Achatar a curva pode ser uma grande falácia, por Rogério Maestri

É igual a colocar um pequeno curativo num grande sangramento, ou seja, não é uma solução absoluta em termos de saúde pública.

Achatar a curva pode ser uma grande falácia

por Rogério Maestri

Algo vinha irritando-me durante muito tempo e o mais incrível que não me dava conta do porquê, durante toda essa epidemia escutei e li centenas de vezes a expressão “achatar a curva” como uma política sanitária para combater a epidemia. Como sou engenheiro especialista na área de recursos hídricos e saneamento ambiental, achatar a curva é algo extremamente comum no combate de cheias, pois uma cheia num rio forma uma onda de longa duração que atinge a determinados níveis nas margens dos rios que podem causar destruição e mortes, logo se obras contra as cheias, como reservatórios em cabeceiras de rios achatam a onda de cheia e produzem danos menores as propriedades e muitas vezes zeram o número de óbitos.

Partindo dessa lógica aceitei as palavras “achatar a curva” como algo benéfico e que diminuiria o número de mortos, porém numa rápida reflexão que me veio a mente nesse dia comecei a pensar que achatar a curva no caso de doenças como as provocadas pelo Covid-19, achatar a curva somente não leva a nenhum resultado excepcional e muitas vezes é igual a colocar um pequeno curativo num grande sangramento, ou seja, não é uma solução absoluta em termos de saúde pública.

Para explicar melhor tracei dois gráficos, um primeiro que é simplesmente o processo de “achatar a curva” sem nenhuma medida forte d contenção e o segundo é achatar a curva e no momento que a primeira onda chega ao ponto mais baixo e é mais fácil de rastrear a contaminação e por consequência ZERAR o número de contaminações.

No primeiro caso, simplesmente procura-se alongar o tempo da contaminação tornando mais suave o pico, porém com o tempo se chega à aproximadamente o mesmo número de mortes, que esta representada na figura com uma pequena linha vertical antes da região vermelha que seria a equivalência de mortos entre os com ou sem achatamento da curva. No momento do máximo achatamento da curva dever-se-ia tomar medidas fortes de contenção da doença para zerar a contaminação e zerar as mortes, isto é o que foi feito na China, no Vietnã e na Nova Zelândia.

Se essa contenção não for feita, a população sentindo-se mais segura desleixará as mediadas de contenção e se pode atingir um grau de mortalidade muito maior do que com a doença sem nenhuma contenção ou com medidas frouxas, porém contínuas até a vacinação.

Redação

6 Comentários

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  1. Fui professor de Hidrologia e Recursos Hídricos na UFSC, e concordo com o Prof. Maestri (redundante, né?): achatar a curva somente, é adiar as mortes.

  2. “Achatar a curva” tem como objetivo fundamental evitar a sobrecarga do sistema de saúde, em especial quanto à disponibilidade de ventiladores mecânicos. Desta forma, indiscutivelmente tem salvado muitas vidas, embora de fato não se trate de medida sanitária, seja preventiva ou terapêutica (ação esta de outra ordem e natureza).

  3. Está bem errado. Achatar a curva é para dar tempo que surja novas terapias e medicamentos que possam diminuir a mortalidade. Compare as mortes de New York e New Jersey no inicio da pandemia, com a de outros estados americanos que só aumentaram bem depois.

    1. Quais medicamentos que o povo brasileiro está recebendo de novo no SUS? Tubaína? Cloroquina ou ozônio anal?
      O que aconteceu em New York e New Jersey foi que as casas de repouso para os velhos foram responsáveis pela imensa maioria das mortes, nos outros estados o pessoal tirou os velhos dos asilos e levaram para casa, por isso diminuiu a mortalidade (além de começarem a cuidar melhor dos asilos). Além disso tem que ver a densidade populacional dos estados e nos dias de hoje em NY e NJ morrem 1/10 do que morre na Flórida e no Texas, que começaram muito depois.

  4. Maestri, nao se deve retirar do argumento a favor de achatar a curva a capacidade instalada do sistema de saúde. Se todo mundo fica doente ao mesmo tempo, muita gente que nao morreria vai morrer por falta de cuidados médicos (além do pânico que causariam as imagens de corpos sendo empilhados dentro e fora dos hospitais). Este aspecto é mais decisivo do que a espera pela vacina.

  5. Parece que não entenderam o que está escrito no artigo e também não entenderam a dinâmica da pandemia.
    Países que venceram a epidemia (Vietnam, China, Nova Zelândia e outros) simplesmente não procuraram achatar a curva, procuraram eliminar a doença através de isolamentos sérios de curta duração (máximo um ou dois meses) paralisando ao máximo a vida social e eliminando a contaminação isolando os poucos casos existentes, outros países adotaram medidas frouxas que postergam as mortes e cansam a população.
    A epidemia não dá mais manchetes e estamos com uma média de 600 a 700 mortes por dia, vai diminuir um pouco e daqui a dois ou três meses voltaremos a uma segunda onda com os mesmos 600 a 700 mortos por dia (ou mais), mas achatamos a curva.
    A Italia quando viu os caminhões do exército italiano cheio de caixões o pessoal começou a levar a sério e nos dias de hoje tem muito menos mortos por dia que na França ou na Espanha, sendo que o sistema de saúde francês é considerado muito melhor que o italiano.
    O que se consegue com esse achatar a curva é NORMALIZAR as MORTES, agora os estados vão abrir as escolas e vai subir que nem um foguete a contaminação, pois os netinhos vão matar as vovozinhas e os vovozinhos (quando não for o pai e a mãe), mas os brilhantes governadores e prefeitos consideram que já achataram a curva.

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