Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Allende sacrificou a vida, Lula a liberdade, por Francisco Celso Calmon

Com nove meses de governo bolsonarista estamos assistindo ao nascimento de um monstro protonazifascista e uma resistência difusa e desprovida de uma estratégia unificadora

Allende sacrificou a vida, Lula a liberdade

Por Francisco Celso Calmon

Uma experiência singular foi a do Chile de Allende e da Unidade popular, talvez não esgotadas as reflexões e lições a extrair dela.

Abro aspas para a publicação nas redes sociais, de Carlos Faial da ALN, meu camarada da época do movimento secundarista ao combate armado à ditadura militar, sobre Allende, neste 11 de setembro: Um dos maiores líderes revolucionários do mundo. Uniu as forças progressistas, socialistas e comunistas do Chile, através da Unidade Popular. Tentou de todas as formas avançar com as reformas sociais e travar a luta política e ideológica, dentro da constituição e as leis chilenas. Atuou com tanta coragem e brilhantismo, que o império não teve alternativa do que apelar ao golpe militar para assassiná-lo, e massacrar os militares, a militância e a população que resistiu ao golpe pró imperialista e fascista do traidor Pinochet”.

O recurso ao golpe faz parte do arsenal do império e de seus tentáculos locais. As forças democráticas devem aprender não só a reagir, quando o momento chegar, mas, principalmente, a proagir. Toda estratégia de transformações estruturais deve também prever e construir um arsenal de sustentação e ações antecipadas que impeçam preventivamente o golpe ou a ele se contraponha no timing devido.

Por isso, é fundamental compreender a história e se guiar pelo eixo central da luta de classes. No qual a atividade permanente de FOP – Formação, Organização e Protagonização das classes trabalhadoras e da juventude estudantil, é continuada e perene.

As esquerdas brasileiras não estão se preparando para enfrentar o avanço do Estado policial bolsonarista. Enquanto a luta institucional estiver desligada dos movimentos sociais, estar-se-á repetindo o modelo anterior, no qual a crença de que as reformas estruturais, em favor da nação e do povo, ocorreriam sem resistência reacionária e sem o recurso a instrumentos golpistas.

Em qualquer quadra histórica que houver uma democracia popular, o núcleo ideológico das classes dominantes, alinhadas ao império, estará conspirando. Qualquer aliança com frações do poder dominante, devemos lembrar da fábula do escorpião, a qualquer momento da travessia vão trair e nos picar.

A conspiração está para esse núcleo, assim como formar, organizar, agir/proagir por seus direitos e demandas deve estar para as classes oprimidas e exploradas do sistema.

Com nove meses de governo bolsonarista estamos assistindo ao nascimento de um monstro protonazifascista e uma resistência difusa e desprovida de uma estratégia unificadora, capaz de abortá-lo e evitar que o dragão da maldade continue a se alimentar dos direitos sociais e políticos do povo.

Em hipótese existem dois caminhos, não ideais mas possíveis: um, a destituição do Bolsonaro mediante um pacto, no qual há o risco das forças de esquerda não participarem; dois, a aversão crescente da população com o governo levá-lo a sangrar, mas sem ir a óbito.

A travessia em qualquer hipótese será tormentosa. E ambos caminhos haverá articulações visando as eleições de 2022.

Propostas paradoxais de frentes amplas com restrição, articulação de movimentos institucionais sem conexão com os movimentos sociais, proposições idealistas, como se a realidade fosse de ascenso da luta de massas, enfim, a busca de solução sem reflexão dos ensinamentos da história e sem o pé no chão.

Os eixos internos que sustentam o governo bolsonarista estão perdendo força. Moro e sua lava jato em putrefação, Guedes em descrédito, por resultados pífios na economia. Contudo, ainda não implodiram. Se deixarem de ser alvos das forças democráticas e populares, podem sobreviver e sustentar o bolsonarismo por mais algum tempo.

A sustentação externa está fraquejando; a mídia globo, praticamente isolada na defesa do governo, está fazendo balão de ensaios de uma possível virada; as forças armadas conspirando, como sempre, para encontrar uma saída que não seja se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Nessas ondas agitadas surgem açodados e personalistas com candidaturas para 2022.

Há um traço em comum entre alguns movimentos ou frentes que objetivam a recomposição do Estado democrático de direito e as candidaturas do campo de esquerda insinuadas no presente. Qual seja: a exclusão de Lula.

Por que uma frente ampla pelos “direitos já” excluir a luta por Lula livre? Não há direito mais imediato a ser alcançado senão a liberdade de um preso político, quando a luta maior é pela recomposição do Estado democrático, especialmente quando foram Lula e Dilma os primeiros a serem golpeados.

Dilma no uso do seu direito administrativo, como presidenta, de escolher, nomear e dar posse a um quadro de livre nomeação, como o de ministro-chefe da Casa Civil, e o dele, Lula, o de aceitar, pois estava em pleno gozo de seus direitos políticos.  Gilmar Mendes, cometendo abuso de autoridade, invadiu a seara administrativa de um outro poder e impediu o exercício de dois direitos. (A reação que não houve é um outro capítulo).

O golpismo para impedir a candidatura do Lula vai encarcerá-lo e para isso vai atropelar o devido processo legal, desferindo a ele, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao Direito mais alguns golpes.

Prisioneiro do Estado policial será impedido de dar entrevistas para apoiar o seu candidato e de nele votar, configurando novos golpes às suas prerrogativas.

A camarilha que usurpou o poder, de Temer a Bolsonaro, fez de Lula o seu inimigo público número um, assim como a ditadura militar fez com Marighella. As ditaduras, se não assassinam, prendem, mesmo ilegalmente.

O retorno à democracia impõe por direito, por politica e por ética, o reconhecimento e o imperativo de propiciar a Lula o que foi lhe retirado por atos de força do golpismo.

Lula foi impedido de ser candidato e ganhar as eleições. Estaria na presidência da república e não o miliciano Bolsonaro, para alegria do povo e harmonia da nação.

Recompor a democracia e fazer justiça histórica é reconhecer que, quando livre, Lula será candidato a presidente, se assim o desejar juntamente com o seu partido, PT.

Quando políticos de esquerda se insinuam ou se assumem como candidatos a presidente em 2022, de duas uma: ou não acreditam na liberdade do Lula ou não reconhecem esse seu primígeno e legítimo direito.

Lula libertado será o candidato virtual da maioria das forças democráticas contra o protonazifascismo.  Sua candidatura será a antítese do Estado policial bolsonarista.  Sua vitória será a redenção da democracia.

Poderão surgir Tancredos, pactos e outras armadilhas e interpretações, mas que tenhamos o retrovisor da história como nosso farol a iluminar o futuro do Brasil.

 

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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