Como o capital vadio assalta o povo pela “financeirização”, por J. Carlos de Assis

Como o capital vadio assalta o povo pela “financeirização”

por J. Carlos de Assis

Alguns conceitos entram na linguagem comum de uma forma que mascaram inteiramente seu real significado. A palavra “financeirização” surgiu com um significado técnico definido, mas acabou ficando acima do entendimento até de muitos especialistas. Com o tempo muito se fala de “financeirização” mas poucos se dão conta do que se deve entender por isso efetivamente. No entanto, o claro entendimento desse conceito é de extrema importância para a luta política contra o capital financeiro especulativo, ou vadio.

Vou me limitar inicialmente a um único exemplo pelo qual acredito possa ser bem compreendido o conceito. Darei um exemplo pessoal. Há poucas semanas comprei uma televisão numa loja do Catete, no Rio. Fiz a compra  burocraticamente, me valendo apenas das informações do vendedor. Na hora de pagar, eu estava em condições de fazê-lo à vista. Ele, porém, me ofereceu a pechincha de pagar oito vezes sem juros pelo valor de à vista. Distraído, autorizei imediatamente o faturamento da tevê a prazo.

Ora, sou economista com mais de 40 anos de experiência. Sei exatamente distinguir uma compra a prazo, obviamente com juros, de uma compra à vista,  com desconto dos juros. Entretanto, fiz uma compra totalmente imbecil. Apenas me limitei a perguntar ao devedor se havia desconto na compra à vista. Ele  disse que não. Eu deveria tomar a única providência racional, ou seja,  desejar-lhe boa sorte e procurar outra loja. Entretanto, esse procedimento parece estar disseminado no comércio das grandes capitais. Não é possível  escapar dele.

A esse processo de espoliação da clientela se chama “financeirização”. O sistema financeiro se apropria de parte do faturamento do comércio, no mundo real, mesmo quando isso é absolutamente desnecessário do ponto de vista do comprador. Este último é induzido a pagar juros que são sobrepostos aos preços das mercadorias pelos bancos ou pelas financeiras. As taxas de juros, como regra, são exorbitantes, capturando grande parte da mais valia produzida pela sociedade em favor do capital financeiro vadio.

Uma outra forma de “financeirização” com grande repercussão social é o crédito consignado. Apresentado, no Governo Lula, como uma forma de facilitar o crédito para os pobres, tornou-se na verdade uma forma de facilitar a apropriação segura pelos bancos de parte do dinheiro de aposentadorias, pensões e salários, sem risco. Foi por isso que os bancos acolheram com entusiasmo esse sistema, na medida em que o devedor fica prisioneiro do contrato e não pode parar de pagar, mesmo quando está morto de fome.

É claro que há mecanismos de “financeirização” mais complexos, sendo o principal deles aquilo que Maria Lúcia Fatorelli chama o sistema da dívida. Nesse caso, o que temos é um mecanismo pelo qual credores da dívida pública, pressionando por  taxas de juros de agiotagem,  acumulam fortunas gigantescas apenas no campo das finanças, sem produzir um alfinete. Só no ano passado e neste ano, o Governo doou a  esses especuladores mais de 1 trilhão de reais em cada ano, sem nenhuma contrapartida de produção ou serviço.

 
Redação

8 Comentários

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  1. Caro J Carlos de Assis
    Não

    Caro J Carlos de Assis

    Não sei quanto ao uso do cartão, mas se você usar o carnê, pague antecipado as prestações, e haverá uma queda no preço total, mas não sei se funciona, ainda nos dias de hoje.

    Saudações

  2. Sou meio avesso a compras pela internet. . .

    Sou meio avesso a compras pela internet, já comprei algumas vezes, mas com receio de roubarem dados do cartão e coisa parecida, mas meus filhos compram tudo pela internet e sempre com preços bem abaixo dos praticados pelas lojas e grandes magazines, talvez ainda leve algum tempo, mas o comércio está cada dia mais virando virtual, em grandes cidades já é possível fazer compras de mercado pela internet e entregam em sua casa.

