A Justiça é um desafio permanente à saúde mental do Brasil, por Tiago Barbosa

A Justiça é um desafio permanente à saúde mental do Brasil

por Tiago Barbosa

A Justiça se tornou um desafio permanente à saúde mental do Brasil. É tarefa inglória manter qualquer estabilidade diante da sucessão, dia a dia, de decisões parciais, elitistas, injustas e incoerentes – afronta ao esforço ou esperança humana de enxergar juízes como fiadores do equilíbrio legal no país.

A balança do judiciário, é verdade, sempre pendeu para os interesses de pessoas poderosas, grupos políticos ou empresariais soerguidos e sustentados na opressão contínua do trabalhador e na condenação do pobre à miséria perpétua.

A inclinação, digamos assim, já era conhecida.

Mas a sanha pelo golpe contra a esquerda e as forças democráticas, apadrinhado pela mídia suicida e defendido pelos patos amarelos, aboliu limites da dúvida e criou o ambiente fértil para a avalanche de manifestações em benefício próprio ou dos compadres.

Nem é preciso mais manter a aparência de outrora. A capa do processo já define o desfecho. E a interpretação da lei é esticada até satisfazer a conclusão prévia e sob medida para garantir o resultado favorável ao processado.

As ações contra o PSDB exercitam ao máximo a face camaleônica da proteção judicial no país. Em quatro anos de Lava Jato, operação endeusada pelos paladinos de momento contra a corrupção, os tucanos só encontraram a cadeia ou viraram réus como contrapartida circunstancial a um ataque da Justiça à esquerda.

Eram forma de tentar compensar a parcialidade assombrosa de um judiciário comprometido até o último fio da toga com a manutenção de um sistema desigual.

Aécio Neves virou réu para contrabalancear a prisão de Lula – apesar de o tucano ser peça fora da corrida eleitoral e o petista liderar todas as pesquisas.

Geraldo Alckmin, candidato ao Planalto, teve o processo enviado à justiça eleitoral para minimizar a suspeita de receber propinas, embora denúncias semelhantes fossem usadas como indícios fortes contra outros políticos.

Eduardo Azeredo continua à solta mesmo depois de ser condenado em segunda instância – a despeito da prisão ilegal de Lula baseada na covardia do Supremo em respeitar a presunção de inocência.

E nem se fale em Aloysio Nunes, José Serra e outros representantes do partido cujos processos encontraram a tranquilidade e a morosidade de gabinetes conhecidos.

A recente concessão de habeas corpus a Paulo Preto, operador do PSDB e conhecedor dos meandros dos esquemas tucanos, considerado risco iminente à candidatura de Alckmin em caso de delação, é o mais novo agrado da Justiça à legenda amiga – enquanto partidários de siglas adversárias, na mesma situação, amargam a cadeia.

Sociedades historicamente menos submissas a abusos cometidos por autoridades já teriam transformado a parcialidade explícita da Justiça brasileira em combustível para turbinar protestos por mudanças imediatas em nome da igualdade de todos perante a lei.

Mas um país calejado pela desigualdade secular em todos os campos – dos direitos civis às oportunidades econômicas – parece sentenciado a viver em uma inércia definida pela mídia e pelos donos do poder como “respeito à ordem” e à “normalidade democrática”.

Ou seja, condenado à insalubridade da apatia exatamente por quem lhe nega o acesso básico e universal à justiça

 

Redação

4 Comentários

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  1. Faz muito sentido, portanto,
    Faz muito sentido, portanto, a indagnação de Márcia Tiburi para ajudar a entendermos tudo que está acontecendo:

    “…como é possível que pessoas marcadas por opressões de raça, classe, gênero e sexualidade possam se posicionar contra aquilo que as liberta e, em contradição consigo mesmas, favorecerem em suas posições aqueles que agem de maneira opressiva contra elas?”

  2. a…

    Saúde Mental? Não. Exijamos Justiça. Republicana, Democrática. Nossas Elites (TODAS) nunca quiseram esta Justiça. Queriam a sua Justiça, para ser aplicada conforme seus interesses. Paulo Preto, de 40 anos de lavagem de dinheiro para o Tucanistão, é solto no mesmo dia que o Vereador do PT é preso por crime de Lesão Corporal que tornou-se pela vontade de Juiz do Tucanistão, em Tentativa de Homicidio. Mas o revelador nestas questões todas: esta tal Constituição Cidadã NUNCA passou de uma farsa. O problema é que agora, os Farsantes estão tendo que enfrentar sua Obra.  

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