Conhecemos o inimigo?, por Ricardo Cappelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

 
Conhecemos o inimigo?
 
por Ricardo Cappelli
 
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.” Sun Tzu, general, estrategista e filósofo chinês.
 
O candidato que empunha a bandeira nacional é o que apresenta um programa comandado por um economista neoliberal. “Nosso Trump dos trópicos” é nacionalista ou entreguista? 
 
 Junho de 2013 empurrou o Brasil para a direita. Os Tucanos até tentaram surfar. Foram expulsos das passeatas em São Paulo. No Rio, a esquerda também tentou levantar suas bandeiras. Foi dissuadida pela massa enfurecida gritando “partido aqui não!”.
 
Bolsonaro se construiu neste ambiente. De negação da política. Sua imagem-símbolo reúne um conjunto de paradoxos complexos. 

 
Uma parte de seus votos vem de uma extrema direita que perdeu a vergonha de se manifestar. Tem como espinha dorsal uma classe média cada vez mais insegura e apavorada com seu esmagamento econômico-social. Fizeram do ódio a solução para suas frustrações pessoais.
 
Outra parte dos bolsonaristas são provenientes do movimento anti-PT. A direita transformou o partido no responsável por todos os males nacionais. Essa parcela não é de extrema direita, mas adere para evitar o “mal maior com a volta dos vermelhos”.
 
O terceiro pilar é o “voto Tiririca”. Cansado de tudo e de todos depois do irresponsável massacre promovido contra a política, uma parte do eleitorado aderiu ao “se vão todos” e decidiu avacalhar. Não são de extrema direita e não são anti-PT. São contra tudo e todos. Querem dar um soco no estômago do sistema.
 
Alguns elementos complementam a formação desta liga perigosa. A violência crescente pavimenta o discurso do “quero minha arma também”. A agenda multiculturalista “moderninha” da aliança Esquerda-Globo-Fundação Ford pavimenta o caminho do Capitão com os evangélicos e outros setores religiosos. 
 
Quando Ciro diz, e é aplaudido pela esquerda, que “demitiria e prenderia” o comandante do exército por algumas declarações desastradas, um homem com uma doença degenerativa numa cadeira de rodas, o bufão vibra e avança casas no meio militar dilapidando a autoridade dos que ainda sustentam a defesa da constituição. 
 
Na guerra, princípio correto descolado da conjuntura é uma tremenda estupidez.
 
Por fim, a associação simbólica mais perigosa. “Ele” não fala direito, é direto e reto, muitas vezes grosseiro. Não tem curso superior, se comporta como um homem simples e comum, longe de formalismos e academicismos. É perseguido por todo sistema. Todos os partidos e toda grande mídia batem nele. Viu a capa da Veja? Tentaram até matá-lo.
 
Na cabeça do povo a semelhança com Lula não é mera coincidência. No simbólico, dois perseguidos pelo sistema. Não por acaso ele entrou nas periferias e conquistou parte do lulismo. O próprio ex-presidente reconheceu o perigoso avanço em conversa com Haddad. 
 
No segundo turno os profissionais entrarão em campo e atuarão na TV em igualdade de condições. Os bilhões das multis do petróleo vão entrar. Nas redes a CIA/NSA vai deitar e rolar. 
 
Temos uma crise econômica profunda, a política fragmentada e desmoralizada e as instituições esfarelando em praça pública. As condições políticas e sociológicas para uma vitória das sombras estão dadas.
 
O ponto fraco desta catarse social é a falta de unidade programática do fascismo. Calcado no ódio, é muito mais conseqüência do que causa. É um ajuntamento contraditório incapaz de amalgamar uma base social por muito tempo. Seu destino natural é o isolamento. A saída autoritária o passo seguinte. Nosso desafio é antecipar a divisão desta base isolando-o por dentro.
 
O crescimento da candidatura petista criou um perigoso clima de já ganhou na esquerda. O monstro vai sair do hospital mais forte do que entrou. Haddad precisa ampliar. Sem abrir mão do vermelho, vestir e disputar o verde e amarelo. Abraçar o quanto antes a bandeira nacional.
 
A batalha será duríssima. Considerar as lições do general chinês parece ser um bom caminho.
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Observação:

    “…o caminho do Capitão com os evangélicos e outros setores religiosos…”. Evangélicos não são uma agremiação única como por exemplo a Igreja Católica Romana, Ortodoxa Russa ou Grega. Particularmente vejo que há 3 ramificações: As Evangélicas tradicionais como Batistas, Presbiterianos, Luteranos, Episcopais, etc.; as Pentecostais históricas como Assembléia de Deus e as Neopentecostais que destas últimas uma parte pequena mas figura fácil na mídia (própria ou de terceiros) abraça – na espectativa de algum ganho pessoal – é que apoia o Bolso(naro). Das tais boa parte ve-se envolvida em alguma acusação de malversação não bem esclarecida (Malafaia é um exemplo). Soube de um manifesto das Evangélicas tradicionais, que repudiavam o “uso do nome de Deus em vão” (nas campanhas) e a presunção de “um governo em nome de Deus”.

    1. Sempre que um determinado

      Sempre que um determinado grupo decide apoiar uma pauta haverá os dissidentes. Mas, no somatório geral, podemos afirmar que os evangélicos apoiarão o fascismo e que isso contabilizará como capital simbólico. Os centros de poder evangélicos já se decidiram e a população evangélica, que majoritariamente foi ludibriada pelo discurso moralista, também. Ainda que haja muitos que estejam conscientes da trama e que lutem o bom combate, infelizmente, até por conta da ignorância involuntária do povo, a parcela maior rendeu-se, e é ela que decide.

      1. Valeria…

        …uma verificada nos levantamentos de intenção de votos, para confirmar ou não a influência dos Moralistas amorais (DD por exemplo). A ver…

  2. Manipulações Petistas

    O Ricardo Capelli tenta ridicularizar a afirmação de Ciro de que demitiria o Comandante do Exército.

    Ridiculo é atacar o adversário político aceitando como um coelhinho o desrespeito à Constituição, apenas porque trata-se de um general.

    Ocorre que a realidade é mais forte que as manipulações sectárias. No dia seguinte à fala de Ciro, o Presidente do Uruguai mandou prender o comandante do Exército uruguaio porque fez comentários políticos pela imprensa.

    1. Ricardo Cappelli é cirista roxo, Marcos

      Ricardo Cappelli é cirista roxo, Marcos

      Portanto, ele não está ridicularizando Ciro Gomes. Releia o trecho que lhe fez cometer o equívoco: “Quando Ciro diz, e é aplaudido pela esquerda, que “demitiria e prenderia” o comandante do exército por algumas declarações desastradas, um homem com uma doença degenerativa numa cadeira de rodas, o bufão vibra e avança casas no meio militar dilapidando a autoridade dos que ainda sustentam a defesa da constituição.”

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador