Atenção, por Wilson Ramos Filho (Xixo)

As mídias sociais foram monetizadas. Nossa atenção vale dinheiro. A máxima de Benjamin Franklin, time is money, foi substituída por attention is money, pagam por ela.

Atenção

por Wilson Ramos Filho (Xixo)

As novas tecnologias permitiram um acesso à informação nunca visto anteriormente. Verdadeiras e falsas. Relevantes e desinteressantes. O grande desafio para quem consome a informação é separar umas das outras.

Na outra ponta, para quem difunde um conteúdo (para efetuar uma venda, para destruir uma reputação, para defender uma proposta ou para difundir uma ideologia) a questão reside em como chamar a atenção daqueles a quem a informação é dirigida.

As mídias tradicionais de formação do senso comum (os jornais, o rádio, a televisão, o cinema, os livros e as revistas) foram substituídas pelas redes sociais. Atualmente mais da metade das verbas publicitárias (inclusive nas disputas eleitorais, nem sempre de modo explícito) é destinada às mídias eletrônicas, com ou sem recursos aos big-data que permitem o marketing de precisão: oferecer coisas ou ideias a quem já está predisposto a comprá-las.

Durante esta pandemia, que permitiu à pequena-burguesia certo distanciamento social (boa parte da classe trabalhadora não teve essa possibilidade), ficou mais evidente a centralidade ocupada pelas redes sociais em nossas existências. Estamos sempre conectados.

Para chamar nossa atenção para uma propaganda, para um produto, para um blogue ou mesmo para uma laive, vale tudo. Ou quase tudo.

Revela-se essencial nesse mercado (hoje tudo se expressa segundo este significante) chamar a atenção do destinatário da mensagem. A questão não é nova no marketing, desde as antológicas campanhas da Benetton nos anos oitenta até a recente propaganda que se utilizou da pauta identitária para vender perfume no dia dos pais. Chocar é uma maneira de chamar atenção, para vender ideias ou produtos.

As mídias sociais foram monetizadas. Nossa atenção vale dinheiro. A máxima de Benjamin Franklin, time is money, foi substituída por attention is money, pagam por ela. Alguns veículos eletrônicos têm tanta propaganda que até nos irrita. A expressão em língua inglesa, pay attention, é oportuna: paga-se para despertar a atenção do distinto público e da seleta freguesia, para fidelizá-la, para tornar-nos fiéis. A palavra remete, obviamente, ao importante mercado da salvação de almas. As igrejas vivem disso. E cobram.

Tudo é válido para chamar a atenção? Essa é uma questão acessória, mas não menos importante. A filosofia vem se ocupando da eventual limitação ética no mercado da difusão das ideias tensionada pelos dogmas da liberdade de expressão e do repúdio a todas as formas de censura.

Muitos haverão de se lembrar da cena chocante, tempos atrás, em que presidiários jogavam futebol com a cabeça de um dos líderes da facção rival decapitado durante uma rebelião. As mídias tradicionais fizeram questão de divulgar aquelas imagens. A opção por divulgá-las não era neutra. Nunca é.

Não são neutras também as ideias e as imagens encontradas no filminho que circula nas redes sociais, em vários países, explicitando a cólera de inúmeros coletivos em relação a tudo o que significa a maneira bolsonara de existir em sociedade.

Preste atenção. É grátis. E forme sua opinião.

Wilson Ramos Filho (Xixo), doutor em direito, professor na UFPR, presidente do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (DECLATRA).

Redação

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