COVID-19 no Brasil: o escândalo da morte real e da morte aparente
por Aracy P. S. Balbani
“Da morte real e da morte aparente” foi a tese de doutoramento defendida em 1858 pelo General de Brigada Médico Severiano da Fonseca, irmão dos Marechais Hermes e Deodoro da Fonseca e patrono do Exército Brasileiro.
Passados 163 anos, o título da tese serve como uma luva à situação escandalosa da Saúde no país. Tem-se o estorvo cinco estrelas de encontrar uma recolocação para o General Eduardo Pazuello, enquanto o cardiologista Marcelo Queiroga se submete ao compasso de espera pela publicação oficial de sua nomeação como Ministro de Estado.
Mas o tempo não para. No momento em que o mais alto cargo da Saúde no país permanece enrolado, atingimos a marca dolorosa e catastrófica de quase 300 mil mortes pela COVID-19. Está armada a bomba-relógio da falta de insumos para assistir os doentes e do colapso de hospitais públicos e privados em praticamente toda a Federação.
Dado que, em outubro do ano passado, acendeu o alerta vermelho da segunda onda de COVID-19 no Hemisfério Norte, a pergunta que nem a Lei de Segurança Nacional jamais conseguirá calar é: nenhuma autoridade planejou estratégia de enfrentamento da segunda onda em solo pátrio?
Às vésperas das eleições municipais de 2020, quantos prefeitos que disputavam a reeleição, quantos outros candidatos às prefeituras, quantos governadores, quantos membros do alto escalão federal e estaduais, quantos parlamentares cogitavam ter de enfrentar a segunda onda por aqui? Quantos estavam informados, em tempo real, sobre a iminente comercialização de vacinas contra o coronavírus? Quantos tinham dados precisos sobre a produção e a logística de distribuição de oxigênio medicinal no Brasil?
Quantos se interessaram pela questão da oferta de sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares para uso em intubação nas UTIs? Até os brasileiros leigos já tinham tomado conhecimento da saturação dos leitos de UTI para tratamento de COVID-19 na Europa em novembro do ano passado.
O sofrimento dos doentes de COVID-19, o desespero de seus familiares, a indignação dos profissionais de saúde que encontraram somente ouvidos moucos e cegueira moral em resposta aos apelos por planejamento e ação contra a pandemia refletem a morte política aparente de inúmeras figuras públicas brasileiras. Porém, as mortes registradas na pandemia, certamente subnotificadas, são reais. Não são números. São seres humanos vitimados pelo coronavírus.
Segundo uma sobrevivente da COVID-19, a dor de perder um ente querido para essa doença não passa nunca.
Que não passem impunes os responsáveis por essa tragédia humanitária. Quem está se doando para manter outros brasileiros vivos e legar um exemplo digno à sociedade nada teme. A vida sempre vale a pena. Temos confiança de que ela vai triunfar e reescrever a nossa História.
Aracy P. S. Balbani é médica.
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