Carta Aberta aos/às Oficiais Auxiliares e Praças que ingressaram na Marinha a partir da década de 1980, por Anderson da Silva Almeida

Vocês, na Ativa, dificilmente podem se manifestar, com medo das perseguições (parte de ocorrência, transferências de estado e até prisões administrativas) mas eu posso.

Carta Aberta aos/às Oficiais Auxiliares e Praças que ingressaram na Marinha a partir da década de 1980

por Anderson da Silva Almeida

Prezados e Prezadas

É sabido por todos a determinação de Sua Exª, o Presidente da República, que seja lida “Ordem do Dia” em comemoração aos acontecimentos políticos de 01 de abril de 1964, consagrados pela historiografia como Golpe Civil-Militar. Pois bem. Precisamos esclarecer alguns pontos de extrema importância para nossa reflexão:

1. Em nenhum livro de História os militares que ingressaram a partir de 1985 nas Forças Armadas, principalmente os Praças, são apontados como Ditadores, Torturadores ou coisa parecida. Logo, não comprem essa “briga”. Nos anos 1960-1970 você estava no Colégio, talvez com seus 10 anos de idade, sem saber ao certo o que se passava no País. Alguns não eram, sequer, nascidos;

2. Nenhum intelectual sério que atua nas Universidades e Escolas do País enxerga as Forças Armadas como inimigas da Nação, do Povo, da Democracia e da Liberdade. O que fazemos são estudos históricos, situados em um tempo e espaço!

3. Vocês, na Ativa, dificilmente podem se manifestar, com medo das perseguições (parte de ocorrência, transferências de estado e até prisões administrativas) mas eu posso. Precisamos somar forças contra os abusos que ainda perduram na Caserna, a exemplo de sala de espera, elevadores e banheiros privativos para Oficiais nos Prédios Públicos das FA, inclusive em Hospitais Militares, tratando os Praças como escórias da sociedade. ABSURDO!

4. Para que não sofram represálias, sugiro que sejam disciplinados por ocasião da Ordem do Dia. Cortem o cabelo, façam a barba, vistam seus melhores uniformes e, na hora que estiverem perfilados, imóveis, lembrem-se, em silêncio absoluto, do sofrimento de João Cândido e seus companheiros para que a Chibata fosse abolida da Marinha em 1910. Lembrem-se dos marinheiros e fuzileiros que se rebelaram em 1964, dias antes do Golpe, para que nós tivéssemos o direito de casar, votar, estudar e comer bem. Lutaram pela Casa do Marinheiro – que hoje existe com instalações dignas. Lutaram pelo direito de cabos e marinheiros saírem pelas ruas à paisana. Lutaram pela melhoria da alimentação nos navios e quartéis dos Fuzileiros Navais. E ainda sabemos que a diferença entre o rancho da Praça D’Armas (Oficiais) e dos Praças, é gritante!

Por fim, repito, essa briga não é de vocês. Os “Pijamas” que fizeram o que fizeram vivem em suas mansões, com seus proventos caindo todo mês na conta e todas as regalias que sabemos. Os Praças e Oficiais Auxiliares são oriundos dos segmentos mais pobres da sociedade e nós, nas Universidades e Escolas do País sabemos a importância de um emprego estável para quem vem de “baixo’ e muitas vezes é arrimo de família.

Os Praças e Oficiais pensantes são amigos do povo, dos grupos “desvalidos”. Não se iluda com a troca de seu nome na tarjeta. É para você esquecer de onde veio. Você veio de lá, dos Sertões, das Favelas, dos Guetos, da Periferia, do interior, do mato. Você não frequenta o “Clube Naval”. Seu filho não joga tênis no Clube “Piraquê” da Lagoa Rodrigo de Freitas, nem veleja no “Charitas”, em Niterói. Pense(m) nisso!

Sejam defensores da LIBERDADE, da DEMOCRACIA e da JUSTIÇA SOCIAL!

Sustentar o FOGO que a vitória da DEMOCRACIA é Nossa!

Adsumus

Anderson da Silva Almeida
Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco (1996-1997)
Curso de Formação de Sargentos Músicos – CFN (1999)
Reserva Não Remunerada (2010)
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (2014)
Professor Adjunto da Universidade Federal de Alagoas (2016…)
Autor dos livros “Todo o leme a bombordo… Editora do Arquivo Nacional, 2012 ” e “…Como se fosse um deles: Almirante Aragão, Eduff 2017.

Redação

8 Comentários

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  1. foi um texto maravilhoso que trata da realidade das FA, que se justifica injustamente, baseado em “hierarquia e disciplina” para todas as mazela que se pode existir…

  2. foi um texto maravilhoso que trata da realidade das FA, que se justifica injustamente, baseado em “hierarquia e disciplina” para todas as mazela que se possa existir…

  3. Sgt Anderson, meus parabéns pelo excelente trabalho, eu sou reservista do CFN, onde servi de 1962 até 1966. Fui transferido para a ilha das Cobras onde cheguei no dia 11 de março de 1964. Vivenciei todos os momentos daquela Madruga de 31 de março em que o Exército com apoio da FAB ameaçava invadir a Ilha das Cobras. Neste 31 de março de na Marinha do Brasil alguma coisa tenha de ser comemorado que seja a Traição que a Marinha sofreu do Exército brasileiro e da FAB. Eu tenho muito de ter servido na MB e que para é um grande privilégio ser reservista do CFN. “Uma vez Fuzileiros Sempre Fuzileiros”. ADSUMUS.

  4. O autor, lamentavelmente, mistura os grandes problemas políticos, econômicos e sociais pelos quais passavam o Brasil naquele período com as mazelas históricas existentes dentro da instituição marinha.
    Ou seja, está misturando alhos com bugalhos!!
    Em se tratando de alguém com formação acadêmica em história por universidades eivadas do marxismo cultural, não poderíamos esperar abordagem diferente.

  5. Agradeço a todos pelos comentários. Acredito que a Carta, escrita com uma carga emocional elevada e sem nenhuma preocupação estilística ou formal, tenha contribuído para uma reflexão sobre esse tema tão sensível e angustiante.

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