De volta para o futuro?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A esquerda parece acreditar numa transição eleitoral tranquila. Todavia, tragédias acontecem justamente quando alguns são movidos pelo medo (e pelo ódio) e outros não tomam as cautelas necessárias.

De volta para o futuro?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Durante a Ditadura existia censura e verdade oficial partilhada por uma maioria artificialmente criada pelas redes de TV e pelos jornais. Esse mundo era sustentado pelo sucesso econômico e pela violência política que silenciava a oposição e esmagava reivindicações trabalhistas.

Os militares viviam preocupados com o que eles chamavam de “submundo subversivo”, em que uma alternativa de poder era criada por informações que circulavam fora do enquadramento oficial. Sindicatos, partidos proibidos, igrejas eram locais de reunião e de discussão.

Quando o país foi redemocrafizado, um novo consenso começou a ser criado pela imprensa livre. Militares saudosistas do regime tirânico ficaram confinados no “submundo dos quartéis”. Lá eles lamberam suas feridas, ruminaram seus ódios e os transmitiram às nova geração de cadetes.

A crise fomentada pela imprensa que derrubou Dilma Rousseff levou os militares novamente ao poder. Mas essa ressurgencia não se fez acompanhar de um regime semelhante ao criado em 1964. Os militares saíram dos quartéis sem planos definidos e rapidamente perderam apoio popular.

A conjuntura interna e externa não são favoráveis às aventuras políticas imaginadas ou desejadas por Bolsonaro, Mourão, general Heleno, etc. Tudo o que eles têm feito é vomitar ódio, criar cenários improvisados e reagir às adversidades de um contexto que não conseguem redefinir.

O sucesso de Lula dentro é fora do Brasil é um complicador. Ele pode levar ao desmoronamento eleitoral instantâneo desse submundo elevado ao poder que provocou o genocídio pandêmico. Responsabilidades serão cobradas, condenações não poderão ser evitadas.

Em 2018 os militares tinham esperanças. Em 2021 eles só podem ter medo. Agora a questão colocada é diferente. Não temos como saber se os maníacos de farda serão mais perigosos ou serão menos perigosos ao ver seu projeto político desmoronar por causa de sua própria incompetência.

A esquerda parece acreditar numa transição eleitoral tranquila. Todavia, tragédias acontecem justamente quando alguns são movidos pelo medo (e pelo ódio) e outros não tomam as cautelas necessárias. Mobilizar a população em torno da democracia é uma tarefa essencial na atualidade.

Se ganhar a eleição, Lula terá que lidar com uma situação mais delicada que aquela que existia em 2002. Mas ele também terá uma excelente oportunidade para desmantelar a ideologia em torno da qual nosso Exército foi organizado para que outra possa ser criada com a finalidade de libertar definitivamente o Brasil de interferências militares desastrosas e assassinas na arena política.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Fábio de Oliveira Ribeiro

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