A patifaria da financeirização contra o consumidor brasileiro, por J. Carlos de Assis

A patifaria da financeirização contra o consumidor brasileiro

por J. Carlos de Assis

Um amigo comentou meu último artigo sobre o assalto dos bancos à própria clientela, com cumplicidade de lojas, mediante artifícios de financeirização. Acrescentou os seguintes argumentos aos meus, mostrando que a vigarice é infinita. Eis o passo a passo: negocia-se entre bancos e fabricantes um pacote de 100 aparelhos de alguma coisa. Em média, 20 são vendidos à vista e 80 a prazo, conforme esclarecimento de um vendedor.

As vendas à vista subsidiam o financiamento de todos os aparelhos. Os bancos sempre ganham pela venda das 100 unidades, pois o preço de venda tem obrigatoriamente que ser o mesmo, em qualquer loja, à vista ou a prazo. O comprador é “obrigado” (ou induzido) a comprar a prazo e, dessa forma, pagar os juros embutidos no preço. Se comprar à vista melhor ainda: o banco encaixa a grana de uma única vez, com os juros.

Que o fantástico capitalismo brasileiro, excepcionalmente criativo na extorsão dos consumidores, tenha estabelecido um mecanismo tão infame de ganhar dinheiro em cima de sua clientela não deve surpreender. O que surpreende é que essa patifaria tenha a cobertura do Banco Central, justamente o encarregado de supervisionar o sistema financeiro e estabelecer limites a sua atuação.

Contudo, se conversarem com algum dirigente do Banco Central ele dará de ombros e dirá que é o mercado o grande regulador financeiro. Isso me leva a concluir que o Banco Central é inútil. Uma pequena agência, tipo a Sumoc do passado, poderia perfeitamente desempenhar seu papel. Com isso economizaríamos os maiores salários da República, com a provável exceção do Judiciário e outros privilegiados.

Na realidade, os banqueiros centrais brasileiros gostam mesmo é de se sentar à mesa com os grandes bancos centrais e receber instruções diretamente deles em Washington, Londres, Paris ou Berna. Essa grande orquestra de patifaria contra os povos é orquestrada pelo Banco de Compensações Internacionais, que veio da impotência contra a grande crise financeira do início dos anos 30, sobreviveu a uma decisão de extinção nos anos 40 e reina soberano desde então.

Entre as regras do BIS está a de que os tesouros não podem emprestar a empresas estatais. Se, em 2009, nos tivéssemos submetido a essa restrição o Brasil não teria tido o espetacular crescimento de 7,5% em 2010, pois foi uma injeção de R$ 180 bilhões de recursos do Governo na economia, através do BNDES, que possibilitou esse desempenho. Na verdade, o que o BIS quer é filtrar através do sistema privado todos os recursos governamentais.

Fui um conselheiro econômico informal do saudoso vice-presidente José de Alencar, o mais inconformado dos brasileiros com as altas taxas de juros. Fiz para ele vários memorando reforçando essa convicção. Tendo percebido que estaríamos inapelavelmente derrotados, apelei para o humor. Quando ele assumiu o Ministério da Defesa, sugeri: “Presidente, aproveite essa posição. Mande uma divisão de tanques cercar o prédio do Banco Central, tirar os funcionários e abatê-lo com um bombardeio de saturação. Acho que assim eles baixam os juros.”

Infelizmente ele não me levou a sério!

Redação

Redação

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  • Não levei a sério também. O

    Não levei a sério também. O sonho de qualquer funcionário do Judiciário, que nada tem  ver com o assunto do texto, é ter o ordenado triplicado com um salário daqueles de analista do Bacen.

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