Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
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Brasil, hora de razão, por Ion de Andrade

Brasil, hora de razão, por Ion de Andrade

O ataque ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, abre diante do Brasil dois desdobramentos possíveis: o do aprofundamento da fratura e dos conflitos ou o da volta da razão e do diálogo entre diferentes.

País plural e diverso, vivemos numa sociedade que não tem a menor chance de ser homogeneizada à força sob nenhum critério. É claro que o país pode vir a viver tempos de fascismo ou de autoritarismo, como já viveu, já que parece não haver vacina definitiva contra esses males. Mas a experiência universal demonstra que após a volta à normalidade a pluralidade volta a aparecer, comumente de forma ainda mais robusta do que antes. Portanto,se é verdade que querer pela força alinhar uma sociedade à visão de mundo de uma força política pode produzir muito sofrimento, é verdade também que a iniciativa nunca prosperou e sempre foi inútil.

Poderíamos enveredar pela ideia de que a violência que se voltou contra Bolsonaro foi em boa parte alimentada pelo seu próprio discurso violento e ameaçador de que não faltam exemplos. Por mais que isso seja verdadeiro, não passa de uma constatação, sem efeito real sobre a realidade e de nada serve, exceto como reafirmação do fato de que essa violência depois de implantada não se curva a ninguém. Obrigamo-nos a constatar, no episódio, mais um exemplo do feitiço sendo mais forte do que o feiticeiro.

Muito mais útil, entretanto seria perceber que ninguém é invulnerável e que um doente com uma faca na mão pode provocar danos a qualquer um. A violência é cega e se estiver às soltas, como está agora, pode ferir e matar indistintamente.

Temos ido muito longe nessa onda de verdadeira hipnose coletiva que pode nos levar ao fascismo, ao caos ou a uma guerra civil.

Ao campo progressista, historicamente, sempre interessou a paz e o diálogo. Esses valores perenes aos quais as sociedades sempre voltam depois das febres autoritárias devem ser cultivados ostensivamente por todos os que enxergam nesse episódio uma oportunidade para a distensão do clima de acirramento de ânimos em que estamos, um ponto final.

Diria que o candidato que abraçar essa tese de forma mais afirmativa terá os maiores dividendos eleitorais porque essa ideia voltou a ser, por exaustão, uma aspiração geral da sociedade. Sublinhemos que para isso ninguém precisa capitular ou perder a identidade. Ao contrário o diálogo e a busca do consenso exigem clareza de posições e visão de longo prazo. Ninguém precisa deixar de querer Lula Livre ou que o Judiciário deixe de ser a mãe de todos os privilégios. Não.

No meu artigo anterior apontei para a Constituinte como um dos caminhos para a superação da crise de hegemonia em que estamos mergulhados. Os últimos acontecimentos demonstram que a necessidade é incontornável. Há portanto, no escopo do próprio Estado de direito os métodos para a solução dos impasses e divergências que devem selar um novo pacto.

Não sejamos ingênuos. Não há saídas que não passem pelo diálogo e pelo aperfeiçoamento da democracia. Isso acontecerá agora ou depois do caos, do fascismo ou da guerra civil. Façamos desse momento grave da vida nacional uma alavanca para tirar o país do atoleiro em que se encontra e o façamos de forma ostensiva!

Isso demarcará os campos da barbárie e da civilização isolando a primeira e trará efeitos eleitorais para os que queiram fazer desse episódio um ponto final na escalada de insanidades em que vivemos.

Ion de Andrade

Médico epidemiologista e professor universitário

12 Comentários

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  1. Diálogo? Como e com quem?
    A

    Diálogo? Como e com quem?

    A mágica da direita é despolitizar as eleições. O povo não deve discutir politica e sim decidir com base num espetáculo: Collor o caçador de marajas, a bolinha de papel no Serra, a suposta facada no Bolsonaro… Manter a distância entre quem vota e quem comanda o Estado sempre foi o programa político da elite brasileira.

    1. Boa noite amigo Fábio. É

      Boa noite amigo Fábio. É verdade o que você diz, mas, como vejo, o diálogo não é um pedido é uma oferta de uma força que para ser a mais forte pode ter, previamente, que se comprometer com ele, é estratégia para ser mais forte e enquanto mais forte estar comprometido com ele como método.

      Não é atitude só para Haddad, para Ciro, ou para Boulos, é também estratégia para os que vão votar nesses candidatos, todos nós.

      A verdade é que as propostas violentas ontem foram derrotadas em praça pública.

      Abraço

      1. Você é muito otimista. Não

        Você é muito otimista. Não creio que Bolsonaro, Bolsominions, Mourões e Marinhos queiram dialogar com alguém. Qualquer diálogo feito no campo da esquerda será considerado irrelevante por essa gente que ama a hierarquia (desde que eles estejam no topo) e odeia a soberania popular. Vitoriosos ou derrotados eles continuarão dispostos a usar a violência. Difícil dizer se eles serão mais violentos se ganharem ou se perderem. 

         

         

        1. Fábio o diálogo não é com

          Fábio o diálogo não é com eles. É com a sociedade. Por isso assinalei que isso isolaria a barbárie. O que ocorreu com Bolsonaro é a prova cabal de que a estratégia violenta fracassou. Precisamos dos outros para vencer.

