Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Anátema ou debate, por Francisco Celso Calmon

Malgrado vivermos sob um Estado policial, ainda há liberdade para debater os rumos do país. Neste contexto está a questão do candidato a vice numa chapa com Lula.

Anátema ou debate

por Francisco Celso Calmon

Consciência e organização, ousar lutar, ousar vencer

2022:  Solidariedade, civilidade, resiliência e muito debate para alcançarmos no exercício da práxis a soberania nacional e popular.

Como geração 68, demos a nossa juventude e a própria vida na luta contra a ditadura. Ao fim e ao cabo vencemos. Começamos a construir uma democracia. Mas as estacas e alicerces foram frágeis e ocorreu o golpe de 2016.

Malgrado vivermos sob um Estado policial, ainda há liberdade para debater os rumos do país. Neste contexto está a questão do candidato a vice numa chapa com Lula.

Têm os que defendem que seja o Alckmin e têm os contrários.

O que me arrepia são os que não querem o debate. Querem a adesão obsequiosa a quem quer que o Lula escolha.

Afinal, liberdade pra quê? Pra que pensar, refletir, imaginar, se não puder verbalizar, discutir, ouvir o(s) outro(s) lado(s)? Ou são adeptos do pensamento único, desde que seja do seu gosto? Ou por comodidade, ou pragmatismo, do tipo debater pra quê, se são eles ou ele que decide(em)?

A censura entre petistas, o anátema ao debate, o poder de uma mídia de uma nota só, neste quadro estaremos colaborando para o analfabetismo político. A quem interessa a alienação da sociedade?

O debate é essencial para o aprendizado na formação política, é o exercício do contraditório, binário ou plural, no qual as pessoas adquirem capacidade de raciocínio, aumenta a cultura, desenvolve a inteligência.    

O saber é um instrumento que ilumina caminhos libertários, isso assusta aos obscurantistas e nazifascistas, como os bolsonaristas e lavajatistas, a censura ou mesmo a autocensura tem semelhança com eles.

O saber é uma arma indestrutível, por isso mesmo os poderosos o temem tanto. A teoria ganha força quando é incorporada pelas massas, vira um poder material na consciência e na organização das classes trabalhadoras.

“Quem vai decidir aqui é meu partido. O Alckmin deixou o PSDB, ainda vai se filiar (a outro partido). Quem vai dizer se podemos nos juntar ou não é o meu partido e o partido dele. Primeiro temos que definir quem vai ser o (candidato a) presidente e depois quem vai ser o vice”, afirmou Lula no jantar da churrascaria.

Se é o partido que irá decidir, o debate está aberto. Lula evita ser um mandonista. Enquanto alguns militantes prefeririam não debater e deixar o peso da responsabilidade com ele. Há os que afirmam que Lula é clarividente e sabe o que está fazendo, pergunto: onde ele declarou ter escolhido o Alckmin? Não projetem para Lula os desejosos dessa aliança, há muito tempo ainda para essa definição. Como o próprio Lula afirmou, nem ele e nem o PT declararam a sua candidatura.

Mesmo não tendo vocação ao mandonismo, os assessores e áulicos podem levá-lo a ser achar onipotente e cair numa armadilha. Pois, se isto ocorrer, mesmo que disfarçado, irá cometer erros, pois perde o temor de errar e o senso autocrítico, e a democracia, como modo de vida, estará solapada cultural e idelogicamente.

A fome tem urgência, sem dúvida, mas nem por isso a ignorância deve ser alimentada.

Quando levamos assistência AOS FAMÉLICOS, podemos também levar uma palavra, podemos ajudar na reflexão, podemos conversar juntos sobre os porquês da existência da fome no mundo e por que aumentou no Brasil.

Há séculos é feito caridade sem levar a palavra, ou com a palavra do dízimo e do falso milagre, cuja única consequência é o estômago temporiamente satisfeito, a ilusão e a mente vazia; a quem sempre interessa a caridade sem conscientização?

Banir o debate em qualquer circunstância é como excomungar a divergência, a diferença, em última análise, a democracia como modo de ser e conviver.

