Brazil, 2019: Anno Domini, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Brazil, 2019: Anno Domini, por Fábio de Oliveira Ribeiro

O que caracteriza um Estado fracassado? A inexistência de instituições capazes de cumprir e fazer cumprir a legislação. A ausência de recursos fiscais para atender as necessidades básicas da população de cuja reprodução depende a própria existência do Estado. A dependência de uma nação estrangeira em razão da impotência militar. A autonomia política inexistente e/ou limitada por agentes externos.

A nação brasileira que emergiu das urnas em 2018 preenche todos ou quase todos esses requisitos. 

Antes mesmo de ser eleito, Bolsonaro conseguiu expulsar os médicos cubanos deixando centenas de municípios em situação de calamidade pública. Ele prometeu reduzir ainda mais os investimentos em educação. Os direitos previdenciários da população brasileira serão reduzidos e/ou extintos. De 2019 em diante quase toda arrecadação tributária brasileira será usada para pagar juros aos bancos. O que restar irá custear as regalias crescentes e imorais das autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário.

O Brasil claramente renunciou à sua formular e implementar uma política externa independente. O Ministro das Relações Exteriores (e Extraterrestes) nomeado pelo capitão fanfarrão já anunciou que adotará a máxima de Roberto Campos “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.

Não por acaso as autoridades norte-americanas já ousam até mesmo exigir publicamente que sua nova província se afaste da China e imponha sanções à Venezuela. Ao invés de estruturar a política externa do Brasil levando em conta nossas necessidades, o Itamaraty se limitará a agir como um órgão subalterno do Departamento de Estado norte-americano. O governo Bolsonaro se limitará a aplicar no Brasil a política externa definida para o país pela metrópole.

De potência militar regional o Brasil foi rebaixado a província petrolífera e financeira norte-americana.  O novo comandante do Exército é um general que completou sua formação nos EUA. Em alguns meses a missão das Forças Armadas não será mais defender a soberania do Brasil e sim garantir o predomínio dos interesses norte-americanos dentro do país.

A doutrina da segurança nacional voltará a se tornar uma realidade. Os defensores da independência nacional, da soberania política e dos interesses genuinamente brasileiros passarão a ser identificados como inimigos internos irredutíveis que podem e/ou devem ser exterminados. Um conflito entre essa a “tropa local de ocupação territorial” e a população nativa que rejeitar as políticas neoliberais de Bolsonaro será inevitável.

O golpe de 2016 “com o Supremo com tudo” foi engendrado na Embaixada dos EUA. É fato: o vice-presidente Michel Temer agiu como informante gringo dentro do governo e se reuniu várias vezes com autoridades norte-americanos dentro da Embaixada dos EUA para definir as novas prioridades do país depois que ele conseguisse derrubar Dilma Rousseff.

A inexplicável complacência do STF em face dos abusos mais do que evidentes cometidos por Sérgio Moro (sobre esse assunto vide https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/vidas-paralelas-sergio-moro-e-cabo-bruno) se tornaram evidentes quando Lula foi gravado dizendo a Dilma Rousseff que os Ministros daquele Tribunal estavam acoelhados*. Tudo o que ocorreu desde então (a consumação da fraude do impedimento, o processo fraudulento do Triplex, a prisão de Lula antes do trânsito em julgado da condenação injusta, etc…) sugerem que o nosso país já perdeu total ou parcialmente o poder de aplicar sua legislação dentro do território da nova província petrolífera e financeira dos EUA.

Apesar de uma decisão válida e eficaz da Comissão de Direitos Humanos da ONU, Lula foi impedido de ser candidato a mando de um juiz de primeira instância formado nos EUA. Sérgio Moro fez acordos internacionais com os norte-americanos sem autorização do Itamaraty. Nomeado Ministro da Justiça por Jair Bolsonaro ele poderá, enfim, realizar seu sonho de submeter a legislação e o sistema de justiça do Brasil à legislação e ao sistema de justiça da metrópole.

A ausência de eficácia da legislação brasileira no Brasil e a predominância do sistema de justiça dos EUA dentro do país já haviam se tornado uma realidade. Isso ocorreu quando o Itamaraty deixou de defender os interesses da Petrobras nos EUA. O próprio MPF sacrificou os interesses nacionais ao prejudicar deliberadamente a indústria naval e os exportadores de carne.

Nossas instituições estão funcionando… proclamou a ex-presidente do STF. É verdade, mas elas já funcionam de maneira subordinada. Em 1822 o Brasil proclamou sua independência. Desde 2016 ele tem proclamado cada vez mais sua condição de província petrolífera e financeira dos EUA. Os efeitos extraterritoriais da legislação norte-americana dentro do Brasil provam que na prática nosso país foi juridicamente anexado e submetido ao império gringo (ou melhor, ao império Klingon).

Em 2016 os votos de 54,5 milhões de brasileiros perderam validade para agradar o Uncle Sam. Em 2017 perdemos os direitos sociais e trabalhistas para garantir lucros crescentes inclusive aos empresários estrangeiros. Em 2018 perdemos as eleições com base em Fake News disparadas dos EUA e os gringos levaram um naco do pré-sal e a Embraer. Em 2019 perderemos nossos direitos previdenciários, o Banco do Brasil, a CEF, o BNDS e o que restou do petróleo e da Petrobras. Mas nós conservamos nossa paciência bovina, a única coisa que deveríamos ter perdido.

O Brasil já é um Estado fracassado. As autoridades obviamente nunca vão admitir isso. Elas continuarão agindo como se nada tivesse ocorrido, pois nenhum Senador, Deputado, Presidente ou Ministro de Tribunal pode, sem perder a dignidade de seu cargo, admitir que foi rebaixado à condição de ventríloquos tupiniquins dos verdadeiros soberanos estrangeiros do país.   

A verdade nos libertará. Já que vivemos num Estado fracassado que aceitou ser anexado pelo império Klingon, devemos proclamar em alto e bom som que não precisamos mais de intermediários. Para felicidade geral da colônia, Donald Trump deve cassar o mandato de Jair Bolsonaro e nomear um procônsul norte-americano com poderes plenipotenciários no Brasil.

Quando chegar ao Brasil, o novo governante da província será recebido com honras e salamaleques pelos leais serviçais dos três poderes subalternos que a comandaram provisoriamente. E então nós poderemos ser felizes para sempre à media que a “tropa local de ocupação territorial” expandir a paz dos cemitérios em todos os redutos em que a autonomia política e a soberania territorial brasileira forem proclamadas. Os que aceitarem se tornar cidadãos de segunda classe residentes na colônia poderão enfim realizar seu sonho de receber um legítimo passaporte norte-americano com uma observação: Valid only in Brazil.

 

 

* acovardados

 

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

11 Comentários

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  1. Você descreveu perfeitamente

    Você descreveu perfeitamente a situação brasileira. E a minha pergunta é: Agora sabendo a verdadeira situação do país, o que vocês irão fazer a respeito?

  2. E pensar que nos doze últimos

    E pensar que nos doze últimos anos de governo democrático não se preparou o país para impedir o fracasso. A cada jogada da direita golpista a esquerda respondia com o ingênuo respeito às leis e à constituição, caminho que desembocou na incrível e irresponsável entrega do ex-presidente Lula à prisão. Agora não adiantam o choro e o ranger de dentes.

    Naõ há força anímica no Brasil verdadeiramente democrático e progressita que consiga reunir condições de lutar contra o tsunami conservador/entreguista que se abateu sobre nós. Condições objetivas para uma contra ofensiva existem, mas as subjetivas estão em frangalhos. Para a minha geração é uma derrota cruel e amarga.

    Que as novas gerações encontrem o caminho para sair do atoleiro. E boa sorte!

  3. A verdade nos libertará

    Houve nesta eleição uma espécie de explosão por alguma válvula de escape na panela social do Brasil. Usaram-se artifícios, mensagens pelas redes sociais, fake news. A esquerda provou que está à altura de uma boa democracia, de uma forma correta de governar, de uma forma republicana de agir. A esquerda brasileira é democrática, humana, legalista, nacionalista e republicana. O grupo golpista que ganhou a eleição não é democrático, incluindo todos os seus subgrupos de poder, com Supremo com tudo. O problema dessa gente é agora governar de verdade e provar que são ou serão melhores que nós. Resta-nos aguardar, em paz. Cairão sozinhos. A verdade nos libertará.

  4. O Nosso povo em 2018 aprovou

    O Nosso povo em 2018 aprovou isso !!!

    O povo sabia no que estava votando !!!! O tempo todo !!! Não foi enganado

    O nosso povo não vale a merda que caga !!!!

  5. O mito de uma nação

    Fabio, essa gente que nunca contribuiu com uma pa para o desenvolvimento do Brasil pensa agora que vai colocar o Pais na rota dos “grandes”. Na cabeça deles é isso: os Estados Unidos são grandes porque o estado é pequeno e o todos podem se empreendores, basta querer e trabalhar. Ou seja: o povo que se vire. 

    Mas o Brasil não é apenas essa tribo neo-conservadora. Temos os pais fundadores bem ou mal da nação, ainda que deixados de lado, suas ideias ainda vivem e o muito que fizeram para construir o Brasil moderno não podera ser apagado de todo, como esperam. 

  6. Boa!

    Assumir a verdade de nossa situação… taí, boa ideia. E se nalgum dia, lá adiante, algum grupo dentre nossos descendentes – netos, bisnetos ou daí em diante –  desejar, que proclamem eles próprios a independência do Brasil (que não será mais nosso país e sim o país deles). Por enquanto pelo menos deixaremos de nos iludir, de desenvolver esquizofrenias, de fingirmos ser quem não somos. Assumiremos ser o que sempre fomos: cidadãos de segunda categoria, deslumbrados confundindo Nova Iorque e Paris (“Não é tudo um luxo só?!”).

    Teremos, assim, direito a sermos expoliados das nossas propriedades a cada vez que os donos do capital decidirem que precisam reconcentrar poder econômico, como os EUA fazem com os cidadãos daquele país; teremos direito a que nossos impostos sejam destinados ao terrorismo que praticaremos contra outros países em vez de atenderem às nossas demandas sociais. Aliás esse negócio de “demandas sociais” é para os fracos. E os fracos não devem mesmo sobreviver. Com sorte poderemos até morrer ou mandar nossos filhos morrerem, ou pior, matarem outros pobres (tornando-se, assim, cruéis assassinos) em algum outro país a ser “democratizado”. Tudo isso e ainda o direito de cantar “Deus salve a América” porque finalmente, assumindo o continente em que somos, seremos americanos e pastaremos na mão do capital como todo bom americano.

    1. O problema é o capital

      Mas de verdade e sem ironia, o povo dos EUA sofre horrores por serem apátridas no próprio país, por ter que manter um estado que, por exemplo, trafica cocaína para sua própria população para fazer uma espécie de caixa 2 do tesouro de lá e financiar torroristas estrangeiros, como financiaram os “Contra” na Nicarágua. E esse é apenas um dos, sem exagero, milhares de ações que o estado dos EUA pratica contra seu próprio povo. Aquele estado só mantém seu povo dizendo-lhe sim porque promove lavagem cerebral intensa com frases de efeito como “os EUA são o melhor país do mundo” e outras bobagens do tipo.

      Na verdade o único inimigo dos povos – estadunidense, brasileiro, francês, ugandense, neo-zelandês, etc. – é o capital. Ou melhor dizendo, as pessoas que controlam o capital desse lado de cá, e que emitem e controlam o dólar. O dólar, apesar de aparentar ser moeda – e como toda moeda, ser instiuição pública – é um tipo de ação emitida por empresas privadas., e o pior, as mesmas empresas privadas que mantém órgãos destinados a fiscalizar essas ações. Na prática é como se a CVM fosse privada e do mesmo grupo de empresas que emitem e controlam o dólar.

      No improvável dia em que os cidadãos estadunidenses livrarem-se de suas lavagens cerebrais, tomarem consciência de quanto são prejudicados e engambelados pelos seus governos, quem sabe consigam contruir naquele território algo realmente público e democrático.

  7. Acompanho os textos do Fábio

    Acompanho os textos do Fábio porque não tem meias palavras, vai direto na jugular. Acrescento que as oligarquias escolheram voluntariamente entregar o país aos gringos, porque não se reconhecem como semelhantes ao povo brasileiro e, sim, elas são preguiçoosas, estúpidas, ignorantes, imconpetentes e cruéis. Também é bom acrescentar que a cúpula das forças armadas são um espelho daquelas, mentalmente submissas aos gringos, ou seja,  traidores do povo que paga  seus salários e benefícios nababescos. 

  8. E digo mais, caro Fabio, tudo

    E digo mais, caro Fabio, tudo isso cantando aquela musiquinha que embalou os 7 x 1 para a Alemanha: “Sou brasileiruuu com muito orguulho, com muito amôôô”

    Uma pergunta, irá o Brasil se tranformar em um gigantesco Porto Rico? Um proterado americano logo de uma vez, é o que você propõe?

  9. Ansiedade contida

    O Presidente eleito mal pode esconder sua ansiedade diante da iminente chegada de John R. Bolton na próxima semana.

    Para usar uma infeliz expressão tornada popular pelo próprio, o capitão reformado pode jair se preparando para “queimar a rosca”. A dele.

    Talvez saúde o visitante, ainda no aeroporto, prostrando-se ao chão para que este, ao chegar, tenha onde apoiar os pés.

    A julgar, entretanto, pela arrogância do visitante, é possível que as ofertas de subserviência a serem deferidas pelo presidente eleito, venham a ser solemente ignoradas. Tipo assim: “Não te f… por que você não merece. Prefiro f… a Petrobras”.

    1. Eu posso até imagina o

      Eu posso até imaginar o diálogo. O gringo chega chegando e dispara:

      I want the hole

      Sim senhor, sim senhor – diz Jair Bolsonaro abaixando a calça e ficando de quatro.

      Uma gargalhada explosiva expande e avermelha o rosto do gringo. Ele dá um tapa na cabeça do minipresidente e grita:

      I want the hole of oil, not your dirty hole moron. 

       

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