Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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A subordinação do trabalho produtivo e de serviços ao capital financeiro, por Rui Daher

Betty Friedan

A subordinação do trabalho produtivo e de serviços ao capital financeiro

por Rui Daher

Este samba vai para Betty Friedan, Gloria Steinem e Germaine Greer. Aquele abraço!

Este um assunto que não precisaria ser discutido no Brasil. Vivemos séculos de predomínio selvagem do capital sobre o trabalho. No início, pelo extrativismo e depois, em sequência, pela agricultura e pastoreio por escravos, industrialização e mercantilismo exportador sem leis de proteção ao trabalho que, depois de regulamentado por Getúlio Vargas e reforçado pela Constituição de 1988, se tornou inimigo na formação de um capitalismo avançado quando, pelo contrário, deveria ser seu maior aliado.

Há pelo menos três décadas, entre os vários benefícios, inclusive para países produtores e exportadores de bens primários, aqui chegaram os “produtos” oferecidos pela especulação financeira.

Daí em diante, em cadeia (hoje literal) acobertada por arranjos que unem a aristocracia política e os coronéis da economia em busca de interesses próprios contrários aos do País, o pacto se fortaleceu, e do extrativismo exportador às FEBRABAN e FIESP, se sobrepôs aos direitos do trabalho, aí incluídos não apenas a paga pelo aluguel da mão-de-obra, mas a cidadania.

Esse pacto, na verdade, nunca soçobrou ou foi quebrado, mesmo durante o período 2003/2016, quando se ensaiou implantar mecanismos de melhor distribuição de renda e consumo, liquidados assim que a elite econômica percebeu seus ganhos não mais suficientes para o derrame de migalhas à base da pirâmide social.

Deu-se o golpe sem que se poupasse qualquer tipo de canalhice. Outros virão, dentro e fora do atual, e eternos enquanto durem.

O estrangulamento da classe trabalhadora, em sua pobreza, no entanto, não é mais exclusividade nossa, contrariando a opinião de quem se exila em Miami, Lisboa, Cingapura. Ou de quem parte para ser açougueiro em Nova York.

Vários estudiosos têm-se debruçado sobre o tema e dizem tal situação generalizada pelo planeta. Vocês devem ter lido livros e artigos afirmando aquilo que ao neoliberalismo econômico brasileiro não interessa entender.

Em 40 anos, nos EUA, a diferença entre os 10% que ganham mais e os 10% que ganham menos cresceu quase 6 vezes. Assim: a relação do salário semanal de jornada integral dos primeiros, que era de US$ 500 versus US$ 200, passou, em 2016, para US$ 2.200 versus US$ 385. São dados do Departamento do Trabalho norte-americano.

Muitos brasileiros assalariados gostariam de ser pobres nos EUA. Ganhariam R$ 1.300/semana e poderiam ir ao Maraca ver o Mengo jogar. Mas tudo é diferente aqui e lá, inclusive os preços relativos. Interessa que, mesmo sem considerar os ganhos financeiros e patrimoniais, a desigualdade aumenta nos EUA e em todo o planeta-Piketty. Não há como contestar e explica muito da eleição de Donald Trump.

Declaradamente, o direcionamento político do presidente pele-laranja é o de governar para o 1% mais rico. Suas propostas enviadas ao Congresso revelam tesão por voltar aos tempos da Reaganomics, sem notar que hoje o mundo não é mais o mesmo.

Entre os anos 1980 e a crise 2007/2008, o índice de produção nos EUA foi de 45 para 100. Regozijo. Sete anos depois, em 2015, mal beirou 104. Manteve-se com as conquistas realizadas no período pós-Segunda Guerra, incluídos negócios e guerras em terras alheias. Mas ralentou feio, apesar do incremento em tecnologia e automação. Com isso, os empregos fabris, em milhões, caíram de 20 para 13,8, agora 12,3.

Trump justificou isso com os movimentos de outsourcing e a imigração, legal e não. Como se Juanito e Johnnie não fossem os mesmos personagens de uma opereta recessiva. Mentiu na campanha e duvida-se que conseguirá algo nesse sentido. A não recuperação do emprego pela baixa qualificação pega tanto mexicanos como descendentes de irlandeses.

Fato é que enquanto no Brasil passamos os dias tentando adivinhar as próximas traquinagens de Rodrigo, Gilmar, Temer e Joesley, o planeta se rearranja para novo salto nos ciclos do capitalismo.

Estamos cegos e nem chegamos ao século 19.

https://www.youtube.com/watch?v=bn5TNqjuHiU]

[video:https://www.youtube.com/watch?v=b8-Y64oR5E4

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

3 Comentários

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  1. a….

    Caro sr. Rui, eu continuo sem entender a lógica da nossa Gestapo Ideológica do Anticapitalismo Tupiniquim. Se o tal do capital é assim tão devastador e opressor das conquistas sociais, e não o contrário, como é lógico, pois a pobreza é a falta de dinheiro (nossa esquerdopatia quer que o dinheiro passe pelo Estado para chegar ao pobre. Quando é mais sensato passar pelo pobre para chegar ao Estado). Tudo bem, mas se é assim tão antagônico, por que Frei Chico, irmão de Lula, ia buscar seu contra cheque todo mês com os “Exploradores da Cidadania Nacional”?  Acessoria? Então para que o silêncio, o discurso, o enfrentamento, a mentira? Por que Bezerra, da familia/corornel Bezerra (que o sr, conhece tão bem) é do PSB? Inacreditavelmente PSB de Arraes e Campos. Por que o dinheiro corria solto nas engrenagens e contas mortadelas e coxinhas? Se o capital é o destruidor das nossas florestas, por que Marina tem o jatinho do Itaú, à disposição em qualquer momento? Alô. Joesley? Preciso de 1 milhão, agora. Mas pra quê? Pagar advogado. OK, pode vir buscar. Alô, Perrella? Já arranjei. Aquela mão de poquer em Las Vegas ainda está de pé? Está, mas o que você disse? Dinheiro para o advogado. Mas se descobrirem, o que você vai falar? Que a culpa é do capitalismo e de Donald Trump. abs.  

  2. Zé Sérgio,

    Seria impossível a população mundial com a sua correção e nobreza. Todos os sistemas econômicos do mundo permitem as mazelas que você cita. Mas como vivermos de forma consciente sem procurar mecanismos dentro das política, economia e sociedade que não amenizem tais mazelas? Repetindo ad aeternum que está tudo errado? Abraços 

    1. zé….

      Caro sr., mas nunca podemos abrir mão de coerência e lógica. Muito menos em política e em figuras a quem delegaremos a condução da nação. Se nossas discussões não são pautadas por coerência e lógica, para que a discussão? O Brasil já está explicado.  

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