Capacidade de conspirar, sim, capacidade de pensar, não, por Rogerio Maestri

Capacidade de conspirar, sim, capacidade de pensar, não

por Rogerio Maestri

Parece que o maior dilema que se encontra o golpe no Brasil dos dias atuais é resultado de sua própria gênese, ou seja, quando algo não é criado de dentro para fora, e quem está fora não entende direito o que é o Brasil, o que continua no golpe é a única coisa que os golpistas tem capacidade de fazer, a conspiração.

Em qualquer evento político, econômico, social e militar há uma necessidade permanente de ir ajustando o projeto inicial ao que ocorre ao longo do processo desencadeado por um autor em qualquer uma das esferas citadas, ou pior, adaptar um projeto em que todas as esferas estão imbricadas e precisão ser reajustadas entre si e com o fluxo contra hegemônico que surge a partir da programação inicial.

O golpe contra a presidente Dilma foi bem tramado, bem estruturado, a partir dos Tinques e Tanques (thinks Tanks) e agências de segurança norte-americanas, treinando seus ratos amestrados nacionais e conspirando com pouquíssimos representantes brasileiros.

Poderíamos questionar toda a eficiência a curto e médio prazo deste golpe através de questionamentos sobre a necessidade de ajustes ao longo do golpe, porém mostrando a complexidade da sociedade e dos filósofos nacionais, invocamos a famosa frase que um desses já postulou enfaticamente “Já combinaram com os Russos”. Se um tradutor da NSA ou um membro do tinques e tanques norte-americano se deparar com esta frase poderá até criar uma teoria da conspiração, e fará para si mesmo a seguinte pergunta:

– O que Putin tem a haver com isto?

Toda a grande intervenção que se faz numa das estruturas acima citadas ou mesmo no conjunto delas, tem que ter duas características, a leitura correta da evolução dos fatos e a correção da sua estratégia ao longo da evolução.

Muitos podem pensar que há modelos baseados, por exemplo, na teoria dos jogos, que simulem estes eventos, porém é possível garantir que os modelos resultantes das teorias dos jogos são praticamente simplórios para responder fatos que são imbricados e sistemas complexos de muitas variáveis, e o pior, sistemas de muitas variáveis são sujeitos num primeiro momento ao caos, que basicamente é a possibilidade de um sistema apresentar duas soluções para valores iniciais praticamente iguais, e o problema não para por aí, quando um sistema com características caóticas evolui ao longo do tempo ele segue na direção de um sistema turbulento, onde o número de bifurcações tende a infinito.

Mas deixando de lado digressões matemáticas e voltando ao nosso filósofo nativo, quanto mais progride o golpe mais longe da situação inicial, prevista e controlada ele fica, e as bifurcações são provenientes de pequenas perturbações que lançam todo o sistema para todos os lados, enquanto estas perturbações são fracas e de pouca energia pode-se com pequenas correções de rumo estabelecer as condições ideais para os golpistas, porém aí entra um outro fator que esquecem os mesmos, os russos!

Dentro de uma partida de futebol, reestabelecendo a analogia inicial, se o campeonato é muito longo, ela não é definitiva para estabelecer quem será o campeão, pode dar uma impressão que vai ser, porém outros parâmetros como a juventude e vigor dos jogadores começar a preponderar sobre uma excelente equipe composta de jogadores mais velhos e experientes, que por serem velhos e experientes, tem suas jogadas conhecidas a priori e os jovens jogadores começam a pensar como superá-los.

No caso do golpe é simples, armado o golpe e executado o seu início, por erros dos próprios golpistas e seus orientadores que desconhecem várias idiossincrasias nacionais, coisa que na verdade só é conhecido por um número de pessoas que se conta nos dedos de uma só mão. E o pior, uma das pessoas que os conhece é exatamente quem se tornou o alvo principal do golpe.

Misturando um pouco o que falado na mera digressão matemática, quanto mais o golpe se afasta de suas origens, quanto mais as cabeças pensantes brasileiras, que para a infelicidade dos golpistas estão fora do seu núcleo de atuação, pensam e agem, maior é a fragilização do golpe.

Alguns ficam preocupados com as discussões intestinas da oposição ao golpe, porém por maiores que sejam estas discussões, e por mais haja fraturas nas hostes antigolpistas, O discurso de desmistificação ao golpe vai penetrando nas classes populares, e estas a todo o momento cobrarão das direções atos mais consequentes e não sectários.

O golpe chegou a um impasse, ou seja, na negativa de Lula se esconder no exílio, na negativa do mesmo tender ao sectarismo e na negativa de se manter a qualquer preço na luta, ele virou um alvo preferencial e quase único dos golpistas, porém qualquer movimento contra Lula que ultrapasse um tênue limite que cada vez fica mais tênue e o limite estreita a margem de manobra dos golpistas, fica mais difícil de seguir o golpe contra as legiões que se avolumam contra ele.

Por exemplo, uma solução, que já deve ter sido testada como hipótese, a possibilidade de realizar, a eliminação pura e simples da figura física de Lula, para quem analisa historicamente traçando uma analogia com a morte de Getúlio Vargas, vê que esta possibilidade tem todas as características de levar a um confronto tão forte que pode desestabilizar não só os golpistas, mas como todo o sistema político existente tanto no Brasil como no resto da América Latina.

Em resumo, não era somente uma partida que se jogava com os russos, era todo um destes campeonatos que não é por pontos corridos, mas sim por fases eliminatórias múltiplas em que cada jogo pode cair no fim no que se chama na imprensa esportiva num mata-mata.

Redação

12 Comentários

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  1. Ou nao
    A morte de lula poderia causar alguma comoção logo trucidada pelas forças de segurança dos golpistas. Como dilma não usou de força para se defender da midia e da partidarização da fraude a jato, como fez por ex o presidente da Turquia, e cedeu de bom grado e sem luta o poder, o trabalho de Lula ficou muito mais difícil pois está “nas cordas” já a algum tempo e sem perspectiva de mudança

    1. Nenhum grupo de habitantes de determinado país não ……

      Nenhum grupo de habitantes de determinado país não pode ser automaticamente denominado “um povo”, são habitantes.

      A construção de um povo é algo sociológico, e só se constrói no momento em que estes adquirem um sentido de unidade, logo realmente nunca fomos um povo, entretanto o mais curioso de tudo que os golpistas estão forjando na adversidade um sentimento de povo, e por isto que ainda tenho esperança.

  2. Que legiões e que comoção?

    O texto é bem coerente até tratar dos efeitos que causaria no povo o ataque violento a Lula.

    Já vi textos de muita gente boa que cai no mesmo erro.

    Derrubaram uma presidente inocente e não houve comoçao nem legiões se avolumando.

    Temer cortou direitos trabalhistas, aumentou a gasolina não em 0,20 centavos mas em quase 1 real e nada de comoção, passeata ou legiões.

    Lula foi condenado na marmelada de Porto Alegre e apenas meia dúzia de gatos pingados do PT foi lá.

    Fique claro: O Povo é um amassa de manobra despolitizada, egoísta e coxinha. Se não foram pro pau nem quando cortaram os direitos trabalhistas, mais nada os fará se revoltarem. Não haverá comoção, manifestação de massa, muito menos legiões populares, nem se literalmente crucificarem o Lula e Curitiba, com o Cunha de um lado e o Jucá de outro.

    1. Meu caro, quando escrever que

      Meu caro, quando escrever que “O Povo é um amassa de manobra despolitizada, egoísta e coxinha.” já dizes tudo do que és, nem vou perder a oportunidade de comentar o que escreves.

      1. mas eu vou perder tempo comentando sobre ti

        Maestri, se eu fosse massa de manobra, eu estaria como 90% da população brasileira, acreditando piamente em tudo que a Globo, a Folha, a Band e a Veja dizem. Mas como sou um dos 10% dissidentes, então não sou massa de manobra.

        Se eu fosse despolitizado, não estaria lendo nem comentando sobre política. Estaria vendo o Neto fazer escândalo na Band.

        Se eu fosse egoísta não estaria me preocupando com os atos de um governo que vai prejudicar o povo pobre, mas pouco atingirá a mim, funcionário público efetivo que se encaixa  em classe média, portanto não precisaria ligar tanto pro que temer faz ( na verdade, a conhecidos meus felizes, pois poderão voltar a ter empregada doméstica em troca de comida).

        Se eu fosse coxinha, não estaria lendo ggn, simples assim.

        Senhor Maestri, não fui agressivo em minha resposta a ti. Falei que você escreveu coisas corretas, mas, como muitos outros, teima em ter esperança em um atitude extrema por parte do povo, como se o povo ofsse a 7ª cavalaria que vai salvar a esquerda, lula e o Brasil, quando cehagarmo  a uma situação limite.

        Só que situação mais limite do que o fim da clt é impossível. E o povo não faz nada, no máximo piadinhas de whatsapp rindo de sua propria desgraça em vez de quebrar o pau no país.

        Eu adoraria ir quebrar o pau no palácio dos bandeirantes ou em brasilia, mas sei bem qeu se for, vou sozinho, e sonzinho, vão me ignorar. 

        Senhor maestri, não fui grosseiro contigo e até reconheci que seu texot era bom ( com exceção de seu equívoco esperançoso). Então por que a resposta agressiva de me taxar de despolitizado, egoísta e coxinha, e dizer que eu sequer valho um comentário? è assim que se age com críticas justas, polidas e educadas? Como vc reagirá com críticas severas e deselegantes?

        1. Foco
          Entendi que o caso Lula foi um exemplo para Como um processo caótico pode se desenvolver a partir de tiques e tanques. O caso Lula não resume se a ele mas a quê ele representa: imaginário popular, liderança autêntica e legítima, democracia representativa, eficiência e eficácia de main stream e mídia underground (onde de fato acontece os movimentos sociais ), etc.

        2. Meu caro, a minha crítica ao teu comentário, não era ………..

          Meu caro, a minha crítica ao teu comentário, não era positiva, mas acho que faltou uma vírgula, pois encadeasse a resposta errada.

          Acho simplesmente que o teu comentário foi algo deproposital. Não que te chamei de tudo aquilo que referiste, foi mais uma indignação contra este tipo de crítica que simplesmente procura denegrir a imagem e auto-estima do povo brasileiro, não levando em conta todo o problema de falta de informação, e pior, da desinformação que elementos que se dizem de esquerda e mais atrapalham do que colaboram.

          Nosso povo é um dos povos mais reprimidos do mundo, a quantidade de mortes que há no Brasil, muitas delas executadas pela própria polícia é um SINTOMA CLÁSSICO de que os nossos trabalhadores são ensinados dia a dia a “onde é o seu lugar”.

          A ação da polícia brasileira de contenção de reinvindicações sociais é algo que poucos se dão conta, a função de todos os agentes públicos ligados a segurança, desde o soldado da PM até o juiz do supremo tem basicamente uma função, manter o povo em “ordem”, mesmo que esta ordem seja contra ele.

          Por isto e mais outras, quando vejo alguém dizendo que o povo trabalhador não reage por motivo diversos, isto me irrita profundamente, pois uma coisa é, por exemplo, uma pessoa como eu, branca, de idade avançada e de nível econômico e social mais alto, quando reage ou fica indignado contra a polícia ou forças de contensão diversas, sofre um tipo de retaliação, porém se for negro, jovem e com nível econômico e social mais baixo, a reação que ele sofrerá será dezenas de vezes mais intensa.

          1. Me desculpe então. De fato,

            Me desculpe então. De fato, ao ler tua resposta, entendi que você me acusava de ser coxinha e egoísta.

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