Os que excomungam a necessidade do debate devem imaginar que os EUA vão assistir de camarote o Lula atravessar a passarela eleitoral até a vitória, sem sofreguidão, sem perigos endógenos e exógenos. Não é teoria, é a real conspiração, a do imperialismo estadunidense, e isso tem a ver com o vice, afinal, a CIA é especialista em assassinatos diretos ou via acidentes. E com um bolsonarismo miliciano, o risco aumenta sobremaneira. Os arautos do racionalismo cartesiano podem extremar e dizer “mas se o vice for progressista, podem eliminar os dois”, bem, aí haveria nova eleição, iremos para as calendas com essa esdrúxula lógica, encerramos em nome do bom senso.  Antes, todavia, vamos lembrar alguns assassinatos e “acidentes” de alguns poucos personagens da história brasileira: Marielle, Teori Zavascki, Juscelino Kubitschek, Zuzu Angel, e a “fakeada”, para mostrar até onde já chegaram no Brasil, sem mencionar os demais pelo mundo afora.

Outro argumento aparentemente óbvio é o de afirmar que as vitórias de Lula e Dilma só ocorreram com um vice de direita, mas desde quando passado é a garantia do futuro? Há muitas variáveis novas daquela época para cá. A guerra híbrida se exacerbou, e, por fim, se fôssemos usar do mesmo silogismo, a conclusão seria que com um vice de direita a vitória está garantida, ou sem um vice de direita não haveria vitória. Até quando?

Estamos vivendo numa quadra de novos ventos no mundo e em particular na América Latina. E se mesmo assim o vice é a garantia para a classe dominante, precisamos saber garantia de quê? O vice constrange ou influencia o titular? Que pacto será esse?

Quanto mais o passado do vice for política e ideologicamente desabonador e equidistante do centro democrático, mais sujeito à instabilidade.

Não esqueçamos que erraram todas as escolhas para o Judiciário, especialmente para o STF, para não falar em alguns graves erros nas opções de quadros no campo econômico.

A questão no momento não é ter um vice de direita, é ter o Alckmin. Não olvidemos que foi lançado pela mídia e assumido pelos defensores e crédulos da conciliação de classes. Além disso foi apoiador do golpe de 2016 e da prisão de Lula.

Ter na vice um político que apoiou o golpe e repetiu a convicção aprovando a prisão arbitrária do Lula, é equivalente a abonar perante a história os golpistas, é anistiá-los sem ter a delegação popular para tal.

Como já disse em outros artigos, quando o vice representa a direita conservadora e reacionária, estará sujeito às vivandeiras do golpismo, com pressão e chantagens, e acaba por ceder ao canto da traição.

Discutir o nome do vice não é diletantismo, não é nenhuma balela, basta olhar a história dos vices desde a República até a atualidade. Negar os ensinamentos pretéritos, bancar o avestruz quanto ao passado, é ser negacionista, é ser repetente na escola política da História.

Viva a liberdade de debater, tão arduamente conquistada e sempre necessária para a democracia consolidar.

Não devemos nos subestimar e temer a pluralidade de opiniões frente à urgência de darmos um basta ao bolsonarismo/lavajatismo, e, no afã de alimentarmos o povo carente, reduzirmos a imperiosa importância da análise e do debate e delegarmos o direito e a obrigação de fazê-los a outros, afinal, corpo e mente são unos.  

Afirmar que o povo brasileiro não gosta de discutir, não é verdadeiro, ele gosta e muito, desde que entenda e tenha identificação e afinidade pelo assunto, veja o futebol, o carnaval, as escolas de samba. Não devemos subestimar o potencial dos brasileiros, sejam famélicos ou alimentados.

Que o ano de 2022 seja o ano dos debates, públicos e privados, presenciais e virtuais, sobretudo para expulsar o nazifascismo de nossas plagas.

Em especial convido e exorto a juventude a assumir o protagonismo que lhe cabe nesse debate, no campo e na cidade, nos sindicatos, nas escolas, nos bairros, e na vida partidária.

Não poderia encerrar, sem sublinhar algumas palavras do discurso de Lula no encontro natalino com os catadores: … as pessoas sonham com pouco, se elas sonhassem mais alto, elas fariam uma revolução neste país. Como sonham com pouco, ele [o povo] se contenta com as migalhas que vão dando. E diz, em síntese, como fazer: “colocar o rico no Imposto de Renda e o pobre no orçamento, para começar a melhorar”.

Sonhar alto, acreditar que é possível a felicidade coletiva, se organizar para lutar e vencer, eis uma receita simples, mas que exige compromisso dos partidos de esquerda e da maioria do povo para concretizar.

Nenhuma família sem teto/Nenhum trabalhador sem emprego/Nenhum brasileiro sem comida.

Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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