Com Bolsonaro até depois do fim… por Fábio de Oliveira Ribeiro

Sempre que se apresenta em público, Bolsonaro sorri. Ele acredita realmente que é um grande líder fazendo um trabalho excepcional?

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Com Bolsonaro até depois do fim…

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Peço ao leitor para ler com calma e atenção o fragmento abaixo:

“… Hitler tinha ouvido falar da morte infame de Mussolini. Creio que alguém chegou a mostrar-lhe fotos do cadáver nu, enforcado com os pés para cima no meio da praça do mercado de Milão. ‘Não quero cair nem morto nem vivo nas mãos do inimigo. Quando eu estiver morto, meu cadáver deve ser incinerado para ficar impossível de ser achado para todo o sempre’, determinou Hitler. E enquanto fazíamos nossas refeições mecanicamente, ser perceber o que estávamos comendo, falávamos sobre ser possível morrer em completa segurança. ‘O melhor é atirar na boca. O crânio estoura, não se percebe nada. A morte é instantânea’, nos explicou Hitler. Mas nós, mulheres, gelávamos diante dessa ideia. ‘Quero ser um cadáver bonito’, dizia Eva Braum, ‘vou tomar veneno’. E tirou do bolso de seu elegante vestido uma pequena cápsula de latão com um frasquinho de cianeto de potássio. ‘Será que dói muito? Tenho medo de sofrer’, admitiu. ‘E quanto eu já estou disposto a morrer de modo heróico, então que aconteça ao menos de modo indolor’. Hitler nos explicou que a morte causada por esse veneno era totalmente indolor. Por meio de uma paralisia do sistema nervoso e da respiração, a morte acontecia em poucos segundos. E essa consciência ‘consoladora’ levou a senhora Christian e a mim a pedirmos uma ampola dessas. Ele tinha recebido dez delas de Himmler, e quando o deixamos depois do jantar ele pessoalmente nos deu uma para cada uma com as palavras: ‘Sinto muito não poder lhes dar um presente de despedida melhor’. (Até o fim – os últimos dias de Hitler contados por sua secretária, Traudl Junge com a colaboração de Melissa Müller, Ediouro, Rio de Janeiro, 2005, p.  165/166)

Esse fragmento da obra de Traudl Junge é um resumo eloquente dos momentos finais do líder alemão. Durante algum tempo, a especialidade de Hitler foi a política, a propaganda ideológica, a construção de um mito nacional, a consagração militar e a vivacidade de alguém aparentemente predestinado a derrotar todos o tempo todo em qualquer lugar. Mas no momento em que conversava com a secretária ou na presença dela, ele se apresentava como um especialista na morte.  

Dar um tiro na boca, estourar os miolos e morrer instantaneamente? Robespierre fez isso e a única coisa que ele conseguiu foi despedaçar a mandíbula e sofrer dores lancinantes até ser finalmente decapitado na guilhotina. Antes e durante o Terror, o líder revolucionário havia se destacado pela eloquência. Em razão de sua incompetência ao cometer suicídio, Robespierre só conseguiu se privar da capacidade de falar enquanto aguardava sua execução. 

A morte por envenenamento é realmente indolor? Não necessariamente. A letalidade de um veneno pode diminuir em razão da temperatura e/ou das condições em que ele foi armazenado e transportado. Se causar uma paralisia apenas temporária da respiração, o cianeto de potássio pode deixar a pessoa que o tomou com sequelas permanentes. A sobrevivência nesse caso também seria bastante dolorosa.

Hitler era um enganador. Até o fim ele seguiu tentando enganar suas vítimas. ‘Sinto muito não poder lhes dar um presente de despedida melhor’, disse ele ao entregar cápsulas de veneno para a senhora Christian e Traudl Junge. Hitler poderia dar a ambas palavras de encorajamento: “Fiquem vivas. Vocês não precisam se suicidar. Ninguém poderá responsabilizar vocês por decisões políticas e militares que foram tomadas por mim e por meus generais.”  Mas ele não faz isso. 

Hitler aceitou a oferta das vidas daquelas duas mulheres inocentes como um tributo a ser depositado ao lado do seu cadáver. Ao se desculpar, ele o faz de uma maneira tipicamente irracional. Que diferença poderia fazer um presente melhor se ele também dessa à ambas ampolas de cianeto de potássio e informações sobre sua suposta capacidade de causar a morte indolor em alguns segundos?

Bolsonaro tem oferecido ao Brasil uma morte lenta e dolorosa: submissão aos interesses norte-americanos sem contrapartidas comerciais, desperdício de dinheiro público em campanhas de propaganda desnecessárias e até prejudiciais aos interesses nacionais, liberação do comércio de armas de fogo e de munição, destruição da natureza com consequências diplomáticas perversas, diminuição do salário mínimo, aumento do desemprego, diminuição dos investimentos em saúde pública, interrupção do pagamento do “auxílio emergencial”, inexistência de um plano de vacinação e, sobretudo, uma disposição macabra de fazer tudo o que pode para impedir o combate da pandemia a fim de transformá-la numa arma de destruição em massa.

Se levarmos em conta o texto de Traudl Junge, fica evidente as semelhanças e diferenças entre Adolf Hitler e Jair Bolsonaro. 

Ambos se apresentam como mensageiros da morte. Ambos não têm nada mais a oferecer aos cidadãos. Todavia, enquanto o líder alemão oferecia uma morte rápida e indolor. O führer bananeiro oferece uma morte lenta e dolorosa e quase certa por causa da propagação do vírus, da impossibilidade de ser vacinado e de obter tratamento médico necessário num sistema de saúde que está prestes a entrar em colapso por causa da pandemia e dos cortes orçamentários. Milhões podem morrer de inanição em decorrência da total ausência de renda ou de suporte social estatal.

Sempre que se apresenta em público, Bolsonaro sorri. Ele acredita realmente que é um grande líder fazendo um trabalho excepcional? Nos dias que antecederam seu suicídio, Hitler era um homem alquebrado que oscilava entre acessos de fúria e momentos de profunda prostração. O presidente brasileiro é rasteiro demais para cometer suicídio. 

Nossas instituições democráticas já ficaram tão depravadas, que uma condenação de Jair Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional (com uma evidente desmoralização completa e planetária do Sistema de Justiça brasileiro) é mais provável do que o Impeachment ou a Interdição dele. Alguns dos seguidores mais próximos do führer bananeiro parecem estar dispostos a segui-lo até depois do fim. Não creio que qualquer um deles será capaz de nos deixar um relato preciso e proveitoso da queda do tirano genocida brasileiro.

Fábio de Oliveira Ribeiro

2 Comentários

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  1. O sujeito tem o Q.I. baixo demais para perceber o que faz.
    Trata-se de burrice no mais alto grau.
    Perdão, no mais alto grau não. Nem isso o koiso lidera.
    No maior grau se situam aqueles que tendo um mínimo de inteligência, mesmo assim, o apoiam.
    O Brasil como conhecemos está sendo encerrado!

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