  3. Mecanismos mais complexos

    E BINGO!!!!

    “É claro que há mecanismos de “financeirização” mais complexos, sendo o principal deles aquilo que Maria Lúcia Fatorelli chama o sistema da dívida. Nesse caso, o que temos é um mecanismo pelo qual credores da dívida pública, pressionando por  taxas de juros de agiotagem,  acumulam fortunas gigantescas apenas no campo das finanças, sem produzir um alfinete. Só no ano passado e neste ano, o Governo doou a  esses especuladores mais de 1 trilhão de reais em cada ano, sem nenhuma contrapartida de produção ou serviço.”

    Taí a resposta para o sucesso do “governo popular” do nosso querido presidente.

    Quanto maior a crise mais lucrativo o investimento para quem compra títulos do governo.

    O governo NÃO PODE DAR CERTO.

    Quanto mais endividado mais juros vai ter que pagar para captar dinheiro.

    Se o desenvolvimento voltar adeus lucro fácil e vagabundagem capitalista.

  4. Sobre o capital vadio

    Sendo você economista sabe como ninguém que não há, sob nenhum aspecto, transação econômica em que o capital vadio não esteja.

    Tanto é que a própria lei se encarrega de determinar o quanto de dinheiro nosso podemos portar impunemente ou sacar diariamente do banco depositário. (Aliás, pra que precisamos de bancos?)

    Há alguns anos se alguém me tivesse dito isso eu me escandalizaria.

    Mas sorrateiramente, crise após crise, você não pode comprar um café sem deixar uma moeda para o governo e outra para o capital vadio – a comissão, o jurinho.

  5. É monstruoso, um capitalismo

    É monstruoso, um capitalismo “mais selvagem” que o capitalismo baseado no binômio produção / salário, porque no segundo, você tem a possibilidade de brigar por direitos, salários, há coisas e processos concretos para se discutir, brigar, etc.    Na especulação, não há “nada”, é como uma nuvem de ficção, onde um dinheiro parasitário engorda, arrancado na verdade, dos que produzem algum bem ou serviço……  É quase impossível pensar num jeito mais injusto, fácil e hediondo de se explorar o mundo todo…….

  6. Contradições
    No Brasil o banco central, que determina a taxa de juros, alega que aumenta esta taxa para controlar a inflação.

    O controle da inflação seria sua principal missão institucional, infelizmente.

    O aumento dos juros enxuga os meios circulantes que migram para os títulos públicos com os quais o capital obtém maior remuneração.

    As contradições desse mecanismo abundam:

    O dinheiro que então seria empregado, teoricamente, na produção, fica a disposição do governo que pode aumentar seus gastos e com eles a dívida pública.

    Mas endividamento público aumenta a inflação.

    Inflação ocorre quando a procura por bens de consumo é maior do que a oferta.

    Dinheiro desviado da produção pela compra de títulos públicos diminui a produção, ou seja, a oferta de artigos de consumo e isso aumenta a inflação.

    Diminuição da produção, do consumo e dos meios circulantes diminui a arrecadação do governo, o que leva ao aumento da dívida pública.

    Noves fora, a economia capitalista é uma porcaria sem o menor sentido mas os capitalistas sempre saem lucrando.

  7. Grandes lojas

    Casas Bahia, Ricardo Eletro e outros são agentes bancários que embutiram no comercio o ganho financeiro das compras de milhões de brasileiros. O Ricardo não prega um único prego nem solda cabo elétrico, mas serve de intermediário entre o produtor esfoliado e o consumidor explorado, fazendo o papel de tecla SAP entre o mundo produtivo e consumidor e o financeiro.O povo paga 1 pelo litro de leite e mais 2 pela “marca”. Paga 1 pelo jeans fabricado na “Santista” mais 5 ou 10 vezes mais pela “marca”. Isso é financeirização, a sublimação das relações de capital e trabalho, deixando empresário e consumidores abraçados na miséria e exploração enquanto o capital financeiro fica numa nuvem, como as taxas do UBER.

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