Às vésperas da IV Bienal do Golpe, por Ivan Hegenberg

TRF – 4

Às vésperas da IV Bienal do Golpe

por Ivan Hegenberg

Nunca fui fanático pelo PT, mas reconheço na sigla um Partido de Transição razoável. Transição lenta, reformista, repleta de solavancos e contradições, mas que seguia para um patamar mais avançado de sociedade. Não creio que havia correlação de forças necessária para acelerar o processo, ou seja, o Brasil não estava maduro o suficiente para conseguir algo muito melhor que o PT. A tragédia é que a interrupção desse processo de transição está levando a vertiginosos retrocessos. A própria democracia e o Estado de direito estão ameaçados, em uma guerra que já vem sendo travada há alguns anos.

Em 2012, Rosa Weber, assessorada por Moro e pressionada pela mídia, proferiu a seguinte sentença: “Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Os demais votos no STF tampouco mostraram prova cabal. Com isso, desviava-se a atenção de coisas mais sérias como a privataria tucana e os US$ 124 bilhões do caso Banestado, instaurando o clima de vale-tudo contra o PT. A radicalização do antipetismo levou ao surgimento do MBL, à ascensão de Bolsonaro e à péssima composição do Congresso atual.

Em 2014, Aécio Neves não aceitou o resultado nas urnas, sentindo-se acima da vontade de 54 milhões de brasileiros. Se não fosse o clima de chantagem constante que os tucanos estabeleceram, dificilmente haveria o estelionato eleitoral de Dilma, a brusca guinada na economia. Não morro de amores por Dilma, mas sabemos que ela discordava do ajuste fiscal rigoroso apregoado pelo mau perdedor. Acabou cedendo ao mercado na tentativa de não cair, mas o ajuste era uma péssima decisão que, junto à instabilidade política, só poderia levar à pior crise econômica de todos os tempos.

2016, tamanha foi a “febre amarela”, inflamada pela Globo, que conseguiram um impeachment sem qualquer crime de responsabilidade. O julgamento foi político, nas palavras do próprio condutor do processo, ninguém menos que o famigerado Eduardo Cunha. Pode-se até dizer que o Brasil do PT, com suas alianças deploráveis, fosse uma espécie de purgatório, mas a tendência desse país é sempre a descida ao inferno, e com o golpe parlamentar foram reabertas portas abissais. Temer passou a atacar os trabalhadores com uma avalanche de reformas que só podem ser consideradas deformantes. Se havia corrupção na coalizão, o impeachment foi uma depuração ao contrário, deixando desimpedido o que havia de pior nos governos anteriores.

Agora, em 2018, temos um julgamento vergonhoso do ponto de vista jurídico, que vem suscitando críticas de especialistas ao redor do mundo todo. A falta de provas é gritante, ninguém consegue contornar isso de maneira muito inteligente. A investigação minuciosa deve ter frustrado muitos antipetistas, pois a expectativa era de que Lula se revelasse um grande gangster, e o que se comprova é que no máximo temos ali um expert do jeitinho. Jeitinho que, aliás, não é só brasileiro, mas de toda a política tradicional, inclusive no primeiro mundo. Se nossa democracia fosse saudável, a preocupação geral seria com a maneira obscura com que as delações são arrancadas, em vez do clamor por um punitivismo seletivo sem provas. A criminalização de cada gesto de Lula tem seu apelo midiático, mas descamba em uma enorme desmoralização do Judiciário. Aterroriza imaginar quais serão as consequências da IV Bienal do Golpe.

Redação

3 Comentários

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  1. “no máximo temos ali um expert do jeitinho”:

    daria para explicar os fatos ou é só falta de coragem e arrogancia típica da classe media brasileira?

    Aliás, o texto não está a altura dos demais posts sobre o TRF-4.

    1. Também não entendi o “expert no jeitinho”….

      …. e também não entendo a ausência de qq menção a um fato que toda essa perseguição ao Lula revelou. Dispondo do sofisticado esquema de espionagem lá do Norte, que sabe tudo de todos, de todos os poderes da República, o processo judicial contra o ex-presidente não dispõe de uma mísera prova que possa embasar minimamente a  absurda acusação de que o chefe do maior esquema de corrupção no Brasil  ganhou como recompensa  um apartamento e um sítio.  Ou seja, o ex-Presidente Lula não praticou atos ilícitos,  É HONESTO. O mesmo vale para sua sucessora.  E NINGUÉM TEM CORAGEM DE MENCIONAR ISSO. Em todos os escritos, elogios são sempre precedidos de críticas, uma espécie de desculpa antecipada. Medo da mídia?

  2. Às vésperas da IV Bienal do Golpe, por Ivan Hegenberg

    E conhecida a trajetória e sua narrativa do golpe antidemocrático que estamos sobrevivendo.

    O papel sujo é feito pelos feitores estimulados/acobertados pela mídia podre que temos.

    Agora são tres os designados para a tarefa menor de enlamear-se na podridão democrática e legal.

    Por óbvio, e até nem tanto à socapa, são duramente pressionados por superiores, iguais e menores dentro de sua instituição: a antigamente chamada Justiça Federal, hoje justiça federal, em dó menor.

    Um longo, distonante pelos artifícios, levantamento das causas, objetivos e atores envolvidos na vertiginosa queda do Estado e do Brasil como Nação.

    Uns se avocam a legislar se qualquer pudor, outros não se dizem impedidos pelas flagrantes injunções particulares e todos, ou quase isso,  atuam ideologicamente na maior cara de pau.

    As portas do inferno astral estão abertas aos demônios de cada chefe de ocasião.

    Ao povo, as correntes.

    Viramos gado marcado, manobrado e dizimado pelas bestas.

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