          1. Eu entendi o que você disse.

            Eu entendi o que você disse. Apenas estou lembrando você de algo que julgo importante: a tigrada racista, elitista, endinheirada, violenta e pró-mercado (e que se julga dona do Estado) não acredita que a maioria da população faz parte da sociedade. Eles acreditam que os dialogos realizados pelos “outros” (os mestiços, negros, índios, esquerdistas e brancos pobres) não tem e não devem ter qualquer relevância politica.

          2. Triste verdade , Fabio >

            os marginais da sociedade elitista, os ptistas, “de esquerda” são NÃO pessoas. Os DIREITISTAS NÃO ESTÃO interessados em discussão, SÃO FASCISTAS e IRRACIONAIS.

            Eu estou muito decepcionado com nossa sociedade. Voce tente dialogar, é rechaçado como um leproso, um “esquerdista retardado”.

            No hope, at this point…

  2. É isso mesmo. Que a direita,

    É isso mesmo. Que a direita, os apoiadores de Bolsonaro em especial, que o Judiciário com os militares que a direita ampara escutem suas preces. De uma coisa fique certo, é feito briga de cachorro num quintal por território: só termina com os contendores todos machucados, ou na busca da pacificação, quando não seja por um tempo, um dos  brigões põe o rabo entre as pernas. No caso concreto, ou se define com a eleição, com os resultados respeitados por todos, com ações no sentido da pacificação, ou continuará o impasse, que levará a um dos caminhos possíveis que aponta. Que cada um avalie bem as suas forças. A ambos os lados, não basta ter o Governo no controle, porque a desavença prospera. 

  3. Texto bom e objetivo

    Concordo plenamente com o Ion. O diálogo é com a sociedade em geral.

    Passar paz e tranquilidade para o eleitor será o melhor gesto e, de passagem, fugir um pouco da polarização. Pela minha experiência de vida, quem sai em defesa da paz, em momentos como este, adquire liderança e confiança do eleitorado. 

  4. Só um povo disciplinado

    Só um povo disciplinado consciente e treinado pode dar conta dos desmandos desta sociedade dominada por instituições burguesas e corruptas. Eleição no Brasil sempre foi uma fraude. Tente dialogar com o povo e verás, vc que nunca dialogou com o povo pq nunca saiu da bolha. Vai lá.

  5. Concordo plenamente mas temo
    Concordo plenamente mas temo que já atravessamos o Rubicão do conflito social para um campo fora do campo de batalha democrático. Por mais que não abandonemos esse campo de batalha (e com isso concordo plenamente com teu texto e argumento) está claro que nossos antigos adversários políticos há muito abandonaram esse campo de batalha político e democrático. Nossa dificuldade é em manter e manter-se longe do campo de batalha que eles querem jogar a última batalha. Pendemos por um fio que é a eleição deste ano.

    1. Ou posto de outra forma: como
      Ou posto de outra forma: como defender a democracia (digo novas democracias, já que as velhas resistiram ao desafio nazi-fascista) quando ela é atacada não por extremista mas pelo próprio establishment ou com a inexistência ou deslocamento do centro democrático para os extremos do arco político-ideológico?

  6. O BRASIL É DE MUITO FÁCIL EXPLICAÇÃO

    Caro sr. Ion, existe aqui nos comentários, alguém da Direita condenando o diálogo? Falando contra a Democracia? Em compensação estes Progressistas que adoram pregar a Democracia deles?!!! Como é esclarecedor. Sem dizer nada, dizem tudo. Vou citar um , que diz isto: “(os mestiços, negros, índios, esquerdistas e brancos pobres)”. Não é esta a maioria da População Brasileira? Se é esta, por que o medo do Voto Republicano Livre e Facultativo? A maioria então não falaria por si? Mas falando por si, precisariam dos ‘Representantes do Povo’? E como manter a Estrutura Fascista do Voto Obrigatório e Estado Absolutista? Ah! o Estado não é Absolutista, nem suas Elites, praticamente nossa única Elite. E praticamente toda Esquerdopata? Diz aí Dona Carmén Lucia, quem a indcou e empossou ao cargo? Fale para nós Sra. Luislinda (mulher negra, periférica, das minorias) é fácil sua luta com este mísero salário? – Como é possível sobreviver com estes 35 mil reais. Salário de Escravidão. Sabemos. Tamanha dificuldade, não é mesmo?!! O problema dos Aloprados é a eterna Alopração. Deram o golpe lá trás, mas deixaram o buraco aberto. Advinha onde cairam? Pregam a Bandidolatria. Permitiram que o Atentado Terrorista contra a Caravana Do Lula fosse menosprezado. Outro atentado que quase matou um dos seus Correligionários caisse no esquecimento. O Poder Policial e Judicial usado conforme interesses políticos. Agora não adianta diminuir ou também tentar menosprezar o Atentado Terrorista contra seu Adversário. São a mesma coisa. Só que estas forças, que nunca compartilharam com a Bandidolatria, irão tirar muito mais proveito da situação. Como é fácil passar a perna em Aloprados?!!!! Quem é contra o diálogo? Os Comentáios demonstram. Como demonstram o porque de Getulio Vargas, um Ditador Fascista, endeusado até os dias de hoje por nossos Redemocratas Esquerdopatas. Revelador.   

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