a “voz das ruas” [sic] – foi o argumento cínico para o apoio ao processo criminoso presidido pelo hoje presidiário Eduardo Cunha.

É de se supor, em vista disso, que uma mobilização verdadeiramente popular e 20 vezes maior, influencie o voto dos parlamentares. O problema para o empreendimento golpista, porém, é que se Temer não entregar esta agenda exigida pelo grande capital, a cleptocracia chega ao fim; se tornará irrelevante aos propósitos do golpe.

O 28 de abril inaugura uma nova etapa da luta de classes no Brasil. Não estivesse o país em pleno regime de exceção, sob um golpe de Estado e submetido à ditadura Globo-Lava Jato, depois dos eventos de 28 de abril o governo Temer seria encerrado e o Congresso aprovaria uma emenda constitucional convocando eleições diretas já para a Presidência da República.

Não há sinais, por enquanto, de recuos do bloco golpista. A FSP e o banqueiro tucano, vozes golpistas epigrafadas no início do artigo, reforçam a opção de endurecimento autoritário e fascista do regime.

O conflito, por isso, está nitidamente estabelecido. O povo unido nas ruas aos milhões exibiu sua força e vitalidade, e indicou claramente que não aceita nenhum direito a menos; nenhum retrocesso patrocinado pelo governo ilegítimo.

O 28 de abril evidencia a radicalização da luta e da resistência do campo democrático e popular. O enorme êxito da greve geral prenuncia a disposição do povo de resistir de todas as formas e, inclusive, com novas greves gerais, para pôr fim ao golpe e à cleptocracia golpista.

A consciência uníssona das [verdadeiras vozes das] ruas grita “Fora Temer” e “diretas já”; palavra de ordem que indica a única saída estável para o grave impasse do país. Caso, todavia, o arbítrio fascista decida eliminar Lula da cédula eleitoral, o país poderá ser jogado no caos.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Lula lá, o peacemaker

    Para não chutar o balde e não convulsionar o país os golpistas devem manter a autenticidade do processo eleitoral, manter o Lula lá, na disputa, sob pena de estar comentendo casuísmo político-jurídico.Que vençam no voto, aí que eu quero ver.

    Mas esperar até 2018, é muito tempo que se dá a eles que destroem o país neste exato momento.Portanto, grevel geral mais uma,duas,três vezes…até  a lona do circo cair e acabar com a palhaçada neoliberal.

  2. Mês de maio, início de derrocadas de tiranias .

    O Último Ano de Hitler 

    (Ótimo documentário sobre o início da derrota do regime nazi-fascista germânico . As perseguições do supreminho nazista liderado pelo juizeco Fressler aos que se rebelavam contra o regime, o papel da TV Glolbels hitlerista ao distrair os alemães enquanto a pátria estava sendo destruída etc…)

    [video:https://youtu.be/4z0tFJBvN-M%5D

  3. Gustavo Franco, o homem mais prejudicial ao povo brasileiro …

    em toda a sua história. Nenhum presidente do BC foi tão danoso as finanças brasileiras como este “banqueiro”. Na época foi dado como falta de experiência do mesmo ao cargo, mas cada vez mais fica provado que o homem é um sacana nato!

    1. Perde de longe para o

      Perde de longe para o Moro.

      Moro já revorou 10% do PIB Brasileiro, destruiu a constituição de 88 (Como eu li, se ela não vale para a presidente da república, não vale para ninguém), entregou o pré-sal, destruiu a CLT e vai destruir a previdência.

      Se a coisa virar e Moro estiver nos Estados Unidos, que mandem alguém de inteligência para matá-lo lá dentro. Se o país não punir Moro exemplarmente, vai ter golpe de novo, e de novo, e de novo…

  4. “O 28 de abril de 2017 entra

    “O 28 de abril de 2017 entra para a história como o dia da mais contundente demonstração de resistência do conjunto do povo brasileiro ao pacto antinacional e escravocrata que as classes hegemônicas tentam impor com o golpe de Estado.”

    Pena que quando tinahmos a caneta na mão, a gente não levantou a bunda do sofá…

     

  5. Greve geral

    na verdade tem que derrotar não apenas ao Grupo Globo, más também, toda a mídia elitista e golpista, a exemplo da RECORD TV, SBT, BAND, REDETV!, GAZETA, FOLHA DE S. PAULO, VEJA, EXAME, GRUPO ABRIL E OUTRAS, que estão coligadas com o golpe infame e além disso derrotar esses projetos apoiados pelos fascistas, golpistas discarados e derrotar também os deputados, senadores e o governo Temer, que são do bando apoiado pelo capital selvagem.

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