Opinião

Alien, um passageiro brasileiro: ficção e realidade, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Alien, um passageiro brasileiro: ficção e realidade

por Fábio de Oliveira Ribeiro

O genocídio pandêmico brasileiro é um fato. Se ele produzirá ou não consequências jurídicas é uma questão em aberto. Todavia, Bolsonaro não terá no Tribunal Penal Internacional o mesmo tratamento que tem recebido no STF (tribunal que arquivou duas denúncias de genocídio sacadas contra ele).

No filme Alien, o 8º passageiro quase toda a tripulação de uma nave espacial é dizimada. Três incidentes definem o rumo daquele filme. Ao investigar as ruínas da nave alienígena, Kane não toma o cuidado necessário. Quando o grupo de tripulantes retorna à nave os protocolos de segurança são violados pelo oficial de ciência Ash. O tripulante contaminado não é rigorosamente isolado dos demais o que permite à infestação nascer e assassinar a tripulação.

Bolsonaro trouxe o patógeno para o Brasil ao retornar dos EUA e violou deliberadamente os protocolos de segurança para que a pandemia pudesse se espalhar pelo país. A especialidade dele não é defender a ciência e sim provocar mortes.

Programado pelo Exército para tratar o povo como inimigo, o presidente brasileiro não pode ser comparado a Ash. Antes de ser desligado, o androide infiltrado na nave espacial pela companhia revela sua simpatia pela tripulação. Bolsonaro nunca será capaz de fazer isso. Muito pelo contrário, sempre que pode ele demonstra desprezo pelas vítimas da pandemia.

Apesar de fazer pose de herói, durante a pandemia Bolsonaro se comportou como se fosse o Alien. Transformado numa versão continental da nave Nostromo, o Brasil já enterrou 600 mil cidadãos. Segundo os especialistas, 2/3 das mortes poderia ter sido evitada e não foi. Todavia, até o presente momento ninguém foi capaz de ejetar o assassino em massa no espaço.

“Nossas instituições estão funcionando. ”Essa é a maior peça de ficção já concebida por um Ministro do STF. No filme, o extermínio dos tripulantes da nave espacial foi provocado por uma combinação de malícia da companhia e descuido dos tripulantes. No Brasil, o genocídio é um programa de governo bem estruturado apoiado pela iniciativa privada e legitimado pelo Sistema de Justiça.

A única instituição que funciona no Brasil nesse momento é a impunidade. Médicos que fizeram experiências com pacientes estão soltos. Planos de Saúde que provocaram a morte de seus clientes não foram impedidos de continuar funcionando, nem tiveram seus bens confiscados para indenizar os parentes das vítimas. O presidente genocida continua no cargo e é tratado como se tivesse a prerrogativa de provocar mortes pelo PGR e pelo presidente da Câmara dos Deputados.

Ninguém pode esperar nada do Exército, instituição historicamente concebida para defender os interesses sórdidos da minoria contra as reivindicações de justiça da maioria da população. A imprensa oscila entre atacar Bolsonaro e defender seu legado neoliberal.

Tudo bem pesado, devemos concluir que no Brasil um filme como Alien, o 8º passageiro merece ser reclassificado. Entre nós, aquele filme não pode mais ser considerado uma obra de “ficção científica”. No máximo, ele é uma pálida metáfora da realidade brasileira com um final feliz. Em nosso país, o final daquele “melodrama espacial” seria outro.

Após fracassar durante a fuga, Ripley seria estuprada e torturada pelo Alien. Depois ela seria lançada viva no espaço. No segundo filme, o corpo congelado dela seria encontrado. Aquecido dentro da nave de resgate, o cadáver de Ripley daria a luz ao novo alienígena. O filhote assassino dela teria o rosto de Carlos Bolsonaro, chefe de quadrilha que curiosamente continua atuando como se fosse intocável pelo Judiciário brasileiro.

Se levarmos em conta o escândalo do Pandora Papers outra sequência de eventos fictícios é possível. Nesse caso, Bolsonaro não seria o próprio Alien e sim o vetor que o transmite ao descuidado Kane. A tripulação da nave espacial seria então devastada por um ser das profundezas do espaço desprovido de moralidade cuja principal característica é provocar mortes expelindo ácido ao ser ferido.

Enquanto estropiavam a economia brasileira, o presidente do Banco Central e o Ministro da Fazenda enriqueceram e esconderam dinheiro sujo num paraíso fiscal. O primeiro disse que reduzir mortes por coronavírus era pior para a economia. O segundo tentou de todas as maneiras possíveis reduzir os gastos com saúde durante a pandemia. A semelhança entre o 8º passageiro da Nostromo e o neoliberalismo é uma hipótese que não pode ser descartada.

Como estamos falando do remake brasileiro do famoso filme, Ripley não poderia sobreviver. Na última cena de Alien, um passageiro brasileiro o peito da improvável heroína explodiria. E assim nasceria o primeiro alienígena com duas cabeças da saga; uma delas seria parecida com Paulo Guedes e a outra idêntica a Roberto Campos Neto. Os banqueiros neoliberais pilantras são os verdadeiros genocidas.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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