A hora e a vez das formigas

A humanidade não deu certo. 

Prova disso é o desejo, cada vez mais forte, de o homem exterminar os seus semelhantes, os de sua própria espécie.

O caso do atirador americano que matou dezenas de pessoas que assistiam a um show de música em Las Vegas é o exemplo mais recente dessa insanidade.

Ele não é, como muitos podem supor, um caso isolado de um surto psicótico, de uma patologia individual.

Segue, isso sim, uma lógica de doutrinação ideológica que vem sendo aplicada há décadas em praticamente todo o mundo.

Segundo esses preceitos, todos os diferentes, todos os que fazem parte de alguma minoria, todos os que professam crenças religiosas diversas das predominantes em determinada cultura, todos os que ousam exercer a liberdade artística, e mesmo os que lutam politicamente por uma sociedade mais igualitária – os chamados esquerdistas – são inimigos que devem ser eliminados. 

A cada pequeno passo em busca de uma sociedade mais fraterna seguem-se muitos outros de retrocesso.

Estão aí, como exemplos, a destruição, por parte de um governo formado por um quadrilha, do Estado de bem-estar social que os trabalhistas quiseram criar no Brasil, e a supressão das medidas que pretendiam tornar a capital paulista uma metrópole mais humana.

Os movimentos neofascistas ganham espaço a cada dia no Brasil.

E não só atacam impunemente tudo o que lembra a civilização, como têm apoio de parte do Judiciário.

O político que mais simboliza tal extremismo, aquele que pretende armar os seus seguidores e fala candidamente em liquidar fisicamente seus adversários, tem, segundo pesquisas eleitorais, de 15% a 25% das intenções de voto para a presidência da república.

Jovens, na maioria negros, pobres e moradores nas periferias das grandes cidades, são vítimas diárias da violência policial.

Os desmandos por parte das “autoridades” se multiplicam, arrasando reputações e vidas, como na vigência de um Estado ditatorial.

No mundo todo a brutalidade toma lugar da razão.

Atentados terroristas se tornam rotina. 

Aos homens bombas sucedem-se atropelamentos de multidões, esfaqueamentos, fuzilamentos – a criatividade humana para tais atrocidades é pródiga.

Analistas dão destaque ao avanço das forças da ultradireita no planeta, mas não tocam no essencial, o fato de que isso só foi possível porque nada foi feito para conter o seu crescimento.

A luta geopolítica destrói países inteiros, com a complacência de organismos internacionais criados para evitar que isso acontecesse.

Muito tempo atrás dizia-se que se o Brasil não acabasse com a saúva, a saúva iria acabar com o Brasil.

Do jeito que as coisas andam, talvez seja melhor deixar que as formigas tomem conta não só do Brasil, mas de toda a Terra.

Redação

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Me explica, então, à luz de

    Me explica, então, à luz de sua tese, as atrocidades cometidas ao longo de toda a história. Os holocautos bíblicos, as guerras entre gregos e macedônios, entre as cidades-estado gregas, entre romanos e o resto (ao longo da expansão do seu império), entre escoceses e ingleses, entre inglese e franceses, entre indianos e paquistaneses, etc, etc…

    Meu, os humanos são seres bélicos. somos seres sanguinários. Ponto. E existe um grande número de estudos afirmando que os tempos atuais são os mais calmos de toda a humanidade. Saimos da mais completa barbárie  da luta franca corpo a corpo, para as guerras de botões. Saímos da tortura institucionalizada – que provocava apenas indiferença aos transeuntes –  para a tortura que horroriza a maioria das pessoas.

    Então, menos. Creio que há mais pessoas construtivas, que destrutivas na humanidade, e esse percentual sempre foi maior. Se não, já tínhamos  entrado em extinção há muito tempo.

  2. Formigas…

    Quando vi àquela historica votação na Câmara Federal para a derrubada de Dilma Rousseff eu chorei. Eu chorei porque eu sabia que ali acabara-se um tempo, um projeto de Pais, uma vontade de ser Nação. E a noite agora talvez seja longa… Melhor rever aquele velho filme de Jim Jarmusch “Uma noite sobre a Terra” para tentar entender o que foi que deu errado com a humanidade.

  3. Me lembrei do livro “Demain les chiens”

    Nao sei o título em portugu&es, li em francês. É uma ficçao científica de Ray Bradbury, em que primeiro os caes tomam o poder dos homens. Mas os caes seriam amorosos, e só tomaram o poder para proteger os homens da própria insanidade. Mas os homens continuavam fazendo das suas. Um deles resolveu conservar um formigueiro em estufa. O formigueiro cresceu, cresceu, e as formigas acabaram tomando o poder. E as formigas nao eram amorosas…

  4. Formigas?

    Meu caro, as formigas também se matam. E se elas não tivessem predadores naturais se tornariam pragas a exterminar tudo a volta. Ou seja, as formigas são formas de vida, seres humanos idem.

    Mas a propósito do assunto, é recorrente na ficção cientifica a idéia dos humanos se tornarem formigas, isto é, as sociedades do futuro serem altamente ordenadas, mas completamente estáticas e sem futuro evolutivo. E obviamente isso é uma idéia sinistra.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador