Bolsonaro e Black Mirror, Episódio ‘Momento Waldo”, por Vitor Fernandes

Bolsonaro e Waldo

Bolsonaro e Black Mirror, Episódio ‘Momento Waldo”, por Vitor Fernandes

Escrevi um artigo na minha página há umas semanas falando de Bolsonaro como um “coringa” para os inconformados, como um símbolo da busca pelo “anti-político” ou “não-político” por uma população com cada vez mais aversão aos políticos.

Escrevi o seguinte no texto anterior: “Tenho a impressão, pelo que eu escuto em sala de aula e fora dela, que Bolsonaro é um coringa que serve para diversas situações. Você está “puto” com os políticos ladrões? Bolsonaro! Você é contra a desordem, a violência, os direitos humanos, que só defende bandido? Bolsonaro! Você é contra o fim da família? Bolsonaro! Você quer renovação na política? Bolsonaro! Ou seja, se você é contra “tudo isso que está aí”, Bolsonaro!

A escolha do eleitor não é somente por um cálculo racional do que é melhor ou pior para ele. É também emocional e os símbolos que ele tenta representar, caem bem para uma sociedade completamente decepcionada com os políticos e carente de um líder, forte, para por “ordem na casa”.

Essa semana, ao assistir a mais um episódio da série Black Mirror, “Momento Waldo”, a comparação foi inevitável.

Nesse episódio, um comediante dubla um “urso animado”, Waldo, num programa de TV. Esse urso é muito engraçado, escrachado e politicamente incorreto, que fala obscenidades absurdas e faz comentários sobre política sempre escrachando os políticos.

Waldo vai se tornando mais e mais popular quanto mais debocha dos políticos. Os produtores de TV então decidem lançar o Waldo como candidato nas eleições suplementares de Stentonford, uma província britânica, só para ganhar mais visibilidade ao personagem.

No entanto, Waldo, com seu estilo “anti-político” vai angariando mais e mais apoio dos eleitores. Em um debate na TV um candidato tenta chamar as pessoas à razão alegando que estão debatendo com um urso animado e argumenta: “É fácil o que ele (Waldo) faz. Ele zomba e quando ele não consegue pensar numa piada autêntica, ele só xinga”. Waldo então responde com mais obscenidades e grosserias dizendo que os políticos são todos “farinha do mesmo saco, etc.” e é aplaudido pela plateia. A opinião pública se volta então contra o político e a favor de Waldo.

Num diálogo mais a frente, o diretor do programa e responsável pela campanha do Waldo diz para o comediante que anima o Waldo (que não deseja fazer carreira política com o personagem): “está todo mundo irritado com o status quo e o Waldo fala por ele”, em outro momento diz: “não precisamos de políticos”.

Em seguida se encontram com um estadunidense que se apresenta como sendo da “agência”, sem especificar qual (CIA?).

Esse é o diálogo central do episódio. O homem da “agência” diz: “O que você está fazendo com Waldo é incrível…ele pode ser a fachada política perfeita”. Depois acrescenta: “No momento ele é a anti-política, que já é uma posição política por si só, certo? Mas ele poderia comunicar qualquer tipo de conteúdo político sem as desvantagens de um mensageiro humano”

O ator argumenta: “Mas nós não vamos vencer”. Então o homem da “agência” responde: “… é claro que não vão vencer. Vocês foram grosseiros logo de cara. Não têm aquela base substancial a oferecer e toda aquela coisa niilista de ‘a democracia é uma merda, uma loucura e tal’, mas com uma mensagem de esperança direcionado que podemos fornecer, fortalecendo os que não votam, sem assustar o povo sem a sua nova plataforma, vocês têm um produto de entretenimento político global que as pessoas de fato, querem. Poderiam usar isso no mundo todo”.

O ator que anima Waldo, percebe que está sendo usado, abandona o personagem e pede às pessoas para não votarem em Waldo, dizendo que ele é um insulto, etc. Então, o diretor do programa assume o personagem e pede para as pessoas não acreditarem no ator, para acabarem com ele, etc.

Resultado: Waldo fica em segundo lugar nas eleições, mesmo seu animador tendo abandonado o personagem. 

Na divulgação dos resultados, mostrando o poder de influenciar as pessoas Waldo pede para jogarem sapatos no político eleito, que é prontamente atendido pelos seus eleitores, revelando um fanatismo destes. O ator original de Waldo assiste aparentemente pasmo num hospital ao que está se passando. 

Em seguida o ator de Waldo está num futuro aparentemente fascista onde virou mendigo e assiste na TV, Waldo se espalhar pelo mundo e se apresentando como “mudança”.

Bolsonaro é o nosso Waldo, o nosso “anti-político” que se apresenta como “mudança”, “diferente de todos os que estão ai”, que usa, tal como Waldo, frases repetidas, zombarias, escárnio, o senso comum, que não tem projeto político, mas capitaneia o inconformismo adolescente, a aversão aos políticos ao se apresentar como “anti-político” (embora seja político há quase três décadas). 

Bolsonaro se transformou nua espécie de “coringa” para todas as situações de inconformismo, mesmo que não tenha nenhuma lógica nisso.

Essa semana ouvi uma pessoa fazer o seguinte comentário ao ouvir que a reforma trabalhista reduziria seus direitos: “Tá vendo, tem que votar no Bolsonaro pra acabar com isso!”. Ele não sabe que Bolsonaro apoia a reforma trabalhista e previdenciária. Não sabe o que ele propõe politicamente.

A questão é que Bolsonaro não é real para essas pessoas. É um mito. Então, o que o leva a se identificarem com ele não é nenhum atributo humano, como a razão, a lógica, a coerência, o projeto político, etc. É o fato de ele representar algo genérico e que pode ser qualquer coisa: a revolta contra tudo e todos. 

Esse episódio de Black Mirror, mostra os perigos do inconformismo vazio. Mostra que isso pode nos levar ao fascismo num mundo não muito distante.

 

Redação

7 Comentários

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  1. Fui ver bolsonaro
     

    A entrevista dele .só consegui ouvir 28 minutos,(  só ouví, porque não gosto da cara dele e  estava fazendo outra coisa), parecia  interrogatório de psiquiatra para avaliar candidato a interdição.

    Pelo nível de entendimento demonstrado pelo bolsonaro, ele deveria ser interditado.

    Mais que surpreendente, é preocupante que a população queira entregar seu destino a uma pessoa de inteligência tão limítrofe,  para não dizer o mais.

    Foi na globo, com jornalistas preparados que ele foi entrevistado e em nenhum momento aquela senhora da globo, a velha “namoradinha do brasil” apareceu para manifestar o seu medo ou preocupação.

    O Brasil enlouqueceu primeiro e emburreceu depois.

    Será que ele ainda acorda?

    O problema é que enquanto ele dorme, está sendo abusado.

     

  2. Lula é o grande destaque na mídia mundial

    Imprensa internacional ignora Alckmin e Bolsonaro e foca em Lula

    6 de agosto de 2018adminTodos os postsÚltimas notíciasFacebookTwitterGoogle+EmailWhatsAppTelegramCompartilhar41

    O único veículo em que Bolsonaro ganhou maior destaque no exterior, no fim de semana eleitoral, foi na home da direitista FoxNews: “Candidato de direita do Brasil escolhe general como companheiro de chapa”. De resto, a cobertura se voltou para Lula até no agregador direitista Drudge Report.

    No enunciado na home do New York Times, chamando para reportagem de Shasta Darlington, com quatro fotos e entrevistas com Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann: “Enquanto Lula permanece na cadeia, partido o indica para presidente”.

    O texto descreve as máscaras e os gritos de “I am Lula!” na convenção do PT. Também o show “Free Lula” no Rio, “onde alguns dos músicos mais populares do país cantaram baladas desafiadoras escritas durante a ditadura militar”, e o recente apoio de “líderes esquerdistas” como o americano Bernie Sanders.

    Por jornais como o francês Le Monde e o inglês The Guardian, a cobertura das convenções partidárias no Brasil também foi por aí, com títulos como “Ainda na Prisão, Lula é indicado para a eleição presidencial no Brasil”.

    Dois dias antes do anúncio da candidatura, o ex-presidente surgiu ainda em entrevista ao italiano La Repubblica, com enunciado entre aspas: “Eu me candidato mesmo da prisão e você vai ver que o Brasil vai renascer comigo”.

    Com informações da Folha de S. Paulo.

     

  3. E tem muita gente das classes médias que pensa em votar nisso

    Esse tipo anti-politico sempre existiu, não é exatamente uma novidade. João Doria Jr. é um deles. O que me parece novo é um tipo tão tosco quanto Bolsonaro ter tanto sucesso em partes da sociedade brasileira. Mas isso tem explicação bem facil, alias, em vista de tudo o que a imprensa tem feito para desconstruir a politica. A falta de baliza, leva gente mal informada, mal instruida e pouco atenta a optar por “facilidades”, como são as propostas sem base concreta de um candidato como Bolsonaro.

    1. acredito que a falta de base vem do seguinte…

      eleitor dele não necessita de praticamente nada do que os outros candidatos oferecem, em termos de políticas públicas, mas, além de não necessitar,  também não quer que os que mais necessitam sejam atendidos.

       

  4. O perfil

    do eleitor do boçalnaro é o mesmo do eleitor do traficante

     

    O cara alem de mostrar que foi um imbecil em votar no traficante, reafirma sua imbecilidade votando no terrorista

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